Ao ler o título do livro parti do princípio de que teria em mãos uma história triste. A proposta que a obra traz me encantou de forma diferente, pois assim como a personagem eu lido com a dor da perda, faz pouco tempo que perdi meu pai e acreditem: não há dor como essa!
Partindo para análise da obra, o enredo é interessante, mas peca em alguns quesitos que apontarei posteriormente. Conhecemos a história de Isabel, uma garota de vinte anos, que após a perda do namorado, assassinado, resolve mudar de vida e ares e parte para uma nova cidade. Em busca da resolução para seus conflitos ela conhece novas pessoas que passam a ser sua família e se envolve com os problemas delas também, como a busca pelo filho perdido do dono do café e a vida precária com a qual vive Cristal e sua filha, Catherine. Temos também a aparição de Vítor. Um rapaz que mexe com seus sentimentos e a deixa culpada por acabar se apaixonando novamente. Temos várias situações que se misturam a temática do livro que é a superação de Isabel e o fato de ela refazer sua vida.
Primeiramente, julgo admirável a postura de Isabel, protagonista do livro, de sair de uma cidade que não lhe traz lembranças boas e principalmente que manche sua imagem. Escolher um novo lugar para fincar raízes é algo que todos podem fazer, desde que se tenha força de vontade para lutar. A obra traz uma verossimilhança muito grande em alguns aspectos, como nas pessoas em que a personagem encontra em sua nova vida. De fato, alguns encontros são rápidos e não são tão explicados, mas se analisarmos friamente, quem quer ficar sozinho aonde não se conhece ninguém? O viável é fazer amizades. E é nesse momento em que conhecemos um dos personagens mais cativantes da história, Félix, o dono do café. Isabel logo nutre um sentimento de compaixão e amizade por ele, assim como nós.
“O incerto é tão fascinante que deve ser encarado como uma grande aventura.”
Não se determina que a personagem seja rica, mas fica subentendido que Isabel tenha boas condições financeiras, haja vista que tenha uma casa, se sustenta, e contrata uma assistente, sem sequer ter um trabalho. Cristal e Catherine, mãe e filha respectivamente, entram na vida de Isabel para iluminar um caminho obscuro, o da depressão em que a garota se encontra, por ter perdido o grande amor de sua vida. Aí entra uma das temáticas da histórias: a perda. Isabel vê o namorado ser assassinado e sem chão ou objetivos muda de cidade e de vida, a fim de superar o que julga insuperável. Tem um diálogo entre ela e Luiz, seu grande amor já falecido, que me tomou de forma especial e senti a paz que Isabel sentiria.
“_ Preciso, pela última vez, pedir que deixe nossa história continuar viva através de outra pessoa. Mantenha nossa história de amor e todas as outras vivas... Sempre estarei com você, o amor é nosso elo, nossa ligação. O amor que transcende vida... e morte. Este é o verdadeiro amor. Aquele que deixa livre e quer a felicidade, sempre...”
O fato, porém, é que tudo acontece rápido demais. Deus, como senti falta de flahsbacks! Por que dessa maneira teríamos como entender realmente os sentimentos da protagonista e não teríamos a impressão de que tudo fora uma crise dos vinte anos. Tudo acontece rápido demais e, o tempo cronológico, apesar de estar explicitado que são por volta de dois anos, nada mais parecem que dias ou semanas. Isso se deve ao fato de acontecerem coisas demais, em tempos curtos e todas somente com Isabel como centro de todas as atenções. Pense em um assassinato, a busca por uma criança desaparecida, um amor nascendo em seu coração, a descoberta de uma paternidade jamais imaginada, e vários outros acontecimentos.
Em minha opinião esses são os fatos em que a autora peca, mas se você quer ler uma história bonita, com uma personagem corajosa e, que acima de tudo, tem coragem para enfrentar seus piores medos e ainda conta com a ajuda de personagens, que muitas vezes se parecem com nossos amigos, vai adorar Cidade dos desgraçados, que de desgraçados não tem nada. São pessoas lutadoras, dignas de respeito e que foram pegas pelas adversidades da vida, mas e quem não é? Você e eu já vivemos momentos difíceis e vamos viver muitos até o fim de nossas vidas, e o que de fato vale a pena é saber que em todos os lugares pessoas lutam para viver e que ainda há finais felizes e o melhor: não são apenas nos contos de fadas.