Por Bruno: Eu devo confessar que estava muito curioso para ler este livro. E começo esta resenha dizendo que, sem dúvida alguma, todas as minhas maiores expectativas foram superadas. O livro é muito bem escrito, foi muito bem trabalhado e a leitura é muito agradável e divertida. Totalmente recomendado! Ou, como diria José Dias, “recomendadíssimo”.
Estava com certo receio antes da leitura, não queria começar o livro com preconceitos e tinha minhas dúvidas se a historia fosse me convencer. Não conseguia imaginar a junção de um “Clássico dos Clássicos” com um tema tão controverso. Mas o autor foi muito feliz na sua adaptação e o resultado é uma obra que vai muito além do tradicional enigma de Capitu, da traição, ou não, dela com o melhor amigo de Bento Santiago; misturando ficção científica, alienígenas, andróides e muitas conspirações na dose certa e nos momentos oportunos. E o mais interessante é que, apesar de ser considerado um livro juvenil, ele tem o poder de envolver pessoas de diferentes faixas etárias.
“Foi a primeira vez que vi os ombros nu de Capitu. E em ambos os ombros, havia uma cicatriz. Mais que uma cicatriz, uma fenda vermelha, que se assemelhava a um corte profundo. Não, melhor ainda. Eram como as guelras nas laterais de um peixe. (...) Não, eu não poderia viver sem aqueles olhos, sem respirar aquela vertigem. Que me importavam as cicatrizes? Defeitos, todos temos. Alguns mais à vista, outros mais bem escondidos. Eu não possuía marcas de nascença nos ombros, mas quem saberá quais fendas se ocultavam nas profundezas de minha alma?”
A obra integra a coleção “Clássicos Fantásticos”, publicado pelo selo Lua de Papel, da Editora LeYa.
Dom Casmurro, de longe, é um dos melhores livros que já tive a oportunidade de ler. Ele permanece no meu “Top Três” há muito tempo e, pelo menos uma vez por ano, releio-o. E, não é a complexidade do clássico que me encanta, mas a simplicidade que se esconde nos detalhe da obra. Cada vez que leio o livro, acabo percebendo coisas que nas leituras anteriores me passaram despercebida – algumas vezes acho que Capitu realmente traiu Bentinho, e que ele é um idiota colossal; outras eu acho que ele era tão imaturo e inseguro que criou toda essa história, destruindo sua alma gêmea e seu melhor amigo; e ainda, às vezes acho que ele é tão louco e solitário que resolveu inventar toda uma história para que o final de sua vidinha se tornasse um pouco menos medíocre. Machado de Assis é genial. Dispenso maiores divagações.
Eu esperei um livro mais infantil, carregado de simbolismo, humor leve e despretensioso. Encontrei um livro maduro, carregado de referências a Obra Original, ao Autor, e o mais surpreendente de todas – referências de obras e autores clássicos da ficção científica, e me permitam o delírio, até mesmo de filmes e séries de televisão. Sem contar que o livro equilibra muito bem o humor e o drama. Não é o tipo de livro que vai te fazer morrer de rir, e não, você não vai se afogar com suas próprias lágrimas durante a leitura. Cada palavra vem na medida certa!
“Nunca soube que o nome do Manduca era Joaquim M. Machado. Fiquei me perguntando o que seria aquele M do meio.”
Comentar o enredo do livro é um tanto quanto complicado, pois é quase impossível fazê-lo sem spoilers. O que estragaria totalmente a dinâmica da leitura. O que eu gostei muito era identificar as partes da Obra Original e tentar de alguma forma ligar com a liberdade criativa do autor Lúcio Manfredi. As alterações no enredo começam de forma sutil e a trama vai crescendo até se tornar algo completamente novo.
O que eu mais gostei do livro foi o clima de conspiração que permeia as páginas, as ligações, e as explicações e o toque de mistério. A narrativa que te deixa da dúvida de quem é extraterrestre e quem não é. Destaque para os “anunaque”, os “aquepalo” e principalmente a “Legislatura”. A nova caracterização de Capitu deixou-a muito mais simpática e cativante. Outro ponto importante a mencionar é que mesmo quem não leu o Clássico do Machado de Assis, pode sem prejuízo algum, ler esta adaptação. É até uma oportunidade para conhecer a Obra.