quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Resenha: "Nunca mais Rachel" (Lisa Genova)

Por Sheila: Neste novo romance de Lisa Genova (a mesma autora de "Para sempre Alice") Somos apresentados, já nas primeiras páginas, à sua protagonista Rachel Nickerson - ou melhor dizendo, aos sonhos que esta vem tendo já a algum tempo e que, passados alguns acontecimentos, passa a encarar como sonhos premonitórios, que vinham insistentemente lhe dizendo o que em hipótese alguma queria ouvir.

Afinal de contas, Rachel não possui tempo para ouvir algo tão trivial quanto um sonho: ela é vice-presidente de recursos humanos de uma conceituada empresa, trabalha mais de 70 horas por semana, esposa de Bob e mãe de três crianças, Charlie de 7 anos, Lucy de 4 e Linus com apenas 9 meses. Além do trabalho, precisa ver-se às voltas das roupas, comida, escola, creche, futebol, aulas de piano.

Além disso, a empresa de Bob vem sofrendo alguns cortes, e Rachel precisa mais do que nunca preocupar-se em manter o seu emprego, e mais, subir na carreira, já que ela e Bob possuem uma hipoteca para pagar, além de créditos estudantis por sua formação em Harvard. Apesar de mal ter alguns segundos para respirar, Rachel ama sua vida, mesmo que as vezes isso a faça sentir-se um pouco culpada quando pensa no tempo que falta para dedicar aos seus filhos.
Essa é uma manhã surpreendentemente quente para a primeira semana de novembro ... sem dúvida por causa do tempo, o playground da escola está cheio de crianças alvoroçadas, o que não é típico pelas manhãs. Isso chama a atenção de Charlie e ele dispara.
- Charlie! Volte aqui!
Ele não parece me ouvir, mas as mães próximas a mim ouvem. Usando agasalhos de ginástica de marca, camisetas e jeans, tênis e tamancos, essas mães parecem ter todo o tempo do mundo para se demorar no playground da escola de manhã. Sinto a censura em seus olhares e imagino o teor geral dos seus pensamentos.
No entanto isto tudo esta prestes a mudar já que Rachel, em meio a um desses dias em que cada milissegundo conta, acaba capotando o carro em um dia de chuva por estar procurando seu telefone celular enquanto dirigia. De uma ex-aluna de Harvard bem sucedida e ascendendo na carreira, Rachel vê-se presa a uma cama de hospital, diagnosticada com algo que até então nunca ouvira falar: Negação esquerda, uma lesão que a impede de entrar em contato com toda a parte esquerda do mundo.
Dr Kwon chega para dar uma olhada em mim antes de suas rondas.
- Como estava seu almoço? - pergunta.
- Bom. (...)
- E se eu lhe disser que há uma barra de chocolate no seu prato? - diz ele sorrindo.
Tenho que reconhecer que ele acertou na mosca. Chocolate é sem sombra de dúvida a isca certa para usar comigo. Mas não preciso de incentivo. Estou totalmente motivada. Não é que eu não esteja tentando ver o que ele vê.
- Não o vejo.
Talvez eu possa senti-lo. Passo a palma da minha mão em toda a superfície do prato limpo, branco. Não há nada. Nem um grão de arroz, nem um pedaço de chocolate.
- Tente virar a cabeça para a esquerda.
Olho fixamente para o prato.
- Não sei como fazer isso ... intelectualmente, compreendo que o prato tem um lado esquerdo, mas ele não faz parte da minha realidade. Não posso olhar para o lado esquerdo do prato por que ele não está lá. Não há lado esquerdo. Tenho a impressão de estar olhando para o prato todo. Não sei, é frustrante, não consigo descrevê-lo.
Agora, essa mulher extremamente independente e competitiva, terá que lutar contra si mesma e sua deficiência, que a impede não só de ver e perceber seu lado esquerdo - perna, braço, mão, olho - como o lado esquerdo de um quarto ou, até mesmo, do seu prato de comida. Sem prazos, respostas ou métodos que possam fazê-la retomar sua antiga vida, Rachel começará a trilhar a árdua estrada da reabilitação, não só de seu corpo, mas de toda essa vida onde caminhar até e geladeira passa a ser uma grande batalha.

Além disso, terá que lidar com o recente diagnóstico de TDAH - Transtorno de Déficit de Atenção - de seu filho Charlie e sua difícil relação com sua mãe, que reaparece em sua vida após quase 30 anos de ausência, reabrindo velhas feridas que Rachel considerava há muito cicatrizadas.

- Você precisa começar a aceitar a sua situação.
- Hum. Você está falando sobre o meu jeans ou sobre alguma outra coisa?
Não é possível que ela, entre todas as pessoas, pense que vai me aconselhar a aceitar a situação. Quando foi que ela aceitou sua própria situação? Quando foi que ela me aceitou? De repente, e pára a minha surpresa, estou profundamente emocionada, como se todos os sentimentos complicados que já alimentei em relação à minha mãe estivessem repousando, sem serem examinados ou perturbados; como se ela tivesse acabado de soprar uma grossa camada de poeira sobre uma mesa no sótão, intocada durante trinta anos, lançando cada partícula de dor em turbulento movimento.
Uma história comovente, que nos faz pensar a respeito de para onde estamos indo em nossas vidas: como serão nossas escolhas? Quais são nossas prioridades? O que realmente nos faz feliz? O livro nos convida a descobrir, junto com Rachel, que as vezes só damos real valor às coisas quando as perdemos; e que, também algumas vezes, só poderemos perceber isso quando nosso bem mais precioso - a vida - é revirada de ponta cabeça. Recomendo.

 

9 comentários

  1. Só de ler a resenha já estou doida para ler o livro. Despertou-me a curiosidade de ver como a Rachel vai se sair deste estado estranho que se encontra. Quero ler o livro.

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  2. Amei a resenha!

    Fiquei super interessada do livro. A doença é incomum e estou curiosa para saber como Rachel irá lidar com todas essas dificuldades!

    Beijosss

    Lana
    Hunters Culture

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  3. Gizeli Regina Meisterquarta-feira, outubro 24, 2012

    Uau!!!!Não consegui descudrar os olhos da resenha até o fim imagina do livro!!! Já adicionei na minha estante do Skoob. Minha Nossa Senhora da Literatura, dai-me tempo e dinheiro pra tantos livros maravilhosos....

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  4. Negação esquerda, isso existe, de verdade? Fiquei bem curiosa por esse livro mas antes de mais nada preciso pesquisar isso. Vamos ao Google.

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  5. Nossa, pela sua resenha pude perceber que o livro parece ser bem interessante! O assunto é bem interessante, vou procurar ler o livro, me chamou bastante atenção!

    Beijos.

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  6. Bem diferente essa história, gostei, parece ser bem emocionante.

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  7. Nossa, parece ser um história bem emocionante, nunca li um livro da autora, mas gostaria.

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  8. Charlie, Lucy e Linus? HAHAHAHHA QUE LIIIIIIIIIINDO!!

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  9. Esse livro deve ser maravilhoso, li o "Para sempre Alice" da autora e é sensacional! Quero comprar esse agora :D

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Ana Liberato