Existe?
Existe!
Olá, amigos leitores. Como estamos?
Qual seu livro de bolsa, de cabeceira? Alguém com um clássico aí? Se sim, não
deixem de ver a chamada de entrevista de leitura do Littera Feelings (lá no
final) o/
Como bem tive a previsão no post passado, tempo para minhas leituras ficou bastaaaaaante reduzido. Tipo muito
*choremos* Tô evitando passar pela minha prateleira, que é pra não salivar (ó
vida) Pior que meus estudos envolvem livros de literatura, e, vê-los espalhados na
minha mesa, é sacanagem
Pois então, enquanto uns estão em pause de leitura (bate aí!), outros estão por aí desfrutando, e mandando brasa em soltar spoilers!
Não sei lá fora, mas aqui no Brasil
temos uma cultura de spoilers. Vai
dizer que não sabe sobre o doutor Jacques, quem vai arrancar dinheiro da Pilar,
ou sobre a Perséfone ficar com aquele outro médico, ou que Aline vai ser vaca
de vender o próprio filho? Tá estampado nas bancas por aí, seções inteiras
sobre os próximos capítulos das novelas, sem mencionar os próprios resumos.
Vai dizer que não ficava chateada(o)
quando aparecia uma caixa em branco na página com um “este capítulo não foi disponibilizado
pela emissora” ou que nunca deu aquela espiadinha básica na banca e ficou
esperando anunciarem o barraco do ano, que faz até taxista botar televisão no
carro pra não perder o alvoroço?
Mas isso é novela, né, o nível de
alcance e discussão é muuuuuuito maior. Independente de você acompanhar, é
claro que sempre vamos ouvir um papo ali e acolá, os acontecimentos das tramas se
espalham fácil, nas redes sociais tem piadas e bordões, fazemos cena de “eu
sabia, eu sabia” quando tal coisa acontece e ainda temos aquela cara (de pau?)
de surpresa perante a tv. Agora, se tratando de algo mais fechado, como filmes,
séries e livros... bom, a coisa costuma
ficar séria.
Será mesmo o spoiler o monstro do entretenimento? Ou um daqueles como em Monstros S.A., que podem ser nossos... amigos?
(Não olhe, alerta de spoiler. Por favor, desvie o olhar.)
De acordo com uma pesquisa da
Universidade da Califórnia (Revista Super Interessante), “saber spoilers faz com que gostemos mais das histórias”. Para os
pesquisadores, o enredo seria quase irrelevante – como um pretexto – sendo o
importante a forma como tudo é contado, além de que simplifica a história,
tornando-a "cognitivamente" confortável para o leitor.
Concordei muito com essas constatações
da pesquisa, até então não ligava para esse tal “estraga-prazer” que
representava pra muitos. Na verdade, até buscava, eram estimulantes para me dar
vontade de ler ou assistir a algo, resquícios talvez daquela velha cultura de
revistas e jornais com informações de novela, e não conseguia compreender bem o
que era esse “bicho de sete cabeças” que todo mundo falava.
Isso até um dia eu ter perdido umas
season finales de duas séries que curtia (Chuck e Castle se não me engano),
pedi para um amigo me contar e foi emocionante pela versão que me relatou. Quando
finalmente assisti, pensando naquele pique... o pique não foi satisfatório. Não
sei se por já ter sacado as surpresas ou se a maneira com que foi contada
pareceu melhor (como ganhar de Chuck E Castle em apenas um relato, COMO?????).
O caso é que repensei melhor os spoilers.
Além disso, estava em tratamento para
não soltar informações demais (escapuliam!), pois, ao contrário de eu ter tido
uma relação “amigável” com eles, as pessoas tinham opiniões diferentes; assim,
respeitava, me segurava. Ler um livro (ou assistir a filmes e séries), afinal,
é como entender uma piada interna, o alcance é mais reduzido e ela é misteriosa
por alguma razão, senão pelo próprio fato de que, mantendo-a como interna, dá
um sabor diferente. Diria Oscar
Wilde, em O Retrato de Dorian Gray,
Aprendi a amar o segredo. Parece-me ser
a única coisa capaz de fazer-nos a vida moderna misteriosa ou maravilhosa. O que
possa haver de mais comum nos parecerá estranho, desde que alguém o oculte.
Com o tempo fui sacando qual era do spoiler e sim, hoje posso dizer, ele não
é bem uma informação para sair espalhando aos quatro ventos e rouba sim um
pouco da emoção (já vejo pessoas gritando “viu, viu, eu disse, eu disse”).
Mas tem sua serventia, e não é tão mal assim.
Ok,
Kleris, até aí você só provou/reforçou o lado ruim da coisa. Cadê o lado bom
dessa história? Quando que o spoiler pode ser bom?
Quando conhecemos a história. Ou partes
preciosas dela, por senso de mundo, cultura e literatura.
Em Ilíada
(Homero), é sabido que havia uma guerra entre deuses que repercutia na terra e
noutra guerra entre os homens; que em Madame
Bovary (Gustave Flaubert), a mulher traía demais seu marido; que em Metamorfose (Franz Kafka), Gregor se
transforma numa barata do dia para a noite; que em Emma (Jane Austen), Mr. Knightley desaprovava quase tudo que a “amiga”
fazia; que em Senhora (José de
Alencar), Aurélia tinha ressentimentos por Fernando e suas ambições; que em Dom Casmurro, Bentinho sofre pela suspeita de traição de Capitu e... tantas outras “expectativas”.
Não precisa necessariamente ser uma
releitura, mas sendo uma, é que se prova o lado amigável do spoiler, pois é nesse momento que ele
revela-se... auxiliar:
Na releitura o leitor vai ler mais
devagar e nem por isso de forma menos prazerosa. Livre da ansiedade – que,
nesse caso, também atende pelo nome de prazer
– de saber como continua a história e qual será seu desfecho, o leitor pode
rastrear as pistas que o autor foi lançando aqui e ali no romance e ele não
percebeu. Ou pode se deter um pouco mais num detalhe de um personagem, uma
cena, na precisão de diálogos, na forma engenhosa da montagem do enredo, etc. –
Flávio Carneiro, O leitor fingido.
O mesmo para séries e filmes baseados
em livros!
Quem nunca assistiu a um filme e buscou
o livro depois? Estão aí Guerra dos Tronos, Harry Potter, O Hobbit, JogosVorazes, Pretty Little Liars, O Jogo da Mentira, Diário de um Vampiro, QueridoJohn, Ensaio sobre a Cegueira, A Menina que roubava Livros, Orgulho e Preconceito, Jane
Eyre e trocentos mais que me parece impossível lembrar agora rs.
Ao lidarmos com spoilers e leitores, estamos falando na realidade sobre uma interação
quase íntima. Nesse caso, é você e o livro. Essa relação (ou fruição) se
trata altamente de percepções, entrelinhas e sacadas, ditos e não-ditos, que
vai gerar toda a emoção.
É nossa forma de interferir nas leituras,
não queremos enfim tudo de mão-beijada (ou que seja confortável de entender, como apontou o estudo), como quando vem
aquele cidadão (coloque aqui o palavrão de sua preferência e raiva) com uma
informação, quaisquer que seja, às vistas, e nos priva desse prazer de entender
por nós mesmos.
Se meu eu-spoilerático estivesse aqui,
diria que o spoiler não nos priva,
ele abre nossos olhos. Defendia que os leitores se sentiam ameaçados por
acharem que a informação ia lhes tirar seu papel, como se não sobrasse espaço
para especular, deduzir fatos, formular hipóteses, construir relações,
preencher lacunas, comprovar suposições... Bom, a gente ainda pode passar por
todas essas fases, mas já acho que não faríamos com tanto pique como antes. E
talvez a frustração, senão raiva, fosse o que nos guiaria.
Acho que utilizamos o spoiler de forma errada (e por isso
valem os alertas).
Quando nos agradamos de alguma coisa, é
libertador sair espalhando nossa animação por aí, seja Twitter, FB, Tumblr,
Insta, seja no ponto de ônibus, numa conversa no pé da mesa, uma esbarrada no
elevador, surtos em qualquer lugar da casa. Paramos para pensar se isso vai
prejudicar alguém? Um pouco de bom-senso? Pessoas soltam por vingança até,
ainda que aquele que devia ler/ouvir não leia/ouça, e outros “inocentes” são
pegos no caminho. Reclamar é fácil, né?
O spoiler
pode ser tanto uma grande sacada como uma coisa indiferente, e ainda, uma
mentira. E por que não acreditar que seja
uma mentira?
Se saiu aquele episódio, se saiu aquele
lançamento, se sabemos que pessoas estão lendo e comentando, porque não evitar
apenas de ficar espiando as redes? Ou ter uma leitura mais... seletiva?
Só sei que é quase consensual o spoiler ter mais malefícios que benefícios,
lidar com ele ou evitar está aí como próximo passo (vide todos os alertas que
um post pode trazer). Verdade seja dita: é um tópico ainda muito subjetivo (pela
interação leitor-livro) e, por isso, polêmico.
Deixo então vocês pensando nessa: afinal,
o que é mais importante, a jornada ou o destino?
Até o próximo post,
E...
CHAMADA PARA ENTREVISTA DE LEITURA
Alô leitores, estariam vocês
interessados em participar do Littera Feelings?
Muito fácil, vou abrir um espaço de
entrevista de leitura, dar uma dinamizada :D
Requisitos? Só peço por uma leitura
recém-finalizada e ser de algum clássico da literatura (nível mundial). Não
valem releituras, hein.
Um
clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer - Ítalo
Calvino, Por que ler os clássicos.
Alguém interessado? Espero que sim.
Assunto do e-mail: Entrevista de
Leitura no Dear Book.
Informem nome e livro.
Vou fazer essa chamada de vez em quando
para manter o espaço aberto :D
See ya!
Kleris Ribeiro.