domingo, 22 de dezembro de 2013

Resenha: "O caçador de pipas" (Khaled Hosseini)

Por Sheila: Oi pessoas! Como estão todos e tod@s? Trago a vocês hoje um re-lançamento da Globo Livros, que ficou D-E-M-A-I-S! E do qual provavelmente vocês já devem ter ouvido falar... É o livro “O Caçador de Pipas”, primeiro livro de Khaled Hosseini, que ficou tão famoso que já foi até adaptado para as telinhas em 2007.

Na verdade essa é uma edição comemorativa: em 2013, “O Caçador de Pipas” está completando dez anos, e nem por isso deixa de ser uma obra atual e fascinante. A nova capa é linda, e o simples prefácio a esta edição de aniversário, escrito por Khaled Hosseini, já é emocionante. Uma “palhinha” para vocês...
Quando comecei a escrever O caçador de pipas em março de 2001, foi para contar a mim mesmo uma história que tinha fincado raízes na minha mente sobre dois garotos: um em conflito, com bases morais e emocionais incertas; o outro puro, leal enraizado na bondade e na integridade. Eu sabia que a amizade desses garotos estava condenada, que a desavença impactaria a vida dos dois de maneira profunda. O como e o porquê foram à razão, a compulsão, que e conduziram. Sabia que precisava escrever O caçador de pipas, mas pensei que estava escrevendo para mim mesmo.
Confesso que eu já havia lido este livro quando de seu lançamento, mas foi um imenso prazer lê-lo novamente. Revisitar a infância de Amir e Hassan foi, assim como da primeira vez, emocionante e encantador, um puro deleite recoberto do mais fundo pesar. Revisitando as páginas que relatam os rumos intricados desta amizade, mais de uma vez me vi relembrando o próximo trecho e me perguntando: “passaram-se mesmo dez anos?”.

Para quem não leu ainda, vamos à resenha! Apesar de eu me achar tão pouco qualificada para escrever algo que se aproxime, mesmo remotamente, da obra de Hosseini. E para quem já leu, vale um comentário no fim do post, sejam legais com a resenhista, façam ela se sentir importante, é natal!

Esta é uma estória de amizade entre dois garotos, Amir e Hassan, que se passa na década de 1970, no Afeganistão, na cidade de Cabul. O primeiro, era filho de um dos comerciantes mais ricos de Cabul; o outro, era um garotinho com lábio leporino e filho de Ali, nada mais do que um serviçal – o que fazia com que esta amizade, em muitos momentos, tivesse um grande “quê” de desigualdade.
Nos dezoito anos que vivi em Cabul, só entrei na casa de Ali e Hassan umas poucas vezes. Quando o sol começava a se pôr atrás das colinas, e tínhamos acabado de brincar, nos separávamos. Eu passava pelas roseiras a caminho da mansão de baba, Hassan ia para a casinha de pau-a-pique onde nasceu e morou por toda a vida. Lembro que ela era minúscula, limpa e fracamente iluminada por dois ou três lampiões de querosene.
Além de filho de um empregado na casa de Amir, Hassan e Ali são descendentes dos hazaras, povo que fora perseguido e oprimido pelo seu, sendo grandemente discriminados e se encontrando numa das mais baixas esferas da escala social da época. Assim, Hassan mostrava-se submisso a Amir, apesar de na maior parte das vezes isso se dever menos à sua posição social, e mais a sua grande bondade.

Como nasceram mais ou menos ao mesmo tempo, filho de patrão e empregado foram criados juntos e, por terem tido a mesma ama de leite – Amir por que a mãe morreu, Hassan por que a sua fugiu – dizia-se que eram como irmãos. Mas, infelizmente, o tempo iria se encarregar de mostrar que havia diferenças que viriam a por em xeque esta amizade.

A par dos acontecimentos de 1975 – que, Amir conta no princípio de sua narrativa, mudou sua vida para sempre, moldando quem ele seria dali por diante – sempre houve, por parte de Amir, certa rivalidade com Hassan pela aprovação de seu pai que, por mais que tenha se esforçado, parecia nunca conseguir receber.
Lembro que, na véspera da inauguração, meu pai me levou ao lago Ghargha, a uns poucos quilômetros ao norte de Cabul. Disse-me que chamasse também Hassan, mas menti dizendo que ele estava com dor de barriga. Queria baba só para mim. Além disso, certa vez, no lago Ghargha, Hassan e eu estávamos tirando pedras na água e ele conseguiu fazer com que a sua pulasse oito vezes. O máximo que consegui foram cinco saltos. Baba estava vendo tudo e deu tapinhas nas costas de Hassan. Chegou até a passar o braço em seus ombros.
Assim, os acontecimentos de 1975 – que envolvem a caça a uma pipa que acabou de forma trágica e traumática – são o que vem por um fim definitivo nesta amizade, sendo o proceder nem sempre honroso de Amir a chave para o rompimento drástico ocorrido entre os dois. Será só ao ficar adulto, que Amir conseguirá retomar ao seu passado em busca de alguma redenção – se é que isso ainda será possível.

“O Caçador de pipas” é uma estória brilhante, que mesmo após dez anos continua se mostrando atual, mas, além de tudo, universal. Não trata somente de dois meninos afegãos, mas de sentimentos complexos e tramas intricadas, mas reais que, se por um lado chocam, por outro emocionam as lágrimas.

Só me vem à mente uma palavra para descrevê-lo: belíssimo. Leiam – ou releiam – sem medo de arrependimentos. Recomendo.


comentários

  1. Esse livro é lindo, triste e não tenho mais palavras a dizer, uma lição, creio eu.

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Ana Liberato