Por Sheila: Oi pessoas! Resenha nova de autor brasileiro – e meu conterrâneo! - Jerônimo Jardim. Conhecem? Não?!?! Pois é, nem eu conhecia até ler o livro para escrever esta resenha ... mas para quem interessar, Jerônimo começo escrevendo letras de músicas (vejam só!) sendo que a mais famosa foi “Moda de Sangue”, gravada por Elis Regina no disco Saudade do Brasil. Na literatura infantil tem alguns outros títulos publicados, mas eu gostei muito de “O Clube da Biblioteca contra a Bruxa Pestiléia” (ok, foi só por causa do nome bonitinho)
Agora, como romancista, esta é a estréia de Jerônimo, e por uma caminho um tanto tortuoso: retratar a violência em um livro? Já não estamos enfarados, até as orelhas, de tantas desgraças e calamidades nos tele jornais de cada dia?
Mas o livro de Jerônimo não é apenas sobre violência. É, antes de tudo, um livro sobre dois meninos. Um, branco filho de advogado, com um futuro promissor pela frente; outro, negro e filho de lavadeira, tendo de abandonar os estudos para poder contribuir de alguma forma para a parca renda familiar.
Dois meninos. Duas vidas distintas. Que se entrelaçam no começo, se distanciam, e se reaproximam no fim. Jorge está tendo um dia difícil. Parece que este é apenas mais um dos diversos dias difíceis que lembra de sua aparentemente curta vida. E, as vezes, quando temos dias difíceis, acreditamos que o melhor seja deixar difícil o dia dos outros também ...
Tomar cachaça de bar em bar, enquanto as horas se consumiam. Era o que Jorge queria. Fazer tempo. Pelo que tinha em mente desde que saira de casa, aquele dia não seria igual aos demais dias de seus vinte e cinco anos.
Seis e meia da tarde.
Viu Alfeu, o mestre da bateria da escola, conduzindo a conversa na esquina da Borges com a Andradas (...) Sem palavras que denunciassem a intenção, deu um soco naquele que tinha por desafeto.
A partir de então, Jerônimo passa a nos narrar o que leva Jorge a, finalmente, após 25 anos, desforrar-se do mundo que sentiu, toda sua vida, como sendo hostil e perverso – o que parece fazer-lhe chegar ao extremo (talvez daí “In Extremis”) de sua tolerância e procurar vingar-se pelo que considera seus maiores momentos de fragilidade infantil.
Ao mesmo tempo, somos apresentados ao Criminalista Máximo Silveiro, que se mostra contrário à pena de morte, já que a considera nada mais que vingança, perpetrada pelo Estado em nome dos familiares das vítimas. Tem também um discurso pró-desarmamento e argumenta sobre as questões sociais e seus paradoxos.
Seus posicionamento por vezes angariam uma grande dose de antipatia – inclusive por parte de seu filho, Gilberto, um policial. Na narrativa do livro, iremos encontrar Máximo concedendo uma entrevista, em que defende seu ponto de vista.
(...) Falta-lhes serenidade e lucidez para a percepção do drama da marginalidade, dos que não têm saída para suas vidas. Estão centradas em sua condição de alvo. Não percebem os defeitos do sistema, que as prisões são instrumentos de vingança, escolas do crime e não instituições para o reajustamento dos indivíduos em desvio de conduta. Veja que continuamos a chamar de pena qualquer resposta do Estado ao ato antissocial; portanto, castigo, aflição.
Mas será que Maximiliano, que também possui uma filha, irá continuar defendendo seus pontos de vista quando for ele a estar “Na alça de mira”? e não é essa a pergunta que a repórter que o entrevista insiste em fazer, por mais de uma vez?
“In extremis” é um romance curto, não mais do que cem páginas, mas que me pareceu ter a medida certa, dado seu ritmo e estilo de narrativa. Não tentou embelezar determinadas passagens e sentenças para engrossar páginas, ficando conciso e direto – mas nem por isso incompleto ou sem sentido.
Não deixa de ser uma importante reflexão a respeito da sociedade em que vivemos, bem como sobre os discursos que proclamamos e defendemos, as vezes de forma imperiosa e impositiva, sem que tenhamos vivenciado sequer remotamente parte do que professamos.
E o melhor de tudo: é um romance imparcial. Os fatos são mostrados. Você escolhe do lado de quem ficará. Mas será que existem mesmo lados? Um romance de impacto, que só vem a acrescentar à carreira de Jerônimo Jardim, e que mexeu muito comigo. Recomendo!