Por Sheila: Olá pessoas! Como estão? Hoje trago a vocês a resenha do último livro da trilogia Mundo de Tinta, de Cornelia Funke. O primeiro e o segundo livro da trilogia já foram resenhados pelo blog aqui e aqui. Como vou fazer um "resumão" e começar no ponto onde o segundo livro acabou, quem não leu ainda, e não gosta de estragar a surpresa pode parar de ler por aqui ...
Aos que continuaram, avante! Confesso que gostei muito mais do fim do primeiro livro do que do segundo. Afinal, o primeiro livro realmente ACABA. O segundo foi escrito, a sequência da estória ficou muito boa, mas se a autora quisesse ter parado no primeiro, poderia sem problemas.
Agora, ao fim do segundo livro, as coisas terminam tão INACABADAS, que escrever um terceiro para fechar a trama é uma obrigatoriedade. Mas, enfim, para quem não lembra, muitas coisas aconteceram: Meggie, que não consegue parar de pensar no mundo encantado de "Coração de Tinta", se lê junto com Farid para dentro do livro, onde já esta Fenoglio, seu criador - e que foi parar na estória ao fim do primeiro livro.
Dedo Empoeirado, que nunca conseguiu se adaptar ao mundo de Mo, finalmente encontra um leitor - Orfeu - que o lê de volta para sua estória. Nesse meio tempo, a Gralha, mãe do vilão do primeiro livro, encontra Mo e Resa e também os lê para dentro do livro - pensando nele encontrar seu filho vivo. Mas o mesmo não acontece, e o reino encontra-se uma bagunça, com a estória "se contando", o que irrita Fenoglio a ponto de tentar, junto com Meggie, recontá-la.
Mas as coisas não acontecem como Fenoglio previra: ao fim do livro, temos um reino dizimado pela guerra; um vilão cruel e, agora, imortal, que os persegue sem descanso; Mo transformado em um herói de canções e fora da lei com a cabeça a prêmio; Dedo Empoeirado morto; e Fenoglio arrasado com a quantidade de sangue (por isso "Sangue de Tinta") que suas bem intencionadas palavras acabaram por derramar sobre o povo inocente.
No início do terceiro livro, vemos o romance entre Meggie e Farid se desenrolar, assim como uma inversão entre os papéis de Mo e Resa: se no segundo livro causa-lhe dissabor ver a forma como sua mulher e filha sentem-se fascinadas por este mundo (as vezes nada encantador, apesar de seus seres fantásticos e paisagens exuberantes) agora é Mo quem não que ir embora, e Resa quem apela para que retornem.
Afinal, a insegurança de não se ter onde dormir, o que comer, e ser constantemente caçados por um tirano cruel e imortal, faz com que a estadia neste reino - mesmo que encantado - não se torne mais tão prestigiada assim. Até por que Mo as vezes fica estranho; já não é mais só ele. Dentro de si carrega Gaio, o herói fora-da-lei que, se protege os fracos, também se expõe a riscos, o que não passa despercebido a sua mulher.
Mo olhava para suas mãos como se fossem de outra pessoa. Quantas vezes Meggie vira como elas cortavam papel, encadernavam páginas, esticavam couro - ou colocavam um esparadrapo sobre uma ferida em seu joelho. Mas ela sabia bem demais do que Mo estava falando. Ela já o observara o suficiente, quando ele treinava com Baptista ou com o Homem Forte atrás dos estábulos - com a espada que ele carregava consigo desde o Castelo da Noite. A espado do Raposa Vermelha. Ele a fazia dançar, como se suas mãos estivessem tão acostumadas a ela como ao cortador de papel ou uma dobradeira.
Gaio.
Enquanto isso, Orfeu, que também foi lido para dentro do livro, cada vez mais perde-se em criações bizarras e modificações a seu bel-prazer no mundo criado por Fenoglio, sem que este faça nada para impedir; afinal, Fenoglio já não escreve mais, talvez por medo do lugar onde as palavras o fizeram chegar há bem pouco tempo ...
Com um gemido, ele se esticou sobre o seu saco de palha e fixou o olhar no ninho de fadas vazio. Haveria uma existência mais triste do que a de um escritor cujas palavras se extinguiram? Haveria destino pior do que ser obrigado a ver como outro torce nossas próprias palavras e decora o mundo que criamos com esparadrapos coloridos de mau gosto? Nada mais de quartos em castelos ... apenas o quarto no sótão de Minerva. E era um milagre que ela o tivesse aceitado mais uma vez - depois de suas palavras e canções terem cuidado para que ela não tivesse mais marido nem um pai para seus filhos.
Já Dedo Empoeirado, este continua perdido para as Damas Brancas, sendo pranteado por todos mas, principalmente, por Farid, que acaba virando servo de Orfeu com a promessa de que este escreva as palavras que o tragam novamente à vida, muitas vezes decepcionando Meggie que se sente em segundo plano em sua vida.
Havia dias que esperava por Farid. Ele prometera voltar. Porém, no pátio estavam apenas seus pais e o Homem Forte, que lhe lançou um sorriso quando a viu na janela (...)
- Quanto tempo faz que Farid foi embora? Cinco dias, seis?
- Doze - Meggie respondeu com a voz chorosa e escondeu o rosto em seu ombro ...
A maior parte da leitura do livro é tensa, principalmente por que, depois do segundo livro - onde Dedo Empoeirado morre, assim como Cosme, o Belo - e tudo dá errado no final, é de se esperar que qualquer coisa aconteça. Afinal, nem sempre o final feliz acontece sem perdas, o que Cornelia parece deixar claro desde seu primeiro livro.
Por mais que o livro seja o relato de um mundo encantado, a maldade, a mesquinhez, o egoísmo são humanos demais para que não nos toquem de maneira profunda, sendo responsáveis por uma espécie de mal estar e desassossego durante a leitura das mais de mil páginas da trilogia. Agora, se eu gostei dos livros? Não, gostar seria pouco: eu AMEI cada frase, cada descrição belíssima, cada nuance, cada cor, cada cheiro criado pelas palavras divinamente utilizadas pela autora.
Ahhh, esses livros são tão LINDOS. Eu amo a maneira poética de escrever da Cornelia Funke, pois a leitura não fica enrolada ou maçante, só melhor ainda!
ResponderExcluirBeijos! || ape56.blogspot.com
Verdade! Já conhece a segunda trilogia dela? é mais enxuta, mas estou gostando mto tmbm, já foi resenhado o livro 1 e 2 aqui pelo blog
Excluirabraços