Por Marianne: Vanessa da Mata já é bastante conhecida por todos como cantora e
compositora. Em A filha das flores, seu romance de estreia, vemos a
desenvoltura da moça como escritora.
O livro tem uma poesia notável pelo modo como Vanessa escreve, o que
torna a leitura muito agradável.
A tal “filha das flores” é Adalgiza, que todos chamam de Giza. Giza foi criada pelas tias no interior do Brasil. Não fica claro no livro em
qual cidade ou estado a história de passa, acredito que a intenção da autora
foi criar uma cidade fictícia.
Giza e as tias tem um jardim de flores que abastece a igreja, leva condolências
pros funerais e recados acompanhados de rosas aos apaixonados da cidade.
A história começa com Giza na adolescência e à medida que ela vai crescendo
alguns questionamentos começam a pipocar na cabeça da moça. Por que ela é
criada pelas tias? Quem são seus pais que ninguém comenta? E o que existe além
das fronteiras da vila onde ela vive?
É movida por esses questionamentos que um dia meio escondida Giza vai
a vila vizinha, chamada Vila Morena, pra descobrir o que há por lá e é surpreendida
por um mundo completamente diferente da pacata e monótona vila onde mora.
Prostitutas, ex-presidiários e uma Rainha que todos adoram
e esperam ansiosamente. Sim, uma Rainha, que aparece de vez em quando e a vila
inteira se prepara pra festejá-la.
Cheguei e parei o fusca em uma sombra de pequizeiro, cautelosa, entrei na Vila Morena: o rabo amputado e afastado, apenas a alguns quilômetros do centro de tudo. Casinhas coloridas e jocosas, de um mau gosto irrecuperável, encheram meu corpo de riso, achei hilário. A desconstrução delas parecia propositada, feita para arrancar diversão dos outros —paredes tortas e cores exageradas, prontas a desbancar qualquer negociação com a civilidade.
Com a curiosidade instigada por esse universo novo de Vila Morena, Giza sai
escondida das tias pra conhecer a festa da Rainha e a partir daí ela começa uma
descoberta do seu mundo, das pessoas com quem ela
vive e do próprio corpo.
Entrei no fusca, o carro da entrega nunca fora tão longe. E eu então! Pensando em tudo que tinha me acontecido, parecia ter nascido outra vez em outra parte do mundo. Talvez fosse um delírio, essas pessoas eram opostas a todas as outras com quem eu sempre convivi.
O livro toma uns rumos diferentes, uma hora você acredita que está indo
pra um lado mais fantasioso (com todas as descrições da festa da Rainha e seus “súditos”)
e outra hora parece estar tomando um rumo mais “vida real”.
No final esses dois “rumos” do livro se encontram e quase tudo se
explica. Algumas coisas ficam sem explicação mesmo, e acredito que foi a única
falha da história. Criou-se um mundo tão fantasioso que ao trazê-lo pro real
nem tudo pode ser explicado.
Não é um livro que você vai devorar em um dia, é pra ir apreciando aos
poucos, se encantando com a ingenuidade e perspicácia de Giza, crescendo e
entendo com a protagonista o universo onde a história é contada. Ficamos no
aguardo pra outras obras de Vanessa! Espero que tenham curtido a resenha, até a próxima :)