sexta-feira, 14 de março de 2014

Resenha Dupla: "As crônicas marcianas" & "A Cidade inteira dorme" (Ray Bradbury)

Por Sheila: Oi pesso@s como vocês estão? Tudo na paz? Eu estou suuuper empolgada com a idéia que eu tive: criar uma resenha dupla para vocês! Claro que eu tive que pedir para a Junny primeiro, mas como ela deu um ok ... vamos a elas! Vocês já ouviram falar de Ray Bradbury, o "lindão" aí da foto? Nãaaaao? Pois é, eu também não tinha até ler "As Crônicas Marcianas" e "A Cidade inteira dorme".

Estes dois títulos tem algo em comum – além da temática futurista. São livros relançados pela Globolivros, de um autor considerado mestre na escrita em ficção científica: Ray Douglas Bradbury, um norte-americano mais conhecido pelas obras 'As crônicas Marcianas" (que vou resenhar aqui) publicado pela primeira vez em 1950; e fahrenheit 451 (que espero a Globolivros me envie para a próxima resenha!) de 1953.

Desde o começo, o que chama atenção em seus escritos é a forma como consegue mesclar tons de terror e suspense aos escritos futuristas, além de mexer de forma dramática e profunda com nossos medos mais arraigados, alguns coletivamente instituídos.

Brandbury, além de escrever contos, também esboçou trabalhos para o cinema e televisão, sendo que em 1956 criou o roteiro da adaptação cinematográfica de Moby Dick, dirigida por John Huston. Ao longo de sua carreira, usou muitos pseudônimos como Doug Rogers, Ron Reynolds e Douglas Spaulding.

Muitas das histórias e novelas de Bradbury foram adaptadas para o cinema, rádio, televisão, teatro e quadrinhos. Também no início dos anos 50, adaptações das suas histórias foram televisionadas numa variedade de programas como Tales of Tomorrow e Alfred Hitchcock Presents. 

Para não dizer que este autor me era de todo desconhecido, já tinha lido algo a respeito de suas obras – na verdade da adaptação delas para outras mídias – através do livro “Dança Macabra”, de Stephen King, que talvez eu acabe resenhando aqui para o blog, desde que vocês pensam insistentemente, é claro, o pessoal anda com preguiça de comentar ...

Mas vamos às resenhas!

As crônicas marcianas

O tema central do livro, alguns diriam, é a colonização de Marte por humanos. A terra está um caos. Poluição, roubos, e talvez uma guerra por eclodir. Neste contexto, Marte aparece como uma saída: uma fuga para os terráqueos já sem esperança, um recomeço para outros mais otimistas.

Por outra ótica, podemos ver A crônicas marcianas como uma analogia a uma desconstrução de um sistema social e político e busca por uma sociedade diferente, mais igualitária e menos repressora, sendo a ida para um "outro planeta" uma forma metafórica de lidar com o esgotamento com o sistema vigente.

O mais interessante do livro é que, ao mesmo tempo em que existe uma seqüência nos efeitos narrados, algumas podem ser lidas quase que de modo independente. Provavelmente, isto advenha do fato de que alguns capítulos foram publicados de forma independente em revistas de ficção científica, em 1940, como contos ou novelas episódicas.

O livro divide-se em três partes: tentativa de colonização de Marte, a colonização propriamente dita, e o êxodo à Terra quando a guerra nuclear tão anunciada finalmente eclode. O livros hipoteticamente narraria acontecimentos que iriam desde janeiro de 2000 à outubro de 2026, falando desde a tentativa frustrada de colonização por parte das primeiras expedições, até o surgimento de uma “nova” raça Marciana – e, sim você terá de ler o livro para saber afinal de contas do que é que eu estou falando.

Na edição de 1997 as datas avançaram em 31 anos (o período agora seria de 2030 a 2057), inclui o conto "The Fire Balloons" e substitui "Way in the Middle of the Air" por um conto de 1952 chamado "The Wilderness", datado de maio de 2034 (equivalente a maio de 2003 na primeira cronologia). O relançamento pela Globolivros é de 2014, contando com 26 capítulos e a cronologia oficial ( de 1999 à 2026).

A Apresentação do livro, escrita por Jorge Luis Borges, não poderia ser mais fidedigna, ao dizer do autor que
Outros autores estampam uma data vindoura, e não acreditamos neles, porque sabemos que se trata de uma convenção literária. Bradbury escreve 2004 e sentimos a gravitação, o cansaço, a vasta e vaga acumulação do passado ... Talvez “A terceira expedição” seja a história mais alarmante deste volume. Seu horror (suponho) é metafísico; a incerteza sobre a identidade dos hóspedes do capitão John Black insinua incomodamente que tampouco sabemos quem somos nem como é, para Deus, nossa face.
Apesar de também ter gostado muito de “A terceira expedição”, elegeria “Os homens da terra” como aquela que mais me marcou. Afinal, a expedição de quatro homens liderados pelo capitão Willians – a segunda expedição – não esperava, de forma alguma, o que encontraram em marte. Em primeiro lugar, os marcianos por algum poder telepático conseguiam entendê-los perfeitamente. Em segundo, e mais estranho, ninguém parecia dar muita importância à sua chegada.
- Acho que a senhora não entendeu ...
- O quê? – ela disse secamente.
- Viemos da Terra!
- Não tenho tempo – ela disse. Tenho muito trabalho na cozinha hoje, e ainda preciso limpar a casa e costurar.
Só que a segunda expedição acabará por descobrir que, por trás deste aparente descaso, esconde-se uma verdade que eles não descobrirão em tempo ... e que você terá de ler o livro para saber qual é!
Cheio de uma crítica contundente ao ser humano, com sua capacidade de construir, mas também com sua potencialidade para a destruição, "As Crônicas Marcianas" merece seu título de best-seller e acho que nem precisava dizer, mas é um livro recomendadíssimo!


A cidade inteira dorme

São 14 contos no total, que variam entre espécies de novelas da colonização marciana – e que bem poderiam estar inclusos no livro resenhado anteriormente, até outros que tratam de temas cotidianos e sobrenaturais, mas sempre com um toque de suspense e horror, as vezes pelo toque do desconhecido, noutras pela simples bizarrice do acontecido.

Com toda certeza, “A cidade inteira dorme” conto que nomeia o livros, fica no topo da minha lista de favoritos. A narrativa de Bradbury conseguiu me deixar nervosa e ansiosa com o final do conto que, apesar de curto, pareceu arrastar-se por horas. Após lido o conto, você perceberá que a capa ficou perfeita – não diz nada, entregando tudo ao mesmo tempo.

Afinal, como não temer ruídos estranhos quando a cidade inteira dorme, e se esta sozinha na rua, com um maníaco estrangulador à solta?
"Trinta e cinco, trinta e seis, cuidado, não caia. Ah, como sou idiota. Trinta e sete passos, trinta e oito, nove e quarenta, mais dois são quarenta e dois - quase metade do caminho".
"Espere", disse a si mesma.
Deu um passo. Houve um eco.
Deu outro passo.
Outro eco. Mais um passo, apenas uma fração de instantes depois.
"Alguém está me seguindo", ela sussurrou para a ravina, para os grilos pretos e sapos verde-escuros escondidos e o córrego negro.
"Há alguém nos degraus atrás de mim. Não ouso me virar".
Merecem destaque também os contos "As frutas no fundo da fruteira", "O pedestre" e "A hora zero" que, em minha modesta opinião, rivalizam entre si pelo "troféu" de segundo lugar. Não gostei muito de "O visitante" nem de "O messias", mas isso de forma alguma diminui o mérito do autor ou a grandiosidade de sua obra.

Enfim, Bradbury já faleceu - apesar de ter vivido bastante, até os 91 anos - então não está aqui para me ouvir dizer (ou me ver escrever) isso mas ... virei fã! Recomendo muitíssimo, estas e outras obras, assim como recomendo que você adquira seu exemplar da Globolivros pois, além das capas terem ficado lindíssimas, o acabamento e a qualidade do papel também são superiores.

Forte abraço!


6 comentários

  1. Muito interessante, inteligentes o livro e a resenha...

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  2. Adorei a resenha! Vou comprar o livro...

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  3. Muito boa as resenhas..adorei ambas..vontade de ler os livros!!!!

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  4. Comentário mto legal que a Paula deixou no meu mural do skoob!

    Paula
    1 dia, 22 horas atrás
    [Privado] Ei Sheila! Adorei a resenha e já curti a página no facebook. Ainda não li nenhum livro do autor, apesar de já ter marcado dois na minha lista e a sua resenha me despertou o interesse em mais um: As Crônicas Marcianas. Parabéns! O mais legal para mim é ver como uma pessoa que viveu há mais de 50 anos usa do futuro, que é o nosso presente, para criticar o comportamento humano, e apesar de ainda não ter lido, aposto que dá para identificar uma ou duas realidades atuais.
    Mais uma vez parabéns pela resenha,
    Abraços.

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  5. Como eu já havia imaginado, e agora vendo pela sua resenha dupla, os livros parecem realmente ser ótimos. O engraçado é ver como livros escritos há tanto tempo abordam problemas tão comuns hoje em dia. Exemplo da senhorinha ali tão sem tempo pra uma simples conversa.Pretendo comprá-los em Maio, já que fiz muitas comprinhas literárias esses dias kk. Não vejo a hora de ler.

    Beeijos
    Que nerdisse Alice!

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Ana Liberato