3. Os clássicos são
livros que exercem uma influência particular quando se impõem como
inesquecíveis e também quando se ocultam nas dobras da memória, mimetizando-se
como inconsciente coletivo ou individual.
Por que ler os
clássicos? – Ítalo Calvino
Olá,
queridos leitores. Como estão suas voracidades? A minha andava um pouco em
baixa, nesses últimos dias que tem melhorado. Devorei dois históricos (A Cidade dos Segredos e As Sombras de Longbourn) que me deixaram
“nadando nos feels” por dias – o
último talvez eu demore a superar rs. Em breve devem estar em resenha aqui no
blog.
Esses
dois na verdade reforçaram bastante umas questões que queria trazer para a
coluna faz um tempinho: qual é a dos clássicos para serem clássicos e como isso
é visto pelas pessoas. Não quero entrar na onda do preconceito literário,
levantar teorias sobre a origem das más impressões (acredito muito que aquela
decoreba pra vestibular contribua nesse quesito), nem bater lá na influência estética
de movimentos, muito menos encher a bola deles. Há muitas razões para que um livro
seja um clássico e ele nem precisa ser “bom” – e não falo propriamente sobre
gostos.
Há
na verdade vários significados ao se tomar algo como “clássico”. O Aurélio Online traz isso bem, quando aponta que pode remeter a autores, aos momentos da
cultura que prezou demais por artistas renomados ou buscou maneiras de restaurar essa
ideia (visão histórica), senão a obras que foram tomadas como modelos de
sucesso. Também se refere àquilo que pode ser tomado como habitual, senão
grandioso e chamativo, como os clássicos do futebol.
O
que você quer dizer então, Kleris?
Atribuição de valor.
Seja coletivo, seja individual.
Fernão
Lopes, láaa no Humanismo (fui longe!), escreveu crônicas que podem não bater interesse a mim
ou a você, leitor (a), não de ler numa tarde de feriado, num domingo calmo e
frio, debaixo de umas cobertas com chocolate quente e esperar surpresas sobre
reis como D. João ou D. Pedro. Há quem goste, numa pesquisa quem sabe (vai
que?). Mas de geral? A importância dele e uns poucos outros naquela época era
de registrar o que era visto e vivido. O valor desses textos é mais histórico,
nem por isso menos literário, se ele utilizou da escrita, algo que até então
era incomum à população.
Quem
teve a oportunidade de ler A Carta, percebeu
que Pero Vaz de Caminha escreveu sobre uma terra maravilhosa, em tons leves e
calmos, admirados e respeitosos até, em seus limites de escrivão e, de certa
forma, de “cultura” dominadora. Agora me diz quem, em sã vontade, levanta um
dia e procura por essa carta como leitura do dia? Assim, do nada, como a gente
vai lá passear na estante de casa ou nas vitrines de livrarias?
Minha leitura foi obrigatória, ainda que bem apresentada (vou sempre me lembrar do tio Caminha, que era engraçado a sua maneira). Nada contra se você tiver vontade – indico até! Só realmente não imagino que dessas leituras as pessoas queiram extrair algum tipo de “prazer”. Surpreendam-me se for o caso (rs).
Minha leitura foi obrigatória, ainda que bem apresentada (vou sempre me lembrar do tio Caminha, que era engraçado a sua maneira). Nada contra se você tiver vontade – indico até! Só realmente não imagino que dessas leituras as pessoas queiram extrair algum tipo de “prazer”. Surpreendam-me se for o caso (rs).
Acontece
que ao longo da história teve dessas... De escritos e mais escritos que se
utilizavam das palavras para expressar, registrar, revelar mais que ficção, senão
dentro da própria ficção, ou tudo junto e misturado, como em (auto)biografias. Os Sertões (de Euclides da Cunha) pode
ter sido uma boa sacada jornalística e tal, dizem que lá pelo meio do livro que
a coisa engrena mais, só que não me apetece de ler. E olha que foi leitura
obrigatória! Dei um jeito de fugir, porque eu não via chances de rolar.
Na escola a gente viu muito sobre Eça de Queirós e Machado de Assis, mas quero saber quem se lembra, no Realismo, de Fialho de Almeida e... é, não lembro um “desconhecido” no âmbito nacional. Porque se não era Machado, era Raul Pompeia ou Arthur Azevedo.
Sempre tem alguém para levar a fama por todo um movimento, por ter impactado de tal maneira que é quase impossível se lembrar de outro. E no meio dessas “importâncias” todas, a eles foram atribuídos valores. Tinha que haver algum mérito nisso, não? Por isso estão aí, documentados.
Só que esse valor não deve ser parâmetro, tampouco deve medir qualidade. Como comentado no começo, um clássico pode ser assim considerado por várias razões, sem, em nenhum momento, deixar de ser uma "obra". E obra por obra, sai(u) uma a cada minuto. Dentre elas, poucas foram reconhecidas, assim como poucas "representaram" épocas.
Quem representará a nossa?
Não achei O Conto de Natal (de Charles Dickens) essa coisa toda que falam dele, embora entenda como pode ter sido surpreendente para aquele momento da história o fato do personagem ver e falar com fantasmas. Dom Casmurro (Machado de Assis), por outro lado, creio ter sido golpe de gênio. Gostei bastante de O Grande Gatsby (Scott FitzGerald); no entanto, já não posso dizer o mesmo de Memórias de Um Sargento de Milícias (Manuel Antônio de Almeida)também fugi desse, ele não me
desceu. Meu apego do momento é Jane Eyre (Charlotte Brönte) <3
E – chega de viagem, né (rs) – ainda que os movimentos literários tenham "parado" de serem “documentados” nas grades escolares, a produção literária não parou. Ela nunca para. O que os críticos andam afirmando é que naquela época era mais fácil de manter os registros – até porque eram menos escritores, menos movimentos. Hoje a estética por estética pode ser um nicho tal qual outro.
Quem sabe daqui uns anos, quando netos ou bisnetos nos visitarem, eles levem como dever de casa a leitura de um clássico? Um desses que saiu ontem, anteontem ou está para sair amanhã? Não podem eles vir a serem os novos clássicos?
A série Harry Potter (J.K. Rowling) já é considerada um clássico infanto-juvenil. Crepúsculo (Stephenie Meyer) abriu as portas para a re-humanização de figuras fantásticas; assim como Jogos Vorazes (Suzanne Collins), dentre as distopias, retomou o realismo e fortes ideologias. John Green pode não ter sido o primeiro da linha sick-litnão gosto do termo, masss,
e nem por ser dessa linha, como imagino o Nicholas Sparks, fez dele menos
importante nesse quesito. Sophie Kinsella, Marian Keyes e Helen Fielding são,
em seu nicho de chick-lits, as autoras mais “clássicas” para as tragicomédias
femininas, assim talvez como Martha Medeiros e Tati Bernadi para as crônicas.
Cada um se fez (ou está se fazendo) inesquecível. Isso é reconhecimento
coletivo.
E se lá na história da literatura, quando seus netos ou bisnetos forem estudar, os livros didáticos trouxessem (sonhar, por que não?) uma linha de tempo que pontuasse 50 Tons de Cinza logo após a geração Harry Potter? Você também não ia dizer “nãaaaao, teve muita coisa entre um e outro”? É, a gente tá vivendo esse presente, mas estamos sabendo reconhecer os marcos que esses tantos livros estão deixando no nosso dia a dia?
Diria o Ítalo Calvino (trecho lá em cima) que eles ficarão nas dobras da memória, do inconsciente coletivo ou individual.
Clássico, enfim, se trata do valor que damos. Valor esse que, quem sabe, perdure pela história.
Kleris Ribeiro.
Sabe-se
que para cada movimento que se prosseguiu, que ganhou atenção na sociedade
(porque tem uns que são pulados no ensino médio!), houve escritores de
destaque. Quem não lembra no segundo ano do francês de Gustave Flaubert?
Imagino que Madame Bovary causou uma comoção a la 50 Tons de Cinza por revelar
mais da mulher do que se era “permitido” – e faço aqui a comparação só pelo
alvoroço que ambas promoveram em suas épocas de lançamento.
Na escola a gente viu muito sobre Eça de Queirós e Machado de Assis, mas quero saber quem se lembra, no Realismo, de Fialho de Almeida e... é, não lembro um “desconhecido” no âmbito nacional. Porque se não era Machado, era Raul Pompeia ou Arthur Azevedo.
Sempre tem alguém para levar a fama por todo um movimento, por ter impactado de tal maneira que é quase impossível se lembrar de outro. E no meio dessas “importâncias” todas, a eles foram atribuídos valores. Tinha que haver algum mérito nisso, não? Por isso estão aí, documentados.
Só que esse valor não deve ser parâmetro, tampouco deve medir qualidade. Como comentado no começo, um clássico pode ser assim considerado por várias razões, sem, em nenhum momento, deixar de ser uma "obra". E obra por obra, sai(u) uma a cada minuto. Dentre elas, poucas foram reconhecidas, assim como poucas "representaram" épocas.
Quem representará a nossa?
Não achei O Conto de Natal (de Charles Dickens) essa coisa toda que falam dele, embora entenda como pode ter sido surpreendente para aquele momento da história o fato do personagem ver e falar com fantasmas. Dom Casmurro (Machado de Assis), por outro lado, creio ter sido golpe de gênio. Gostei bastante de O Grande Gatsby (Scott FitzGerald); no entanto, já não posso dizer o mesmo de Memórias de Um Sargento de Milícias (Manuel Antônio de Almeida)
O fato de
serem marcados como clássicos em nada deve interferir se são bons ou não (aqui
sim falo de gostos).
E – chega de viagem, né (rs) – ainda que os movimentos literários tenham "parado" de serem “documentados” nas grades escolares, a produção literária não parou. Ela nunca para. O que os críticos andam afirmando é que naquela época era mais fácil de manter os registros – até porque eram menos escritores, menos movimentos. Hoje a estética por estética pode ser um nicho tal qual outro.
Quem sabe daqui uns anos, quando netos ou bisnetos nos visitarem, eles levem como dever de casa a leitura de um clássico? Um desses que saiu ontem, anteontem ou está para sair amanhã? Não podem eles vir a serem os novos clássicos?
A série Harry Potter (J.K. Rowling) já é considerada um clássico infanto-juvenil. Crepúsculo (Stephenie Meyer) abriu as portas para a re-humanização de figuras fantásticas; assim como Jogos Vorazes (Suzanne Collins), dentre as distopias, retomou o realismo e fortes ideologias. John Green pode não ter sido o primeiro da linha sick-lit
E se lá na história da literatura, quando seus netos ou bisnetos forem estudar, os livros didáticos trouxessem (sonhar, por que não?) uma linha de tempo que pontuasse 50 Tons de Cinza logo após a geração Harry Potter? Você também não ia dizer “nãaaaao, teve muita coisa entre um e outro”? É, a gente tá vivendo esse presente, mas estamos sabendo reconhecer os marcos que esses tantos livros estão deixando no nosso dia a dia?
Diria o Ítalo Calvino (trecho lá em cima) que eles ficarão nas dobras da memória, do inconsciente coletivo ou individual.
Agora, já que abri o leque de considerações sobre os clássicos, quero saber de
vocês, qual(is) livro(s) do momento acham que será um clássico lá no ano de
3023 (se a humanidade sobreviver, claro)? O que acham sobre esses pesos
culturais que estão levando? E, se um clássico pode ser aquele habitual, que
clássicos são seus? Quando viajo, por exemplo, é comum que leve um chick-lit,
costumo guardar para essas ocasiões. Têm algum habitual de ônibus? De mantra de prova? De procura em livraria? De saída de séries? Não sei, me digam vocês o/
Clássico, enfim, se trata do valor que damos. Valor esse que, quem sabe, perdure pela história.
Até
a próxima,
Kleris Ribeiro.
P.S.: Conhecem a #EntrevistaDeLeitura do Littera Feelings? Tivemos nossa
primeira aqui. A ideia aborda os clássicos da literatura (em abrangência
mundial) apenas como requisito de participação, o propósito mesmo é conversar
sobre as leituras e o que o leitor pôde captar delas.
ain, adorei o post! Já li alguns livros por serem "clássicos" que não gostei, mas acredito que eh isso mesmo, tem a ver com a época em que foram escritos e a forma como repercutiram nas ´pessoas!
ResponderExcluirbjbjbjjbjbj
Amei o post, super reflexivo.
ResponderExcluirEu amo livros clássicos, embora eu tenha preferencia pelos estrangeiros, não consigo gostar dos clássicos nacionais.
Mas Jane Austen, Charlotte Brönte, Alexandre Dumas, Charles Dickens e vários outros estão no meu coração com toda certeza.
Sobre os livros atuais que vão virar clássicos, concordo com você em quase todos os que você citou, mas é difícil saber o que vai ser lembrado e o que será esquecido... só o tempo dirá.