segunda-feira, 5 de maio de 2014

Littera Feelings #15 – O abrir dos olhos no abrir das páginas

Oi, pessoal o/

Como vão suas leituras? Nas últimas semanas me voltei para umas coisas bem técnicas e acadêmicas e ando um pouco atarefada DD: Parece que eu vivo de mantra! Mas isso não impede a gente de dar umas espiadas, impede? :)

Estava preparando um post quando uma velha preocupação retornou. A partir de discussões em grupos diversos de leitura tratando de temas, abordagens, elementos narrativos e ademais aspectos literários que veio... um incômodo =/

É ótimo ver que as pessoas estão comentando mais sobre suas leituras, temos blogs literários a livre escolha, com os mais diversos gostos e nichos. Ás vezes acho que é muito – dada a minha própria história como leitora em que, até pouco tempo atrás, nada tinha a força como os blogs hoje em dia têm – mas ainda é pouco se verificar os índices de leitura do Brasil, que é baixo em relação aos produtos culturais em geral.

Fora desse lado mais “estatístico”, o caso que me levou a escrever esse post trata-se de uma realidade muito ignorada, embora mais visível nas escolas, de que já quase não ouvia falar senão pela perspectiva pedagógica: o analfabetismo funcional. A preocupação básica a que me refiro é sobre o que, de fato, as pessoas andam colhendo de suas leituras – em termos de qualidade.

As pessoas estão lendo? Ok, ótimo!

Mas, espera, estão elas entendendo o que é apresentado? O livro está acrescentando? Está modificando?

Infelizmente, em vista dessa situação, concordo que a “modinha de leitura” possa ter seu lado ruim.

As discussões mencionadas que de vez em quando vejo em grupos por aí envolvem sempre pouco argumento, princípios fracos e muito preconceito por isso talvez dê muito barraco? É como se tivessem muita cabeça aberta para ler, mas não se permitissem levar nada mais para si senão algumas questões mais fúteis e infantis. O senso crítico cedido ou exigido, movido por qualquer livro em pauta, acaba se perdendo no caminho.


Poderia dizer que falta em muitos dos “debatedores” uma maturação ou visão crítica, mas realmente não queria acusar isso. Acho que só porque uma pessoa é recém-leitora ou lê pouco não deveria justificar, e é isso que imagino que a maioria possa interpretar =/

Já entre nós, fiéis leitores, conversamos com amigos e tal, mantemos o senso em ativa. Mas e o “além disso”, como fica? Há ainda muitos leitores por aí que estão “comendo” livros apenas por estarem pilhados à mesa. Lendo por ler.


E é claro que é importante ler, só não basta apenas... ler. Digo, no sentido de a leitura passar batida. Se fosse por isso, então deveríamos bater uma bula de remédio com mais empolgação?! É como um “esforço” sem propósito, arrisco dizer.

Acredito em livro que nos divirta, que nos traga boas histórias. Mas também acredito em livro que nos acrescente. Que ceda perspectivas, reafirme convicções, dê ideias, balanceie as emoções, nos faça questionar. Que mude, enfim. Ao nos mostrar mundos, podem ser as maiores mentiras do universo, porém, desde que nos faça acreditar, estou bem com isso.

Quem acompanha a coluna pode até achar que estou sendo repetitiva em “exaltar” os efeitos que um livro pode exercer nos leitores, mas de verdade, dessa vez, acho que vale bater novamente nessa tecla.

Não são das indagações, dos incômodos, das dúvidas que vêm as melhores percepções? Que construímos o senso?

O crescimento da leitura e visão aberta disso foi bom nesse quesito. Só que, ok, já não batemos essa meta? Acho que nos valer, por maioria, de indicações de livros já não é mais o suficiente para o momento. Afinal, conquistamos leitores.

Mas e aí... Quem está acompanhando esse... enriquecimento deles?


O nosso próprio por vezes é até esquecido, não? Pode só acontecer comigo, pode alguém ter comentado por aí, mas me diga lá se, após muito ler ou ser conhecido por ler, as pessoas pararam de perguntar sobre o que pensamos a respeito do que é tratado? Por maioria somos nós que chegamos falando de tal livro, não?

De qualquer modo, temos tido avanços também. Pouco – tão pouco talvez quanto as marcas de leitura na pesquisa sobre produtos culturais acima citada – mas, melhor que nada.

São em muitos canais (de youtube), podcasts, senão posts mesmo que vejo/ouço/leio leitores indo além de suas opiniões. Papos têm incitado debates, conversas ou pelo menos jogado umas questões a se refletir e não deixar que o que livro traz se perca.

Nesse sentido, acho que estamos prontos para pelo menos trabalhar mais isso, se a “primeira meta” já foi. Se muitos leitores ainda são “fracos” em suas ideias, o melhor que temos a fazer é saber escolher as perguntas que possam guiá-los, pois só os livros, como visto, não estão sendo o bastante para lhes abrirem os olhos.

Não é que o mundo vá mudar e buscar mais senso crítico por isso - claro - mas, de passo a passo, pra começar a mudar, tudo o que se precisa é de uma boa abordagem. E para o mundo dos livros, vocês sabem, mais vale saber apresentar um do que apenas jogar uma leitura. Até porque, no fim das contas, pode sim um livro nos tocar; no entanto, ele mesmo pode ter muito mais a oferecer do que isso de primeiro alcance.

Até a próxima,

Kleris Ribeiro. 

comentários

  1. Excelente ponderação. Gosto muito da frase "livro bom é livro lido" e de fato qualquer leitura deve ser aplaudida num mundo sem letras, assim como qualquer vela é uma bênção na escuridão. Mas sabemos que existe a lâmpada, sabemos que existe o sol! E concordo com você que podemos ir além de aplaudir as pequenas velas, podemos acordar as pessoas para as outras luzes... Leitura é comunicação, comunicação é troca. E quem só conversa com o mesmo amigo sobre os mesmos jogos de futebol certamente está perdendo valiosas experiências de conversas com seus avós. Abraços!

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Ana Liberato