Por Kleris: Olá,
leitores. Hoje vamos de romance histórico com uma trama intensa e misteriosa na
sociedade veneziana. Embarquem na gôndola que aqui passa e vou guiar vocês por
essa cidade de segredos.
– Veneza
é uma cidade de segredos. – diz ele. – Todos parecem ter um. Penso no
patrimônio de meu pai, que está se dilapidando; no fingimento de Beatrice
perante Vincenzo; na doença do duque.
Nada
poderia deixar Laura mais feliz que deixar o convento a que foi jogada e voltar
para casa, onde reencontraria sua irmã mais velha, Beatrice. Mas se achou a
instituição rigorosa e exigente, é porque não sabia do que as pessoas eram
capazes em Veneza. Eis que finalmente o pai a manda buscar, só que não pelos
anseios da garota. Beatrice estava morta. Foi um baque e tanto para Laura,
principalmente por esse afogamento da irmã deixar muita coisa no ar.
Nisso,
a garota deveria tomar seu lugar quanto aos interesses e ordenações do pai
autoritário, que seria de se casar com o ex-noivo de Beatrice e salvar a
família da miséria iminente. Por resposta de uma educação rígida, só restava a
Laura acatar e obedecer. E o faria se o noivo não fosse um velho desprezível.
Mas
havia quem a ajudar, se possível. Allegreza, uma das damas da sociedade, apresenta
a Laura um grupo secreto que atuava naquela comunidade veneziana, o Segreta, constituído por mulheres que, por
seus segredos, controlavam o real traçar daquelas vidas e agia por debaixo dos
panos de todo o teatro social. Só que para Laura conseguir qualquer ajuda, como
se livrar desse destino trágico que o pai lhe lançou, ela precisava pagar um
preço de entrada: revelar um segredo válido àquele grupo.
Era apenas o começo da peça social em que se metia. Na
verdade, pode-se dizer que Laura foi socada ali quando a gôndola (embarcação
comprida, graciosa e ligeira, peculiar para navegação nos canais de Veneza) já
havia traçado muita história pelos cursos dos rios e das vidas daquelas
pessoas.
Apanho uma gorda azeitona verde de uma bandeja que um criado me oferece. Do outro lado da sala, vejo Allegreza num vestido preto com ranhuras brancas na saia e penas pretas no cabelo. Animada, ela conversa com um grupo de mulheres mais velhas. Imagino que esteja sussurrando para elas o segredo do duque [...]– Laura, endireite sua postura – alerta meu pai.
Dotada
ainda por muita inocência, não era acostumada com festas, com falsidades ou
mesmo dramas intensos. Assistiu hostilidade entre famílias inimigas, viu-se
como moeda de troca e interesse na mão do pai e ainda teve essa morte da irmã,
dentre outros acontecimentos, que faziam uma teia de perdição na sua cabeça.
Enquanto devia se rearranjar novamente perante a sociedade, mais dessas
histórias começam a se revelar.
Mas claro,
Laura também deu tempo ao seu coração, com um amor daqueles do tipo
“impossível”, por causa das diferenças sociais. É com Giacomo, um pintor que
atende encomendas dos mais abastados, que Laura se permite baixar mais guarda e
seus dias parecem melhores, assim como ao lado de Faustina, ama e fiel escudeira.
– Eu
adoro a Veneza que você descreve – digo. – A Veneza que conheço se resume a
dinheiro, poder e conforto para o corpo. Que eu saiba, nunca tem nada
relacionado à beleza ou à alma.
– Se
esta é a minha Veneza, então também pode ser a sua.
Por um
instante sublime e maravilhoso, penso que ele pode ter razão.
Com umas
250 páginas, “A Cidade dos Segredos” (Cross
My Heart) é o primeiro de uma série e é uma introdução intensa. Tenho pouca
experiência de leitura com enredos históricos, fora uns clássicos mesmo, então
por toda narrativa me vi em filmes de época e noutros livros (como Jane Eyre,
Romeu e Julieta e até Lisístrata, lá dos gregos). A escrita ajudou bastante
nesse quesito, pois, de linguagem bem trabalhada, muito rica em
detalhes, com alguns floreios e de traços góticos e realistas, ela nos suga
para o enredo. É tudo muito tenso!
Quando
Laura se vê metida num jogo de interesses e que deve lutar por sua
“sobrevivência”, senão fugir das intrigas, ela tem que abdicar de sua inocência
e conhecer mais desse jogo de não confiar em ninguém. Personagens como Carina,
Paulina e Allegreza me fizeram sentir como a própria Laura, perdida entre histórias
antigas e decisões preciosas. Assim, gostei bastante em como o caráter da
protagonista foi se remoldando à nova realidade e como a história respeitou os
valores da época.
– Eu não
preciso fazer o que meu pai me pede, preciso? – digo, deitando na cama.
Faustina estende o suave lençol sobre mim e então se senta a meu lado, me
acariciando a testa.
–
Querida, devemos fazer como nos mandam. A longo prazo, é melhor para nós. Os
homens é que governam o mundo.
Os
capítulos são curtos, o que quebra bastante a tensão e dá um segundinho para
respirarmos as “deixas”. É garantido que, enquanto você não alcançar o próximo,
parece que não sossega. Então se preparem, pois quando sentarem para ler, não
vão querer fazer pausa alguma. Li em dois dias sofrendo com as interrupções!
Confesso que não dei muito pela capa ou pela sinopse. Mesmo
ao finalizar fiquei achando que a capa ainda não fazia jus, isso até a história
descansar mais. É a mesma da edição original e espero que reproduzam aqui a do
segundo livro. Ambas têm muito a ver com a história.
Como
toda apresentação de séries, a história tem muito o que explorar dos
personagens e seus passados. O que não falta é pano pra camisa.
Recomendo
para quem gosta de intrigas, mistérios e conspirações sutis. Já quero ler de
novo com os segredos fresquinhos na cabeça e já quero o próximo (Heart of Glass, sem título no Brasil
ainda).