Tudo
começa quando Lucius se muda para Campos do Jordão, cidade interior de SP, para
dar partida em seus estudos universitários. A casa em que se aloja é afastada e
antiga, mas chamou-lhe atenção pelo aluguel barato, afinal, não poderia arcar
com tantos gastos se estava ali para lidar com as despesas por si só, tendo
apenas uma pouca ajuda de custo inicial na conta bancária.
Além da
casa, havia um terreno grande nos fundos. Em um galpão quase escondido pelo
bosque Lucius se deparou com uma construção por fazer, que só fez sentido
quando achou folhas e mais folhas de que aquilo era um projeto inacabado. Ao
que tudo indicava, uma montanha-russa. Presenteado por uma moto das antigas,
uma vespa, Lucius decidiu não mexer naquilo, pelo menos não num primeiro
momento. Foi explorando a biblioteca da casa que ele encontrou uma foto da
antiga moradora, que a mostrava em alguma parte desse terreno, na área daquela
construção, enterrando uma caixa. Curioso, perguntou-se se a caixa estivesse no
mesmo lugar. E se estivesse, o que lá teria?
Uma
carta. A carta que dá início a esse livro.
Campos do Jordão, 20 de janeiro de 1964. Ilustre desconhecido,
Hoje é seu dia de sorte. Você acaba de ser premiado com um passeio de montanha-russa! Espere, não estou brincando. Não despreze as minhas palavras. Leia a carta até o final para descobrir o que eu quero dizer.
Pois
então, era mesmo uma montanha-russa caseira, que a sonhadora Anabelle revelou
ter o nome de Belleville, projeto que seu pai não pôde concluir, mas que ela
deixava agora nas mãos de quem encontrasse a carta e tivesse interesse em
desenvolver um brinquedo que ela não tinha como realizar.
Bom,
Lucius também não tinha como dar continuidade. Por isso decidiu unir a tal
carta uma dele explicando a situação e passando a vez a outro desconhecido que
poderia vir a descobrir aquela caixa e Belleville. É então que esta carta se
materializa no momento de vivência de Anabelle.
O autor
traça um paralelo que se define pela diferença de pontos de vista e,
consequentemente, de linha de tempo. Ali estava um ponto de comunicação
temporal inusitado, eles descobrem. Um pensava que o outro estaria armando
alguma brincadeira de mau gosto, mas os fatos estavam ali para mostrar que
Anabelle estava em 1964 e Lucius em 2014. Em vista disso, construir uma montanha-russa
caseira já não parecia tão impossível, ainda que difícil. Encantado pelo que
parecia extraordinário, Lucius ao menos se dedica a alguma pesquisa sobre o
caso e, claro, manter algum contato com Anabelle.
— É possível construir uma montanha-russa em casa?Ele deu um breve assobio.— Montanha-russa? Foi o que eu entendi?
— Exato.— E quem faria um negócio desses dentro de casa?— Não exatamente dentro de casa, mas em um terreno...
Enquanto
isso, em cada plano de vivência, Lucius e Anabelle tentavam se virar. Ela, mais
nova órfã, restou-lhe apenas a casa e Tião, fiel companhia felina; ele, estudante
do curso de Matemática, calouro, morava sozinho. Aos poucos, entre as cartas e
conversando sobre o sonho que era Belleville, eles vão se conhecendo melhor e
dando espaço a uma confiança, confiança essa que se mistura a sentimentos
ternos e uma chance, quem sabe, de aquele brinquedo vir a ser realizado.
Enquanto isso, tinha a sensação de que Anabelle estava ali, próxima de mim, escondida atrás de uma árvore, observando tudo. Isso me impressionava, como quando eu me sentia quando estava sozinho e me lembrava de minha mãe. Tinha algo a ver com pensar que a Via Láctea é pequena demais para acharmos que estamos tão longe assim um do outro, e que uma simples reta imaginária me ligava a ela, não importava onde ela estivesse. O mesmo sentimento que eu começava a ter em relação à Anabelle.
Lucius
na verdade se engaja cada vez mais, envolvido e maravilhado com cada passo que
dá quando se trata de Belleville e Anabelle. Professor Miranda, de Física,
acaba se deixando seduzir também pela proposta de uma montanha-russa caseira,
antes um projeto, então uma determinação, visto que Lucius estava,
misteriosamente, bem mais que disposto para tornar aquilo realidade.
Apesar
de tudo muito explicado e encaixado, algo na história não me ganhou. Em
diversos momentos de leitura empaquei com isso. Ao olhar com distância ao
finalizar o livro, acho que posso dizer que gostei da história, mas não da
forma como foi levada?
A
escrita e enredo são bons, tem sacadas e tal, porém, de alguma maneira, a
combinação não me conquistou ou me convenceu muito. Os encaixes me pareceram
muito propositais, tive impressões muito “americanizadas” dos estereótipos (de
personalidades diversas e ambientação melancólica), as situações um pouco
exageradas, às vezes questionáveis. Embora a trama se insira em “novo adulto”,
diversas vezes a senti como “jovem adulto”.
Os capítulos
são curtos e ligeiros, nem sempre alternados pelos pontos de vista diferentes,
pontos esses que só revelam de quem se trata durante a leitura, o que achei bom
para não entregar demais. A edição de capa guarda bem a essência da história e,
como diz, Belleville de fato é uma palavra que une Lucius e Anabelle, muito
mais do que nós, leitores, podemos imaginar. Nesse sentido, tomando A Última
Nota – romance passado do Colbert – como exemplo, a gente pode esperar
fenômenos fantásticos inexplicáveis que se apropriam simplesmente do
“possível”, sem necessidade de qualquer esclarecimento sobre eles – senão acaba
a magia, né? (rs).
Espero
que o livro flua mais com vocês,
Até a
próxima o/
Não li ainda esse livro e espero lê-lo, apesar de saber o que esperar após ler sua resenha. Havia ido a um mochila literária em que o autor estava e gostei muito da forma que ele se expressou, ainda brincou com a aparência de A casa do Lago... mas, quero lê-lo e matar a curiosidade. Obrigada pela resenha.
ResponderExcluirVi uma galera falando mesmo do filme, até então nunca tinha assistido completo. Tem bastante coisa semelhante, verdade, mas o Felipe deu suas pinceladas para formar uma história dele. Acho que ele poderia ter explorado mais isso, não sei. Conta o que achou dpois o/
ExcluirQuero muuuito ler esse livro !Parece ser muito legal !
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