MANDA
MAIS COPA QUE TÁ POUCA COPA!
Leggo
Olá,
amigos leitores, como estão?
No
post passado estava eu um pouco incerta sobre as leituras sobreviverem com
tanta empolgação sobre o evento da Copa do Mundo, maaaaaaaaaaaaaas, olha, devo
dizer, o que não li em meses, li nessas últimas semanas e fiquei muito feliz de
ver leitores internet a dentro também se esbaldando em leituras – mesmo que
seguisse o movimento de “olho no livro, olho no whatsapp, olho no jogo, olho
numa rede social”. Realmente, brasileiro tem uma força de vontade (e
criatividade) imensurável XD
Então enquanto estamos nos preparativos para o jogo de amanhã, convido vocês para um "olho no jogo, olho post"!
O que trouxe pra vocês hoje é um post especial da coluna, a Entrevista de
Leitura. Para quem não lembra ou perdeu a primeira entrevista (podem ver aqui),
relembro que é uma oportunidade de contato mais direto com os leitores, numa entrevista em que o centro das questões é a experiência de leitura - com um livro clássico. Aproveitando o lembrete, aí
vão os requisitos para quem gostaria de participar do próximo post dessa seção:
- Leitura recém-finalizada;
- Clássico da literatura (nível mundial);
- Não valem releituras.
Assim, vos apresento os convidados desta entrevista.
No
microfone de leitor está...
Luan Queiroz, estudante de Letras, que diz ter um “coração
literário onde cabe desde John Green, Suzanne Collins, J. K Rowling até Machado
de Assis”, quem gosta e lê de tudo um pouco.
Na
bancada de leitura do lado está...
A Metamorfose, de Franz Kafka.
Dados Complementares
Edição (editora e ano de publicação): Companhia das Letras, 1997.
Edição (editora e ano de publicação): Companhia das Letras, 1997.
Época de enredo: O ano exato não é informado, mas
levando-se em conta os acontecimentos, a história se passa na mesma época em
que o livro foi escrito, ou seja, inicio do século XX.
~~~~~~~~ Eis
Luan e Kafka! ~~~~~~~~
Conte-nos sobre o que trata o livro
a seu ver. Teria vontade de reler?
Luan: Acho
que de alguma forma todos conhecem Kafka (mesmo que nunca tenham lido nenhum
livro escrito por ele). Basicamente é sobre um homem, Gregor Samsa, que acorda
uma certa manhã e se percebe transformado em inseto. Não nos é revelado o
motivo dessa transformação. O que se vê nas páginas seguintes é como o nosso
protagonista e sua família encaram essa "mudança".
Minha
sensação de estranhamento foi muito grande no inicio. Não é um livro tão fácil
de ser digerido assim, mas aos poucos o leitor, assim como o próprio Gregor,
vai se acostumando com a nova condição do personagem. Duro é ver a maneira como
a família o trata em determinados momentos. Por mais asqueroso que o
"inseto" possa parecer, há traços fortes de humanidade nele ainda, o
que todos parecem esquecer.
A
barata é um símbolo: a vida do Gregor não os satisfaz, mas ele é daqueles que
"sofre calado", sabe como é? Um cara que trabalha duro num emprego
que ele não suporta para pagar a dívida do pai (que fica em casa sem fazer nada
o dia todo) e para no futuro custear os estudos da irmã que ele tanto gosta e
que no final é umas das que mais faz pressão para que o "inseto" que
era seu irmão vá embora. O interessante é que na pele do inseto é que o Gregor
realmente se sente livre: ele sobre pelas paredes, vai aprendendo a usar as
patas, e, melhor do que tudo, não tem que trabalhar.
Eu
releria pra tirar ainda mais coisa do livro. É uma obra que exige um certo esforço,
mas que te permite mil interpretações. Ainda tenho a cisma de que havia uma
tensão sexual entre o Gregor e a sua irmã... não sei, mas fiquei com essa
impressão. Tenho que reler pra tirar a prova (ou não).
Diante
do conhecimento geral sobre o livro, diria que seu pensamento atual sobre A
Metamorfose mudou muito após a leitura?
Luan: Sim,
antes da leitura, eu achava que era um daqueles livros clássicos em que o autor
misturava filosofia com ficção e acabava rendendo um caldo sujo e
incompreensível. No final das contas, não é nada disso. "A
Metamorfose" é um livro sensível, indispensável e o mais interessante de
tudo, plurissignificativo. Não é uma leitura fácil (a Literatura em geral nunca
é), mas vale muito a pena ser lido.
Quanto à sensação de estranhamento
que mencionou, foi uma dificuldade em que sentido? Por enredo, escrita,
ambientação (ou outro)? O livro chegou a bater de frente com algum ideal seu?
Isso interferiu durante sua leitura?
Luan: Os próprios acontecimentos do enredo já causam esse
estranhamento (um homem acorda na forma de inseto? Como assim?). Eu sempre tive
a ideia de que a família seria a base de tudo e acho que o Gregor compartilha
essa ideia comigo. Mas ver a forma como todos os membros da família exploravam
o pobre filho, obrigando-o a se manter num emprego detestável para sustentar
sozinho o lar me fez refletir muito até onde vai o amor familiar.
(Isso interferiu) Um pouco. À medida que me acostumava à
figura do inseto Gregor, eu me sentia ainda mais enojado pelos outros membros
da família. Isso fez eu repugnar um pouco o final (não vou contar o final
hahahaha).
(Peter Kuper adaptou a obra para os quadrinhos. Mais cenas podem ser vistas aqui - contém spoilers)
E se você se visse na condição do
protagonista? E na condição de algum familiar? Tipo, de repente você é irmão ou
pai de um inseto. Qual seria sua preferência?
Luan: Não
faço a mínima ideia do que eu faria. Nem gosto de pensar nisso hahahahahaha. Acho
que por mais difícil que possa ser (na condição de algum familiar), eu tentaria
continuar enxergando-o como um ser humano... não sei, eu não arrumaria uma
maçã no meu filho como o pai do Gregor fez.
Acho
que ser um inseto é bem ruim, mas lidar com um ente querido inseto é bem pior.
Que ideologia você sentiu ser bem
forte? Como ela repercutiu em você?
Luan: Há uma
crítica forte do Kafka ao capitalismo no livro: um homem que é forçado a estar
no emprego que ele não gosta apenas para manter o status e conseguir sustentar a família: esse é o Gregor. Percebe-se
também que ao virar inseto, a principal preocupação do nosso protagonista é o
que o chefe vai achar se ele chegar tarde no serviço. Gregor é facilmente
substituído quando o chefe descobre a nova "faceta" do personagem.
(Isso repercutiu
em) Muita reflexão. Confirmar que os pontos negativos do capitalismo não são de
hoje, que eles já estavam presentes, já estavam prejudicando pessoas lá no
comecinho do século XX, num país bem distante do nosso foi bastante
interessante. Fiquei imaginando também o quanto de nós não queríamos acordar
insetos pelo menos uma vez na vida (tanta gente reza pra acordar doente) só pra
não ter que levantar cedo pela manhã, só pra não ter que pegar um ônibus lotado
naquele dia para ir ao trabalho.
O
que diria ser inesquecível em A Metamorfose?
Luan: Acho
que a cena final, por mais que eu tenha gostado muito dela. Uma das últimas
coisas que a irmã fala para/sobre o Gregor ficaram muito na minha cabeça, vai
ser complicado esquecer.
Consegue
imaginar essa história se passando na atualidade? Como acha que a sociedade
iria lidar?
Luan: Acho
que o Gregor é o reflexo do homem moderno, logo “A Metamorfose” é um livro
muito atual. Agora do ponto de vista do enredo, um homem virando inseto... não
consigo imaginar isso, e acho que nem é tão bacana se pensar assim. A distância
entre a literatura e a realidade é o que faz com que as pessoas continuem lendo
e contando histórias.
Há algum trecho que queira
destacar?
Luan: Desculpe,
mas acabaria contando um grande spoiler
(risos). Como já falei gosto muito de uma das últimas coisas que a irmã fala
sobre/para o Gregor. É forte, é pesado e revela muito sobre os pontos fracos de
toda aquela família. Interessante que esse trecho em especial me lembra um dos
trechos da música O Vento, do Los Hermanos: “não te dizer o que eu penso, já é pensar
em dizer”.
Houve
alguma música que marcou sua leitura – ou lembrança dela?
Luan: Além
do Vento, dos Hermanos, eu fiquei imaginando que esse livro poderia ter uma
trilha sonora toda feita pelo Yann Tiersen. A dor e a liberdade do Gregor
seriam ainda mais deliciosamente sentidas por mim.
Complete:
“O livro é legal, mas...”?
Luan: O livro é legal, mas Kafka o achava uma porcaria (risos). Vai
entender...
~~~~~~;~~~~~
E
aí, também ficaram remexidos com Kafka? Quais eram/são suas ideias sobre A
Metamorfose?
(Doodle da Google em 2013, em homenagem aos 130 anos de nascimento de Franz Kafka)
O
que eu conhecia sempre foi pouco, minha curiosidade era mais pela questão do
inseto e da reação das pessoas. A simbologia da qual o Luan comentou
também, e agora parece mais forte na minha cabeça isso de humanidade. Gosto de
temas sociais, então acho que já tenho uma queda (?) (rs) Decerto também já fico com umas
teorias conspiratórias pra quando topar com esse livro. Obrigada, Luan, adorei o papo!
Espero
que nossos leitores também tenham gostado.
Interessados em participar de uma entrevista, dentro dos
citados requisitos, só mandar nome, um contato de rede social (FB ou twitter),
o nome do livro e do autor para marykleris@hotmail.com, assunto Littera Feelings.
Até
o próximo post,
#VAIBRASIL
Kleris
Ribeiro.
Adorei a entrevista. Parabéns pela inicitaiva, foi ótimo pra conhecer não só o livro, mas também o autor e o que o inspirou pra criar essa obra...bjsssss
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