Por Mary: Ei, pessoas! Habemus filme!
0/ Para os fãs - e também os que virarão fãs depois de lerem o livro - saibam
que já foram escolhidos os atores para a adaptação cinematográfica da obra. Os
atores escolhidos para Lou e Will são Emilia Clarke e Sam Claflin. Não sei
vocês, mas eu pirei loucamente com a "Kaleesi" de Lou e já quero
muito! Mas vamos ao que interessa?
Como Eu Era Antes de Você pode ser
encarado de diversas formas: uma história de amor, um drama familiar ou
simplesmente um ficcional cotidiano. Mas, em verdade, não é assim. Mesclando
ingredientes que, a priori, poderiam ser encarados como “comuns”, Jojo Moyes
aborda temas complexos que nos leva a questionar até mesmo os nossos próprios
valores acerca da vontade livre e consciente dos indivíduos de tomar suas
próprias decisões e até que ponto chegamos por alguém que amamos. Há mesmo
limites para ver o ser amado feliz?
A trama gira em torno de Louisa Clark, uma garçonete sem qualificação –
e gosto muito peculiar para moda – recém-desempregada que é contratada pela
família Traynor para ser cuidadora de Will, um ex-CEO mandão que ficou
tetraplégico por conta de um acidente de moto e agora apresenta tendências
depressivas, não aceitando de modo algum sua atual condição.
Por vezes até cômica, a fim de imprimir leveza em determinadas
situações, a autora aborda de forma bastante verossímil temas cotidianos na
vida de quem perdeu os movimentos, como a dificuldade de adaptação dos
deficientes físicos à sua nova vida, o preconceito das pessoas que rodeiam
o tetra – sejam familiares, amigos ou desconhecidos –, os
problemas de saúde oriundos da lesão na coluna e a má estrutura física das ruas
para recepcionar os cadeirantes, tornando ainda mais difícil sua circulação
pelas vias. Lembro que enquanto lia, pensei: Se em Londres é difícil, imagina
só no Brasil? (Preconceito de minha parte, talvez. Mas todos nós somos
conscientes das más condições da maioria das cidades de nosso país,
infelizmente)
A narrativa se dá em primeira pessoa, preponderantemente na visão de
Lou. Contudo, em alguns momentos, a narrativa é transmitida para personagens
secundários. Tal recurso é utilizado para esclarecer ideias das quais Louisa
não poderia estar consciente. Apesar de, inicialmente, ser possível que se
considere a ideia ser eventualmente confusa, a transmissão momentânea da
narrativa é necessária e clara. Primeiro que tal mudança fica isolada em um
capítulo só; e, segundo, que no início do capítulo se diz quem está narrando. A
confusão pode ocorrer, porque o leitor se acostuma à mente da personagem protagonista.
Ainda, haja vista que os personagens são bem distintos (O pai, a mãe de Will e
o enfermeiro Nate, por exemplo), o equívoco não vai muito longe. E este é um
acerto de Jojo Moyes: seus personagens não se confundem, tendo eles
personalidades próprias que os distinguem na forma de narrar os
acontecimentos.
E falando nas personalidades dos personagens, eles são apaixonantes. À
medida que a Lou é atrapalhada e excêntrica, Will Traynor é ácido e irônico. E
isso, de algum modo, os completa. Ela tenta fazer com que ele se adapte e
aceite a sua nova vida, enquanto ele faz com que ela corra atrás dos seus
sonhos, não se contentando só com o que tem. Em uma relação conturbada e, a
princípio, bastante difícil, um ajuda a curar as feridas do outro. E este é
outro acerto de Jojo: ambos tem feridas abertas que precisam ser curadas. Will
não é só o “coitadinho deficiente físico”. Will é um homem forte, educado,
cavalheiro e... bem teimoso.
Talvez seja justamente essa determinação característica de Will crucial
para o que desencadeia o principal conflito da obra. É difícil abordar um tema
tão delicado sem deixar escapar spoilers. Mas vamos lá, afinal, não
se pode falar de Como Eu Era Antes de Você sem mencionar o assunto. No início,
ficamos tão chocados com a decisão de Will quanto a própria Lou. Todavia, a
Jojo administra o conflito de forma magistral, a tal ponto que, por fim,
ficamos em dúvida acerca de nossos próprios valores. Isto é, de forma sutil, a
autora põe em cheque ideias que acreditávamos acertadas.
Veja bem, não estou dizendo que vamos mudar de ideia e passar a
concordar com a solução proposta pela Jojo. Eu mesma tenho meus próprios
conceitos e reservas sobre o assunto. Porém, indiscutivelmente, somos levados a
reavaliar o que fazemos pelas pessoas que amamos e como, muitas vezes – e por
mais que soframos muito com isso –, somos capazes de passar por cima dos nossos
próprios valores em nome da felicidade do ser amado.
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“Você está marcada no meu coração, Clark. Desde o dia em que chegou, com suas roupas ridículas, suas piadas ruins e sua total incapacidade de disfarçar o que sente.”
P. S. Não resisto e deixo uma
foto da primeira leitura dos atores na preparação para o filme.