quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Resenha: "Adeus à inocência" (Drusilla Campbell)



Por Marianne: Sou doida por livros e filmes de temática psicológica. Desses que falam sobre problemas comportamentais ou que criam uma situação inusitada que testa a conduta de todos os personagens e deixa a gente sem reação. E pela sinopse de “Adeus à  inocência” tive a impressão de que seria essa linha que o livro seguiria. Até seguiu mais ou menos... Mas bem, vamos pra resenha que eu explico melhor.

Madora era uma adolescente perturbada pelo suicídio do pai e o fracasso em que se transformou seu relacionamento com a mãe por conta disso. Até Willis aparecer e a salvar desse fundo do poço. Sem a aprovação da mãe, Madora fugiu com Willis assim que completou a maioridade e desde então vive isolada no meio do deserto da Califórnia com o moço.

Willis é um rapaz incompreendido pelo mundo que foi criado pela mãe e acompanhou a irmã Daphne se envolver com drogas e chegar no fundo do poço. E por esse motivo sente uma necessidade de ajudar mocinhas perdidas por ai a entrarem no rumo.
Madora não iria dar-se ao trabalho de lavar os lençóis, apenas juntaria todos e os jogaria no lixo; e se Willis dissesse que era um desperdício, poderia ele mesmo tentar tirar o sangue. Ela imaginou como seria falar com ele num tom tão audacioso. Então se deteve. Imaginar já era perigoso, pois ela podia ficar tão a vontade em suas próprias opiniões que um dia se esqueceria e as falaria em voz alta.
As coisas começam a mudar quando Willis traz Linda, uma adolescente de dezesseis anos e grávida, e a mantém trancada e acorrentada num trailer que fica no quintal com a premissa de que a garota era uma drogada que vivia nas ruas e ele a estava ajudando. Madora apoia e ajuda Willis sem questionar, admirando sua generosidade mesmo quando ele faz o parto de Linda e vende o bebê.

A coisa segue nesse contexto bizarro até que Django aparece. Django é um adolescente de onze anos que perdeu os pais (o pai era um astro milionário do rock)  num acidente de carro e teve de abandonar sua vida de rei do camarote em Bervely Hills pra viver em Arroyo com sua tia Robin, que ele nunca havia ouvido falar até então.

Django encontra a casa de Madora no meio do deserto quase que por acaso e na falta de amigos e alguém pra conversar (ele e a tia Robin tem um relacionamento tão próximo e amigável quanto você e aquela barata voadora da sua casa) ele vê em Madora uma amiga em potencial.
Madora, mesmo sabendo que Willis ficaria furioso se soubesse das visitas de Django, arrisca tudo por um tempinho na companhia do menino. De repente, sem entender muito o porquê, Madora começa a ficar incomodada com as perguntas de Django em relação  à sua casa que não tem telefone e nem TV, as condições em que vive com Willis (a casa é um chiqueiro) e ao trailer  onde Linda está “hospedada”. Basicamente o moleque coloca Madona pra pensar um pouquinho fora da caixa. E funciona. 
Murray, o gerente, disse que ela tinha um dom natural. Ela ficara orgulhosa e ávida por contar a Willis como fora elogiada, mas ele não se impressionou. Disse que tudo que precisava para servir comida eram duas pernas, duas mãos e um cérebro do tamanho de um repolho.
Madora começa a se questionar sobre coisas tipo “Seu eu quisesse trabalhar fora, Willis deixaria?”, “Se eu quisesse dar uma volta por ai, Willis se incomodaria?”, “Será que talvez, eventualmente, de repente, assim, por acaso, deixar Linda trancada e acorrentada no trailer não é meio que... errado?” (AEEE! Vai Madora, vai que é hexa menina!)

Por mais que Django plante a sementinha do “acorda menina!” em Madora, foram tantos anos convivendo com os abusos psicológicos de Willis que se desprender dessa corrente invisível é muito difícil. Acompanhamos isso de perto nos diálogos entre os dois, mas o que mais me chamou a atenção foram as afirmações de Madora a si mesma de que deixar Willis seria um erro porque ele precisa dela (ele mesmo afirma isso em vários momentos do livro).

Me lembrou muito um vídeo que uma amiga um dia me mostrou de um projeto chamado TedX. No vídeo uma mulher relata os abusos psicológicos e físicos que sofria do seu companheiro e revelou o motivo principal por não o ter deixado antes: a sensação de que o homem é uma alma frágil e vulnerável, incompreendido por todos e só ela o entendia e poderia ajudá-lo.
Ele podia dizer todas as coisas horríveis que quisesse. O amor dela era como um escudo, as palavras ricocheteavam sem feri-la. Não dava pra pensar em si mesma quando ele estava claramente sofrendo, tão furioso e humilhado. Era o trabalho dela levantar-lhe o ânimo quando ele mesmo não podia fazê-lo.
Sei que pra muita gente é difícil compreender esse sentimento, mas ele está ai. E foi justamente nesse sentido que eu acredito que a autora pecou um pouquinho. No desenrolar da história vemos claramente uma Madora desenvolvendo suas próprias ideias e vontades e questionando sua realidade atual em função disso. Mas no final do livro não sei o que aconteceu, parece que o prazo pra entregar estava se esgotando e a autora pôs pra fora a primeira ideia que lhe veio na cabeça.
Eis aqui a verdade: assim como ela era uma garota sem sorte, Willis era um garoto com uma história triste. Pensando nisso uma piedade maternal jorrou dentro dela. Por ele e por si mesma.
Os personagens são bem desenvolvidos durante o livro e no final não existe uma auto análise de Madora pra justificar seu comportamento. Nem se fala muito sobre o comportamento de Willis. Django do começo ao fim do livro tem um papel de protagonista de filme infantil da Sessão da Tarde, então sobre ele nem vou me estender. Alguns trechos também no decorrer do livro que (imagino) foram escritos pra chocar o leitor passam tão beges que a gente nem percebe.

A leitura vale a pena, saímos um pouco da nossa caixa pra entender o porquê de existirem mulheres que permitem que seus companheiros a dominem dessa maneira e pensarmos um pouquinho antes de julgar. Afinal, é muito fácil julgar todo um contexto baseado em nossos rasos “achismos” e ignorarmos toda a complexidade psicológica e comportamental que existe no ser humano.

comentários

  1. Espero que você goste Nil. Esse livro nos coloca bem na pele da personagem, quase entendemos o porquê de todas as atitudes dela.

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Ana Liberato