segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Resenha: "O túmulo sob as colinas" (Belinda Bauer)

Por Sheila: Oi pessoas! Como estão? Eu estou muuuuiiittooo melhor agora que começou a esfriar aqui pelo Sul do país. Bom, trago a vocês hoje a resenha de um romance de estréia publicado pela Record. Trata-se de Belinda Bauer, uma autora britânica de quem eu nunca tinha ouvido falar  que já possui outros livros lançados - mas ainda não no Brasil - que seguem o mesmo estilo deste lançamento.

Tanto a narrativa quanto a capa - que ilustra muito bem o tom que o livro segue - são sombrios. Não por que este seja um livro de terror, mas por tratar de um tema pesado e uma situação melancólica. A própria descrição do local onde a trama se passa tem uma coloração cinzenta ...


A charneca de Exmoor gotejava com samambaias sujas, relva áspera e descolorida, tojo espinhento e urzes do ano anterior. Tudo tão escuro que um incêndio parecia ter varrido a paisagem, levando consigo as árvores e deixando a charneca fria e exposta para enfrentar o inverno de forma desprotegida. A garoa dissolvia o horizonte ao redor e mesclava céu e terra num casulo cinzento, em torno da única coisa visível na paisagem: um garoto de 12 anos, metido numa calça preta impermeável, mas sem chapéu, sozinho com uma pá.


Esse garoto é Steven Lamb, um garotinho que vive em uma família que passou por uma perda terrível: seu tio, Billy, desapareceu misteriosamente quando tinha aproximadamente a sua idade. Agora, essa família enlutada - mesmo decorridos mais de 20 anos - simplesmente é um lugar frio e tenso, onde Steven se sente agredido pela mãe (que as vezes acaba perdendo a paciência e batendo muito) e ignorado pela avó.
A avó de Steven olhava pela janela com o olhar  fixo. Ela começara a vida como Glória Manners. Em seguida, tornou-se a esposa de Ron Peters. Depois disso ficou sendo a mãe de Lettie, e então de Lettie e Billy. Decorrido muito tempo, passou a ser conhecida como a Pobre Sra Peters. Agora, ela era a avo de Steven. Mas, no fundo, sempre seria a Pobre Sra Peters; nada poderia mudar isso, nem mesmo seus netos.
A avó de Steven é uma mãe inconformada com o sumiço do filho, que o espera em frente à janela há muitos anos, tanto que acaba por esquecer sua filha mais velha, Lettie, ausentando-se da família e alheando-se do mundo. E é por isso que Steve Lamb carrega uma pá: ele não acredita que seu tio irá voltar. E acredita que no momento em que conseguir encontrar o corpo do tio falecido, talvez consiga trazer alguma paz para sua família. aliás, ele imaginava que faria muitas coisas com seu ato heroico, principalmente pela avó ...

Ela deixaria de ficar parada na janela, esperando a impossível vinda de um garoto para casa; passaria a prestar atenção a ele e a davey, e não apeas daquela form desprezível, rancorosa, mas da maneira que uma avó deveria fazer, com amor, segredinhos e uns trocados para comprar bala.
E, se a avó amasse a ele e a Davey, talvez ela e sua mãe ficassem mais amáveis uma com a outra, e se isso acontecesse, todos seriam mais felizes, seriam uma família normal e ... Bem ... tudo apenas ficaria ... melhor.
Mas há um pequeno problema: as escavações de Steven já duram dois anos, e até agora o único esqueleto que encontrou foi o de uma ovelha ... nada nunca foi provado, e é por isso que a avó de Steven espera pelo retorno do filho há tanto tempo, mas alguém foi preso pelo sumiço de diversos outros garotinhos, mais ou menos na mesma época que o tio Billy. Seu nome era Avery, e ficou conhecido como o Estrangulador da Van, um verdadeiro predador, que nunca confessou por nenhum de seus crimes.

Durante um segundo, Mason Dingle não assimilou o que estava vendo. Depois, recuou um pouco a cabeça, batendo-a na armação da porta. Avery já vira essa reação antes. Agora, aconteceria uma de duas coisas: ou o garoto começaria a ruborizar e a gaguejar, afastando-se rapidamente, ou começaria a ruborizar, e a gaguejar, sentindo-se obrigado – porque Avery era um adulto que lhe fizera uma pergunta – a apontar para a área no mapa, de modo que sua mão ficaria a poucos centímetros do pênis dele. Quando isso acontecia as coisas podiam seguir qualquer caminho, e as vezes isso acontecia. Avery preferia a segunda reação, por que prolongava o encontro mas a primeira também era boa: ver o medo, a confusão e o sentimento de culpa na expressão dos garotos, afinal, no fim das contas, todos queriam aquilo. Ele proprio era apenas mais honesto quanto ao assunto.
Mas Mason Dingle mostrou-se uma presa muito mais difícil do que ele poderia imaginar, o que culminou em sua prisão e, após meses de averiguação, a acusação por seis estupros e assassinatos de meninos entre 8 e 11 anos, todos enterrados na charneca de Exmoor. Assim, Steven não tem por que acreditar que seu tio fora enterrado em algum outro lugar. Ou será que teria?

Para descobrir, Steven resolve ter uma ação arriscada: irá escrever para Avery, na prisão, e tentará descobrir onde seu tio está enterrado, para trazer alívio para sua família. O que Steven não imaginava é que estava embarcando em um jogo perigoso, atiçando a curiosidade e a mente perversa de um serial killer que decide que não tem mais nada a perder - e que é muito, mas muito inteligente.

"O túmulo sob as colinas" é um thriller triste e tenso, em que vemos a inocência ser esmagada pela crueldade e perversidade que ainda existem espalhadas pelo mundo. Em alguns momentos, ler os pensamentos de Avery pode se tornar uma tarefa penosa, tendo em vista o conteúdo explícito do qual a autora lança mão.

Agora, passado todos esses anos, ainda conseguia recapturar parte da emoção daquele momento quando identificava um alvo. O modo como tinha a ereção, sua boca cheia de saliva, a ponto de ter de engoli-la para na babar como um retardado (...) Ele engrenou a marcha da van e seguiu pela rua, puxando o mapa para cima das pernas ...
Confesso que este é um tipo de tema que me causa certo mal estar. Mesmo assim, a inteligência da escrita de Bauer, aliados à trama tensa e carregada de suspense me fizeram "devorar" as 320 páginas em menos de dois dias, e as páginas finais são realmente de tirar o fôlego.

Recomendo, e estou ansiosa para ler os outros títulos da autora que, espero, sejam lançados pela Record também! Abraços!




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Ana Liberato