*Por Mary*: Sabe quando você pega o livro, olha a capa, lê a
sinopse, a orelha, pensa que ele vai seguir uma linha e quando começa a lê-lo
descobre que é absolutamente diferente (não de um jeito ruim) do que você
esperava? Pois é, aconteceu justamente isso. A abordagem, o modo como se
explorou o conflito e a forma como os fatos se desenrolam ocorreram de forma
bastante inesperada para mim.
Mas vamos por partes, não é? Fui para o final, antes de explicar do que
se trata o livro!
Em Louco Por Você,
conhecemos Nell. Com Kyle, ela forma o casal perfeito: bonitos, responsáveis e
com um grande futuro pela frente. Por se conhecerem desde crianças e serem
melhores amigos desde sempre, a descoberta do amor parece ter sido um caminho
natural, mas Kyle se vai em um trágico acidente, deixando Nell devastada,
mergulhada na culpa, no sofrimento e na dor. Colton, por outro lado, é o cara
“errado”, o bad boy com uma doçura
indescritível e irmão mais velho de Kyle. Curiosamente, Colt é quem Nell mais
precisa no momento para ajudá-la a sarar as feridas, posto que ele mesmo tem as
suas próprias para serem tratadas.
A narração se dá em primeira
pessoa, variando-se os pontos de vista entre a protagonista Nell e Colton. A
autora dividiu o livro em três partes, que eu, pessoalmente, prefiro chamar de
fases. Essa forma de delimitação me pareceu essencial para ressaltar as
mudanças ocorridas no decorrer da trama. Quero dizer, as “partes” são espécies
de delimitações das fases do livro, que acentuaram mudanças de comportamento
dos personagens, de momentos emocionais e até mesmo de ambientações.
Algo importante de mencionar é
acerca da construção dos personagens. A Jasinda Wilder é muito feliz na
composição de suas personas. Como não
há muitos personagens no livro, é facilmente possível fazer uma breve análise
deles. Não vou me ater aos pais, porque aparecem muito pouco e não dá para
formar uma opinião sobre eles que mereça destaque. Contudo, Nell, Kyle e Colton
possuem características muito distintas, que os tornam pessoas completamente
autônomas e isso facilita até mesmo na identificação de suas falas.
Além disso, a relação que nasce
entre Nell e Colton não se parece em nada com a relação que existia com o Kyle,
mesmo porque as coisas acontecem em momentos bem diferentes da vida da
protagonista. E isso acaba convergindo com outro ponto que eu queria tocar: a
clara mudança no comportamento da Nell – mas isso eu deixo para comentar melhor
mais à frente.
Deixo para falar do Colton mais
adiante também, quando chegar ao conflito principal, assim não fico repetitiva.
Quanto ao Kyle, eu só preciso confessar que não gostei muito dele, não sei bem
o motivo. Não é o fato de ele ser perfeito demais. O moço era até bastante fofo
e acho que ele realmente amou a Nell, só não me cativou.
“Eu sei que somos jovens. E sei que a maioria das pessoas diria que somos apenas crianças, ou muito novos para saber o que é amor. Mas não eestou nem aí. Conheço você a minha vida toda. Dividimos todos os momentos juntos. Cada momento importante de nossas vidas aconteceu quando estávamos juntos (...). E agora estamos aprendendo a nos apaixonar juntos. Não me importa o que os outros digam. Eu amo você. Eu sempre vou amar você, não importa o que aconteça conosco no futuro. Amo você hoje e sempre.”
Jasinda Wilder aborda temas como
perda, recomeço, culpa, sofrimento e autoflagelo de forma direta e cuidadosa,
sem abandonar o erotismo. Em geral, costumo ter certas reservas com relação ao
erotismo, porque acredito que há uma linha muitíssimo tênue que o separa da
pornografia e nem todos os autores conseguem administrar bem a trama,
relacionando-a. Contudo, Louco Por Você
consegue manter essa linha bem delimitada, de modo que Jasinda em momento
nenhum perde o foco da história. Os momentos quentes são um plus para o leitor, mas a trama se
sustenta por si só, sem necessitar de tais artifícios para ratificá-la.
Voltando ao comportamento da
protagonista, a Nell que conhecemos na primeira fase não se parece em nada com
a Nell da segunda fase. Há um verdadeiro contraponto entre sua clara
imaturidade, insegurança e romantismo próprios de uma adolescente de 16 anos
com a jovem de 20 anos em luto, machucada, deprimida e culpada.
“Não era nada combinado, necessariamente, apenas... impressão. O pai dele, o talentoso deputado; meu pai, o CEO, o empresário de megassucesso. Seus filhos lindos e perfeitos juntos: Bom, oras... Eu sei que isso parece arrogante ou sei lá o quê, mas é verdade. (...)”
“Ela tenta se afastar de mim e eu deixo. Ela se joga da cama, caindo de quatro no chão, e se arrasta até o banheiro. Eu a ouço vomitar e reprimir o choro. Levanto e a observo da porta. Ela crava as unhas nos braços com tanta força que vejo gotas de sangue escorrendo pelas mãos.”
Nesses dois trechos acima vemos
dois momentos distintos da Nell, que não consegue lidar com a perda do Kyle e
começa a se destruir. O primeiro está inserido logo na primeira página do
livro, enquanto o segundo está na segunda parte da obra. O Colton é
imprescindível para puxar a Nell do poço em que ela está se afundando.
Falando em Colton <3 <3 <3 <3 <3 <3 <3 <3 <3
<3 <3 <3 <3 <3 <3
Eu vi há algum tempo atrás um
estudo que apontava que os homens com cara de mau são mais bonzinhos do que os
demais e acho que o Colt facilmente se enquadraria nesse estudo. Ele é
extremamente doce, gentil, compreensivo, carinhoso e protetor (a lista de
adjetivos é imensa, acreditem). Em contrapartida, ele é um cara sofrido, que já
viveu muita coisa, encarou a perda de perto e teve que aprender na marra a
viver sozinho. O Colton é um homem que nos toca profundamente. Apesar de se
tratar de um brutamontes (fisicamente falando), há momentos em que você só quer
pegá-lo no colo e afagar seus cabelos, fazer um carinho e garantir que tudo ficará
bem.
“Mas quando você sente aquela necessidade por alguém que o consome por inteiro, uma pessoa por quem você faria qualquer coisa no mundo, sabe? (...) Eu amei desse jeito. E ela se foi. É por isso que tenho essas coisas no peito, as cicatrizes. Eu não conseguia lidar com essa dor.”
(O trecho que eu queria mostrar para vocês tem um spoiler monstruoso,
gente! Aí não dá.)
Louco Por Você relaciona o drama, o romance e o erotismo de forma
inteligente, coordenada e coerente. Além disso, Jasinda Wilder consegue nos
levar a um mundo desconhecido para muitos de nós: o de pessoas que sofrem com
problemas psicológicos e precisam de ajuda, mas não conseguem gritar por
socorro.
Para encerrar, quero citar o
trecho de uma série que gosto bastante, chamada Forever. Assistindo ao episódio da semana passada – que,
coincidentemente, tinha como tema a utilização da dor física como válvula de
escape para a dor psicológica – tive uma espécie de clique ao ouvir o
protagonista narrar a seguinte passagem e achei que tinha tudo a ver com o tema
debatido em Louco Por Você:
“Nosso corpo sente dor para nos alertar do perigo. Mas isso também nos lembra que estamos vivos, que ainda podemos sentir. Por isso que alguns procuram por isso. Enquanto outros por não sentir.”
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