segunda-feira, 30 de março de 2015

Resenha: "Perdendo-me" (Cora Carmack)

Por Sheila: Oi pessoas! Como vocês estão? Eu parei de fazer comentários sobre tempo/humor ou assemelhados, já que as postagens agora são programadas com bastante antecedência - por mim, diga-se de passagem - e as vezes os meus comentários ficavam totalmente fora de contexto!

Então vamos passar sem delongas à resenha de hoje! Eu ainda não tinha lido nada da Cora Comarck,  por isso fui dar uma "fuçada" pelo nosso querido amigo google  e ver o que encontrava a respeito. Pois então, descobri que este livro foi primeiro autopublicado pela autora para só depois, quando atingiu uma procura grande pelo público, ter seus direitos comprados por uma editora. (legal, não é mesmo? Como autora, isso me faz ter esperanças)

Para dar uma introduzida na história, vou colocar para vocês a sinopse presente no skoob:
Skoob: VIRGINDADE. Bliss Edwards vai se formar na faculdade e ainda tem a sua. Chateada por ser a única virgem da turma, ela decide que o único jeito de lidar com o problema é perdê-lo da maneira mais rápida e simples possível com uma noite de sexo casual.
Tudo se complica quando, usando a mais esfarrapada das desculpas, ela abandona um cara charmosíssimo em sua própria cama. Como se isso não fosse suficientemente embaraçoso, Bliss chega à faculdade para a primeira aula do último semestre e... adivinhe quem ela encontra?

Mas vamos dar uma situada. A realidade americana, por exemplo, é bem diferente da nossa. Então, apesar de Bliss estar se formando, ela tem somente 22 anos. E, na verdade, nem é ela quem tem tantos problemas assim para lidar com sua virgindade, mas sua amiga Kelsey que acredita que isto seja inadmissível.

Apesar de não fazer seu estilo, Bliss aceita ir para um bar com a amiga e "escolher ao acaso" o moço que dará fim  a esta situação mas, como vocês podem ter notado pela sinopse, as coisas acabam não dando muito certo, e a moçinha acaba desistindo bem na "hora h" e mandando Garrick embora. E reencontrá-lo na faculdade será muito mais que embaraçoso. Na verdade, para Bliss parecerá um tormento! Mas eu não vou contar por que, vocês terão de ler o livro para descobrir.

Num primeiro momento, confesso que nutri um certo preconceito pela leitura. Parecia ser mais um daqueles romances hot que pegaram carona na série "50 tons" o que já ficou francamente enjoativo. Isso foi o que mais me surpreendeu pois, apesar de haver sim algumas cenas um pouco mais "quentes" o foco da autora parece ser completamente outro.

Na verdade, Bliss e seus amigos estão em uma fase de transição, vivendo ainda muitos conflitos um tanto quanto adolescentes. Eles estão terminando a faculdade, logo esta na hora de que eles façam algumas escolhas, enveredem por alguns caminhões e entendam que errar, neste período, faz parte.

Além disso, a escrita é leve, lida com estes conflitos com grande suavidade, e faz inclusive com que demos algumas boas risadas durante a leitura. Por mais que seja um romance um tantinho clichê, as cenas fofinhas de Bliss e Garrick juntos acabam compensando, e tornando a leitura agradável. Leve para ler quando for tirar férias. Recomendo!




sexta-feira, 27 de março de 2015

Resenha: “Encontrada” (Carina Rissi)

*Por Mary*: Ian <3 Vai ser muito difícil (eu diria quase impossível) escrever uma resenha coerente e imparcial hoje. Espero que compreendam. >.<

*suspira*
*suspira*
*suspiramaisumpouco*

Mas vamos lá.

Nós vimos em Perdida que Sofia largou o seu tecnológico Séc. XXI para viver o seu felizes para sempre ao lado de Ian (<3 <3 <3), no pacato Séc. XIX. Em Encontrada, descobrimos que, apesar de a decisão ter sido fácil (tão fácil quanto respirar), não se pode dizer o mesmo de sua adaptação à nova vida. Bem, não se pode julgar, afinal, se imagine você no mundo de, pelo menos, duzentos anos atrás? As coisas acabam saindo um pouco do esperado, pois Sofia parece ser um ímã para confusão (Já diria a Nina: “Pobre Ian...”). E, então, Sofia percebe depois de muita cabeçada que a única pessoa capaz de estragar o seu felizes para sempre é ela mesma. 
Contrair matrimônio. Eu não conhecia nenhum bom uso para aquele verbo: contrair dívidas, contrair um vírus... Os bíceps de Ian se contraindo e estufando as mangas da camisa enquanto ele treinava seus cavalos... humm... Tudo bem, um uso era bom, mas só aquele. Alguém devia fazer alguma coisa a respeito disso. Não é para menos que as pessoas fiquem com um pé atrás quando pensam em se casar. Como fora o meu caso, antes de conhecer Ian e ele me fazer perceber que um papel não mudaria nada. Eu tinha dado o grande passo, o maior de todos na verdade, ao aceitar abandonar o meu moderno, tecnológico, cheio de facilidades século vinte e um, para viver com ele no arcaico e sem recursos século dezenove.” 
Assim como em Perdida, a narração se dá em primeira pessoa, no ponto de vista da protagonista Sofia. Conforme eu avisei lá em cima e já mencionei na resenha passada, não vou conseguir ser imparcial, porque falar de um livro que amo tanto e de uma autora que admiro muitíssimo não será nada fácil. Carina Rissi é a responsável pelas maiores DPL’s de que me lembro.

Quando terminei Perdida e soube que haveria sequência, desconfiei. Porque o final era tão perfeito, que, na minha cabeça, já tinha fechado o ciclo e qualquer coisa só poderia estragar aquele casal lindo, com história mágica. Ledo engano. E, agora, sabendo que serão, ao todo, seis livros, mal posso esperar, quicando na cadeira ansiosa e louca por mais Ian (<3 <3 <3) na minha vida (E a DPL que se dane!). 
“Se forem tolos o bastante para isso, que riam. – Faíscas prateadas reluziram em suas íris negras. – Eu a amo, Sofia, e sei, a duras penas, como é impossível viver sem você. Posso lhe garantir, não estou disposto a repetir essa experiência enquanto estiver vivo. Nada, nem mesmo você, me convencerá do contrário. – E se inclinou para me beijar.” 
Ian (<3 <3 <3)

Falando em encerramento de ciclo, a Carina é muito feliz nos finais de cada livro. Quero dizer, apesar de haver uma continuação, o volume não se encerra no meio de uma ação e nem te dá a impressão de que algo está inacabado. Muito pelo contrário, você sente que aquele volume acabou, mas outros te esperam. Tanto em Perdida, quanto em Encontrada, apesar de fazerem parte de uma série, os núcleos dão a sensação de fechamento; o que dá, inclusive, a impressão de independência entre as obras. Desse modo, ao fim de Perdida você suspira muito muito muito pensa: Uau, que final lindo! O livro poderia ter acabado ali, mas você sabe que há uma continuação e isso é um plus. Da mesma forma, ao fim de Encontrada, você sabe que haverá uma continuação, mas sabe também que, se acabasse justo ali, já estaria perfeito.

Sem nenhum medo de rasgar seda, afirmo que a Carina Rissi é uma autora original, divertida e talentosa que não perde em absolutamente nada para os escritores internacionais mais badalados. Com uma escrita que prende a atenção do leitor, a Carina nos brinda com personagens cativantes, situações divertidas e histórias envolventes.

Eu cheguei a comentar na resenha de Perdida que a Carina Rissi é impecável quanto às suas pesquisas, sobretudo com relação a costumes de época, moda e aspectos históricos. Mas, mais ainda que isso, a Carina é magistral em adaptar e adequar as informações de acordo com a necessidade da história. Se tem alguém que sabe fazer uso de sua licença poética, esse alguém é a Carina Rissi. 
“O padre Antônio já estava ali, e, assim que Ian me ofereceu o braço, o sacerdote nos deu as costas. Ultrajada com a falta de educação do sujeito, me virei para Ian, para ver se ele estava tão ofendido quanto eu, mas ele me encarava com tanta intensidade que as palavras ficaram presas em minha garganta (...). Eu podia ouvir a voz grave do padre dando andamento à cerimônia, mas não era capaz de entender uma única palavra, como se ele falasse latim (...). Foi aí que meus olhos se arregalaram ao ouvir suas palavras. Ele não parecia falar latim. Ele estava falando latim! Comigo!” 
Se em Perdida, Ian já havia arrebatado os corações de cada uma das leitoras, em Encontrada ele recolhe os corações de cada uma de nós e os guarda no bolso. Nós somos dele e já não tem para onde correr. É irreversível. #LoucasPorIanClarke


“Sofia, você é diferente de um modo extraordinário. Você é extraordinária! É a razão de eu acordar no meio da noite só para me certificar de que ainda está ali, tamanho é o medo que tenho de perdê-la outra vez. É o motivo pelo qual me sinto tão afortunado, é a causa do sorriso estúpido que me estica a boca antes de dormir. As especulações da sociedade não significam nada para mim.”

É, o Ian continua lindo.

Há um motivo para perdoarmos todos os vacilos da Sofia: é por causa dela que somos presenteadas com mais e mais cenas belíssimas do Ian (<3 <3 <3).



E olha só o resultado da etiquetagem?!





quarta-feira, 25 de março de 2015

Resenha: “Perdida” (Carina Rissi)



*Por Mary*: Não só é muito difícil falar de um livro que gosto tanto, como é muito difícil ser suficientemente coerente com relação a uma escritora que admiro profundamente. É, amigos, estamos diante da minha maior DPL dos últimos tempos.

Em Perdida conhecemos Sofia, uma típica mulher do Séc. XXI completamente adepta às suas tecnologias e facilidades, independente e que tem uma completa fobia por casamento. A mera palavra já causa arrepios. Ela não acredita muito no amor ou na existência de uma relação verdadeiramente longa e duradoura. “Sem amor, mas sem dor”. Ela vive muito bem assim – ou finge acreditar que vive – até que um dia algo muito louco acontece: o seu novo celular a transporta para o ano de 1830. Sim, meus queridos, Sofia vai parar no Séc. XIX e lá é acolhida pela família Clarke, conhecendo Ian, um verdadeiro príncipe encantado. E, como se já não fosse muito difícil entender qual a sua missão naquele mundo novo – ou estaria louca? – Sofia ainda precisa lidar com a intensa atração que sente por Ian.

Parei para reler algumas passagens e, assim, articular melhor essa resenha e me surpreendi com o quanto me identifiquei com essa Sofia pragmática e cética do início da obra. 
“Você sempre foi muito cética, não é? Nunca acreditou em magia. Nem mesmo em contos de fadas ou Papai Noel. Sempre prática! Está na hora de começar a crer que existem mais coisas no universo além daquelas que os seus olhos podem ver. E finalmente começar a viver a sua vida! Você sempre a deixou para depois, esperando que ela acontecesse, mas nunca fez nenhum esforço para isso.” 
Estranho, não tinha reparado nisso na primeira vez que li...

Sabe quando você fecha o livro e sente um vazio imenso, como se alguém que você ama muito tivesse acabado de se afastar de você e ido para muito longe? E aí você não consegue pegar outro livro, porque ainda está preso no mundo do livro anterior, nos personagens e só consegue pensar neles. É, meus caros, isso é uma grande ressaca literária ou mais comumente conhecida como DPL (Depressão Pós-Livro).

Fiquei justamente assim. Uma grande e terrível fossa literária.

Em Perdida você será levada para um belíssimo conto de fadas moderno, com seus vestidos bufantes de princesa, bailes e um príncipe encantado de arrancar suspiros. A obra é escrita em primeira pessoa, a partir do ponto de vista de Sofia. A trama é ágil, divertida e a Carina Rissi sabe dar o tom certo para as conversas, desde as mais engraçadas até as mais sérias. Com SofIan você passará do riso às lágrimas em questão de minutos, sem esquecer dos reiterados suspiros que sem querer nos escapa entre uma cena e outra. 
“Sinto que posso... flutuar quando estou com você. Como se fosse capaz de realmente voar! Sinto-me completo pela primeira vez, Sofia. Há uma força em você que me atrai, que me arrasta para perto, uma força inexplicável que turva os meus pensamentos (...). E quando não estou com você, meu peito fica vazio, como se meu coração se recusasse a bater até que a encontre novamente. Sinta! Ele diz Sofia, Sofia, Sofia! Tem sido assim desde a primeira vez que a vi. Desde aquele instante percebi que não era mais dono do meu coração, que ele não me pertencia mais. Então... (...) Não diga que não existe nós!” 
Ai. Meu. Deus! <3 <3 <3

Eu costumo dizer que, para um autor, a pesquisa é fundamental. Sobretudo para quem escreve romances históricos e a Carina cumpre isso de forma magistral. Muito além de demonstrar a pesquisa aprofundada que faz em suas obras – de costumes, aspectos históricos e de moda – a autora apresenta de forma bastante original a sua capacidade de utilizar a licença poética a seu favor. Isto é, de utilizar as circunstâncias pesquisadas e adaptar, de forma a melhor se adequar às necessidades da história.

Outro ponto interessante a destacar, mas que está relacionado ao que menciono no parágrafo anterior – é que a Carina não define o nome das cidades em que se ambientam os fatos, de modo que você tem a liberdade de visualizar um mundo diferente, onde, por exemplo, não existiu a escravidão (tão abominável, que seria perfeito se realmente pudéssemos apagar da História). Isto é, muito embora, pela descrição, a metrópole mencionada se relacione bastante a São Paulo, poderia ser qualquer outra, cabendo ao leitor fazer a sua própria construção.

Essa “temporada” que a Sofia é obrigada a passar em um século atrasado e arcaico serve para fins de autoconhecimento. A Sofia, muito além de quebrar a cabeça para entender o que diabos a vendedora queria ao mandá-la para lá, acaba aprendendo mais sobre si mesma e sobre o que ela acreditou nem existir: o amor. 
“Contos de fadas podem se tornar realidade, Sofia. Basta que a princesa não lute contra a própria felicidade.” 
Tentarei me lembrar disso, Ian, prometo.

E, todo esse conflito, toda essa dificuldade em se adaptar e acreditar que algo tão bonito pode acontecer na vida real, mesmo que indiretamente, atinge o leitor, fazendo-o refletir. Porque até que ponto essa vida corrida que a gente leva nos distancia do que realmente importa? Quero dizer, até que ponto se preocupar tanto com as coisas – muitas vezes supérfluas – com as quais nos preocupamos não nos distancia do amor, da família, dos amigos e de nós mesmos?

Não vou cansar de elogiar a Carina, porque ela é simplesmente fantástica. Os seus personagens levam um misto completo de verossimilhança, magia e romantismo. É como trazer os contos de fadas para a vida real e você quer acreditar na possibilidade, por mais difícil que possa parecer. A Sofia, por exemplo, é atrapalhada, teimosa, petulante e só sabe se meter em confusão, dada à sua propensão à impulsividade. O Ian, por outro lado, é gentil, doce, elegante lindo maravilhoso tudo de bom e carrega consigo a perfeição do século em que vive, demonstrado em seus modos polidos, a fala pausada e bem articulada, os movimentos calculados e suaves. Um verdadeiro cavalheiro. 
“- É uma caneta. Você usa para escrever. Assim. – Tomei o objeto de suas mãos e fiz alguns rabiscos num pedaço de papel (minha conta de telefone, constatei). – Não me diga que ainda não tem caneta aqui? - Não, não tem! – Ele olhava fascinado para a minha caneta simples, comprada no supermercado. – Usamos pena e tinta para escrever.” 
Se ficou contente desse jeito com uma Bic, imagina o Ian com uma Mont Blanc?! Rs.

E, como se já não bastassem todos os elogios ali acima, ele carrega certa inocência, uma doçura indescritível e o amor mais devotado que se pode imaginar. Se você não se apaixonar, ah, minha querida, esse coração é mesmo duro, viu? Aposto um caramelo, que não tem cristão que resista aos encantos de Ian Clarke. 
Ian. Ian era a resposta para todas as minhas perguntas. Eu não tinha mais dúvidas quanto a isso. Era por ele que eu procurava – a vida toda -, sem nem mesmo saber que procurava. Era ele que eu queria, de forma desesperada, para toda a vida. E era ele a minha jornada ali, minha missão.” 
E tem notícia boa: Habemus filme! Foi confirmada a adaptação cinematográfica de Perdida e a própria Carina participou de perto da elaboração do roteiro. Nesse ano de 2015 devem surgir mais notícias e provavelmente serão anunciados os atores escolhidos para cada papel. Recentemente surgiu uma campanha nas redes sociais em que pediam o Bernardo Velasco para interpretar o Ian. 



 
 


E vocês, o que acham? Que ator brasileiro vocês acreditam que seria o Ian perfeito?

Se alguém, por acaso, quiser saber mais sobre a campanha, basta clicar aqui.






segunda-feira, 23 de março de 2015

Littera Feelings #29 e Clarice Lispector – Entrevista de Leitura #4

OLAAAAAÁ :)

Como estamos nas leituras, hein? Pra quem não era de muitas metas, até que estou conseguindo estabelecer e seguir algumas \o/ Mas vamos ao especial do dia, temos duas convidadas para nossa primeira entrevista de leitura do ano!


Aqui no Littera gosto de, além de trazer temas para discutir com vocês, convidá-los para um papo sobre suas leituras. Dessa maneira, partindo de uma leitura específica, o espaço de entrevista propõe um jogo de perguntas que pretendem trazer à baila perspectivas que nos mostrem os bastidores de uma experiência de leitura.


Já tivemos um encontro com Hemingway, Kafka, Érico Veríssimo e hoje saudamos Clarice Lispector, mais uma modernista brasileira!

De relembrete, vão aí os requisitos para quem gostaria de participar de uma entrevista aqui no Littera:

Leitura de um clássico da literatura (nível mundial)
Leitura recém-finalizada
Não valem releituras


~~~~~~~~~Vamos conhecer mais de nossas convidadas?~~~~~~~~~~~


No microfone de leitor apresento...

  Recém-formada em Letras/Literatura, mãe, blogueira (resenhista/colunista/escritora) e MUITO leitora.

Aos 5 anos aprendi a ler. Aos 10, quando a mamãe não dava conta de comprar livros e gibis infantis que acompanhassem o meu ritmo frenético de leitura, comecei a ler os clássicos que minha avó tinha e que hoje são meus, estão velhos e despencando, mas a memória afetiva neles envolvida não dá pra substituir. A partir daí, virei um caso perdido mesmo. Hoje em dia leio de tudo: clássicos, contemporâneos, estrangeiros e nacionais – de Chico Buarque a Harry Potter... e sinto uma necessidade daquelas de dizer o que penso a respeito do que leio. Sonho em um dia, quem sabe, seguir carreira na área editorial e enfim dizer: - Vivo daquilo que amo.

Busco na leitura diferentes visões de mundo, por isso penso ser tão aberta a diferentes estilos literários, porque enxergo que cada um tem algo a acrescentar, mesmo que seja a leveza da distração momentânea em um dia difícil. E que por mais que determinado segmento literário não faça muito a sua cabeça, ele é a manifestação artística de alguém, e assim deve ser encarado.

E na bancada de leitura encontra-se...

A Hora da Estrela, de Clarice Lispector.



Dados complementares

Edição (editora e ano de publicação): Rocco, 23ª edição, 1993.
Época de enredo: século XX.


~~~~~~~~~~~~~~Eis Milena e Clarice! ~~~~~~~~~~~~~~
meus comentários estão em itálico


Conte para nossos leitores as suas perspectivas iniciais sobre o livro e a história que A Hora da Estrela apresenta.
Bem, esse não é um livro fácil de ler. Em algumas edições há um longo, porém válido, prefácio. E a questão do narrador criado por Clarice Lispector é outro elemento instigante... Rodrigo narra Macabéa e sua vida vazia, mesclando desprezo, indignação e curiosidade, de como alguém consegue viver da forma de Macabéa.
A minha perspectiva inicial foi de que a falta de história pessoal de Macabéa é um grito de alerta para todas as mulheres, para que não acabem como ela. E não é uma obra machista, como já li em algumas críticas.

Uma coisa interessante de fato mesmo é o Rodrigo S.M., o narrador. Acho que ele via a dura realidade de uma pessoa inocente como a Macabéa, que tinha gente que vivia mesmo daquele jeito...

O que te levou a A Hora da Estrela por agora? Já havia lido algo de Clarice Lispector antes?
Eu já havia lido faz um tempo, mas fora no primeiro período da faculdade para uma disciplina chamada Modernidade e Literatura Brasileira. Achei confuso, porém muito original. Daí no último período foi solicitada a leitura para outra disciplina, Literatura Comparada, e a impressão que tive da obra foi tão além da que tive na primeira leitura.
Um novo olhar, sabe, as questões filosóficas propostas por Rodrigo já não me soaram tão sem pé nem cabeça. Senti juntamente com ele as agonias pela ingenuidade excessiva de Macabéa e a indignação pela falta de atitude.
Foi a primeira obra da Clarice que li, mas quero ler outras. Só que são daqueles livros para se ler com calma, degustando, voltando as folhas em alguns momentos.
Professores diferentes solicitaram a mesma leitura, numa diferença de três anos. E eu resolvi reler, porque imaginei que me “diria” coisas diferentes.

Nesse momento percebemos as duas (eu e Milena) que estávamos falando já de uma releitura, que, segundo os requisitos da coluna, não vale hahaha Mas sem problema, embora a Milena tivesse outro livro de primeira viagem para propor, abri essa exceção porque estava curiosa sobre essa experiência de leitura, afinal, Clarice é Clarice, a chamada esfinge divide opiniões... Por que não, né?

O que diria sobre seu avanço na leitura? De que maneira a escrita ou a narrativa da autora influenciou nesse quesito?
Eu sou uma pessoa que lê rápido, dificilmente demoro lendo uma obra, mas esse... rsrs Me desconcertou. Demorei porque tinha momentos em que eu lia e refletia, e não conseguia chegar a uma conclusão. Daí eu voltava a página e lia novamente.
Acho o traço estilístico da Clarice muito particular e a narração de Rodrigo não nos esclarece muito, fora os momentos do choque pela rispidez dele ao falar de Macabéa... Tinha horas que eu sentia tanto pela ela. Pensava nos “e se...”. E se Macabéa tivesse encontrado uma única pessoa em seu caminho que a esclarecesse. E se não tivesse sido criada da maneira que foi, imersa na ignorância e no desamor, e se não tivesse ido à cartomante.

Acho que principalmente pela desconstrução narrativa da Clarice as pessoas sentem essa dificuldade. Você chegou a ver o filme? Já não lembro muito, mas dava essa empatia pela Macabéa. A ingenuidade dela ficava bem à mostra.

Sim, eu vi... Fiquei angustiada. E o mais engraçado, a história não saía da minha cabeça (rsrs) Lembro que eu fazia um curso na área nobre da minha cidade e na hora que eu fui atravessar a rua, uma Mercedes estava parada no sinal (rsrsrs) Ri sozinha e esperei a Mercedes passar, preferi não correr o risco.

Hahahahahahaha entendedores entenderão XD
Tem uma cena que ela está muito perto do metrô, se não me engano, aí um policial pede pra ela se afastar, pra evitar uma queda, e ela diz “o senhor me desculpe”. Ela falou isso outras vezes mais no filme, era outra marca dessa ingenuidade dela, que baixava a cabeça e acatava simplesmente o que lhe diziam. E de alguma forma era feliz.

Pois é... Rodrigo a chamava de “doce obediente”.

E sobre a história, o que você achou do desenvolvimento? Personalidades, ações, ideais?
Tem uma parte que me deixou bem chocada: “Essa moça não sabia que ela era, assim como um cachorro não sabe que é cachorro. Daí não se sentir infeliz”. Vejo como uma obra que tem por fio condutor as questões filosóficas individuais, que refletem e determinam a forma como o coletivo vê a cada um de nós.
Porém, as misérias dos demais personagens não são diferentes da miséria de Macabéa. Olímpico de Jesus era tão alheio a alguns saberes quanto ela, porém, a postura que ele tinha mediante as situações e a forma como nutria ambições faziam dele uma pessoa que, apesar de tão miserável quanto Macabéa, era muito mais autônoma.

É chocante a descrição do Rodrigo, e ao mesmo tempo verdadeira.
Lembro do Olímpico como alguém da mesma situação da dela, mas alguém que tinha ambições mais. Macabéa era bem conformada com o que tinha, apesar de seus sonhos.

É que a ingenuidade de Macabéa veio do vazio, da ignorância com a qual foi alimentada. Já Olímpico teve um padrasto, que no livro fala, que lhe ensinara boas maneiras para poder enganar as pessoas e para pegar mulher (rs).

Houve algum momento marcante entre você e a leitura? O que diria ser uma repercussão positiva e uma repercussão negativa em A Hora da Estrela?
Muito marcante pra mim é a questão dessa ausência emocional da Macabéa. Essa coisa de viver sem saber pra quê. Penso que é porque entra em conflito diretamente com a minha personalidade. Desde muito nova busco construir minha identidade. Não aceito muitas coisas e já perdi por isso. Mas também adquiri valores que são as diretrizes da minha vida. E confesso que quando me deparo com algum(a) Macabáa, fico aflita por ele(a). Nada pior do que não saber quem somos.
A positiva sem dúvidas é o convite à reflexão que a obra em si traz para o leitor, tanto nas questões filosóficas quanto na questão de estrutura sintática e semântica da escrita da autora. A negativa é que tamanha densidade faz com que muitos desistam da leitura, infelizmente... E acho bastante difícil que se consiga compreender a obra sem uma bagagem de leitura prévia. Alguns leitores vão persistir nele, enquanto outros vão colocá-lo na prateleira dos “confusos demais” e vão perder uma leitura única. Que nem sempre agrada, mas, é válida.

É mais ou menos nisso que fica minha relação com Clarice. Fico tentando entendê-la como a esfinge que dizem, e ela não me dá muita brecha (rs http://www.dear-book.net/2013/11/littera-feelings-5-unnamed-feeling.html). Tenho admiração por ela, mas é como gostar da ideia dos livros, só não da maneira como leva.

Você consegue imaginar como a protagonista seria se ela vivesse o nosso tempo? O que seria de Macabéa nesse mundão da internet?
Acho que das duas uma, 8 ou 80: ou a Macabéa seria engolida ou então seria uma dessas que causam muito na internet pela total falta de noção. Porque no livro ela se esconde, mas a internet dá voz pra quem quiser, sem dar a cara a tapa de verdade.
Já pensou a Maca fazendo aqueles virais? (rsrs)

Bem capaz!

Se você pudesse entrar no universo da trama, quem você gostaria de ser (não necessariamente um personagem da Clarice) e o que faria por lá?
Ai, que pergunta difícil! O livro é o que é porque não é mais e nem menos... Mas também não iria ver Macabéa passar por mim sem que ao menos tentasse ensiná-la algumas coisas (rsrs). Assim, eu gostaria de ser uma colega de trabalho que a consolaria por causa de Olímpico. Aproveitava e dava uma bela sacudida na Macabéa... E consequentemente acabaria com a razão de ser do livro (rsrs).

Hahahaha ou daria chance para ser outra estrela... Outro tipo de estrela.
(Novamente, entendedores entenderão XD).

Nem tinha pensado nessa possibilidade!

Há alguma música (ou banda) que venha à mente quando você pensa na história, na Clarice ou mesmo no universo da Estrela?
Só a Rádio Relógio (citada no livro). Acho que o mundo da Macabéa era sem som.

Tadinha.

Pois é, me dava uma pena, mas...

Tem algum trecho que te conquistou bastante e queira dividir conosco?

“Ela me incomoda tanto que fiquei oco. Estou oco dessa moça... Como me compensar? Já sei: amando meu cão que tem mais comida do que a moça. Por que ela não reage? Cadê um pouco de fibra? Não, ela é doce obediente.”

“... ela somente vive, inspirando e expirando, inspirando e expirando... O seu viver é ralo.”

Esses dois para mim foram os mais marcantes porque me chocam.

Para finalizar: o livro é legal, mas...?
É só para os fortes, principalmente os de estômago, porque a inércia de Macabéa chega a ser nauseante.

Hahaha melhor definição!
Eu brigava com Rodrigo, com Macabéa. Ou com Clarice.
Encarar Clarice não é para qualquer um.

Sério (rs). Achei meio clichê, mas não consegui pensar em outra coisa (rsrs) E de verdade, tinha hora que esse livro me irritava tanto que me dava vontade de dar uma cusparada daquelas bem feia nele haha. O prefácio dizia “alguns têm pobreza de dinheiro e outros de caráter” – (rsrs) sente o drama. Mas bom também, fala que a nossa consciência ao mesmo passo que é fator de libertação também é de aprisionamento, e fala muito do ato de escrever.

~~~~~~~~~~~//~~~~~~~~~~~

E aí, o que vocês dizem da tia Clarice? Ou mesmo do livro da entrevista?

Conhecida como aquela que dá atenção ao íntimo do ser (através do fluxo de consciência) para dar a sensação de que podemos acompanhar exatamente o passo a passo da cabeça do personagem, não à toa viraliza fácil com outros memes que focam nos pensamentos ligeiros nossos dos dia a dia. Epifanias (momentos de revelação) então, nem se fala!


Dona de muitas frases espalhadas pela internet (e até das que não lhes pertence na realidade...), Clarice foi um dos destaques do terceiro momento do Modernismo Brasileiro. Nessa fase tivemos um desapego às circunstâncias exteriores e uma valorização da palavra e do texto, o que contribuiu para tornar alguns escritos difíceis de serem compreendidos. Lispector, nesse sentido, tem seus lovers, tem seus haters, e tem seus meios termos. É, por certo, uma escritora inquietante.

Além de crônicas e livros infantis, escreveu

(romances)

Perto do coração selvagem (1944); O lustre (1946); A cidade sitiada (1949); A maçã no escuro (1961); A paixão segundo G. H. (1964); Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres (1969); Água viva (1973); A hora da estrela (1977).

(contos)

Alguns contos (1952); Laços de família (1960); A legião estrangeira (1964); Felicidade clandestina (1971); Imitação da rosa (1973); A via-crúcis do corpo (1974).

A Hora da Estrela é um dos livros mais conhecidos e foi o último escrito antes de morrer. O livro teve doze outros títulos até se firmar em A Hora da Estrela. (leia mais sobre isso neste artigo, página 2).


Habemus Filme! E Habemus Série!


De 1985, o filme tem no elenco Marcélia Cartaxo, José Dumont, Fernanda Montenegro e Tamara Taxman. Sobre ele que comentamos nesta entrevista. O trailer vocês podem ver aqui e há um canal do Youtube que disponibiliza filmes antigos brasileiros :)

Nossa tv também fez especiais. Em 2003, Regina Casé e Wagner Moura apresentaram uma pequena série chamada Cena Aberta que focava em desconstruir uma história e mostrá-la de maneira mais panorâmica, como um documentário que enfatiza testes, produção, pesquisa e roteiro literário. O episódio sobre A Hora da Estrela vocês podem ver aqui (contém spoilers!).

Já em 2013 tivemos um quadro no programa Fantástico da Tv Globo, uma série inspirada nas crônicas da autora. No elenco de “Correio Feminino”, estão as atrizes Maria Fernanda Cândido, Luiza Brunet, Alessandra Maestrini e a top model Cintia Dicker. Para acompanhar episódios e extras, só clicar aqui.

Espero que os leitores tenham gostado. Eu e a Milena curtimos muito esse bate-papo!
A propósito, obrigada pela participação, Milena!


Interessados em participar de uma entrevista, dentro dos citados requisitos, só mandar nome, um contato de rede social (FB ou twitter), o nome do livro e do autor para marykleris@hotmail.com, assunto Littera Feelings.


Até o próximo post,

Kleris Ribeiro.

Resenha: "Mentirosos" ( E. Lockhart )

Por Clarissa: Oi gente, tudo bem? Então minha super indicação de hoje é “Mentirosos” para leitores que adoram surpresas...

Todo verão, os Sinclair se reúnem em sua ilha particular. Candence, seus primos Johnny e Mirren e o amigo Gat (os quatros mentirosos) são inseparáveis desde pequenos, vivem varias aventuras todos os 15 verões. A família está sempre reunida na ilha, se divertem, colocam os papos em dia, as brigas, os conselhos e tudo mais o que acontecem em viagem de família.

“Aja como uma pessoa normal. Agora mesmo.
Porque você é. Porque você pode ser."
Ela passa os próximos dois anos com amnésia, depressão, muitas dores de cabeça e muitos remédios que demoram a fazer efeito. Até que ela volta à ilha para entender o que aconteceu, que deixou um enorme espaço em branco em sua mente. Candence, Johnny, Mirren e Gat vão enfrentar muitas coisas para entender este mistério que tanta aflige a família e ela. A vida de todos muda completamente num piscar de olhos, não... Numa simples faísca.

“Existem infinitas variações.
E as pessoas continuarão a contá-las.”
Este livro com toda certeza vai ser o favorito de muitos leitores, nunca li um livro tão emocionante, espetacular, instigante e surpreendente na minha vida e na minha imensa lista de livros lidos. Com este livro eu chorei, dei risadas, me surpreendi e muito, parei pra pensar e falar que perfeito. Como a autora E. Lockhart ligou tudo e fez um final tão, mas tão emocionante que você fica até sem palavras. Eu e muitos outros leitores aplaudimos de pé está história e a fantástica E. Lockhart.

A leitura é um pouco cabeça, você lê um capitulo e tem que parar para absorver o conteúdo, porque se não você se perde, e cada capitulo é mais emocionante que o outro. Comecei a ler e não consegui parar, mas em muitos momentos ao decorrer da historia você para olha para as paredes e fala, que fantástico. É emocionante e muito inteligente, mostra à beleza das pequenas coisas quem nem damos atenção no dia a dia, nos problemas de pessoas próximas que podemos ajudar deixar os nossos um pouco de lado e curtir a vida com a família e amigos. Este livro não adianta outra pessoa contar, você mesmo tem que sentir essa emoção lendo.

A escrita de E. Lockhart é tão comovente, tem um estilo peculiar, ela coloca fases entrecortadas e curtas, metáforas tão complexas que nem parecem metáforas e uma linguagem cuidadosa, fazendo o leitor pensar. Apesar dos capítulos serem curtos (o que faz a leitura ser mais rápida :( ) a história é complexa e tensa, que faz o leitor entrar no mundo dos personagens, sentir todas as emoções e se desesperar com suas frustrações.

Super indico este livro a todos, por favor, mergulhem nesta história, não percam tempo VÃO! É tão boa esta leitura que vou ler muitas e muitas vezes na minha vida. Resumindo em uma palavra do que eu achei este livro é: Perfeito. E esse final então, que acaba com qualquer um, meu Deus quase teve um treco no coração com este final espetacular, me surpreendeu este livro, pra quem julgou este livro pela capa, achando que é uma historia de criança, ao sabe o que está perdendo, eu me apaixonei por esta leitura, e não me canso de dizer que é PERFEITO!


Bom, vou ficando por aqui, espero do fundo do meu coração que leiam este maravilhoso livro. E não se esqueçam de deixar seus comentários, dicas ou criticas.

Até a próxima.

Boa Leitura!






sexta-feira, 20 de março de 2015

Resenha: “Loucamente Sua” (Rachel Gibson)

Por Mary: Simplesmente A-M-O livros que me surpreendem e a Rachel Gibson, definitivamente, conseguiu isso!

Em Loucamente Sua somos introduzidos à pequena cidade de Truly, na qual Delaney é forçada a retornar após a morte de seu padrasto Henry. O seu plano é bastante simples: acompanhar o funeral do único pai que conheceu e esperar a abertura do testamento – para a qual foi notificada – e, tão logo encerradas as formalidades, voltar para Phoenix, seguir com a sua vida e curtir sua tão apreciada liberdade. Tudo muda, porém, ao descobrir que herdou grande parte dos bens do padrasto com a condição de permanecer na cidade durante um ano; caso contrário, a herança seria transferida para o filho bastardo de Henry. Nick, o filho rejeitado de Henry, também herda sua parte nos bens, com a condição de se manter longe de Delaney, sob pena de perder as propriedades para ela. Nada é tão fácil e também não tão importante quando se está diante de um amor do passado. Será a herança tão importante assim quando se tem a chance de corrigir erros antigos?

Logo na capa, diz-se que Rachel Gibson é “a autora mais amada dos EUA” e eu logo fiquei desconfiada. Tenho certo pé atrás com relação a pessoas (sejam elas autores, atores, cantores ou qualquer outro tipo de artista) muito aclamadas. Vocês sabem, nem sempre o que todo mundo gosta é realmente bom. Com Loucamente Sua, porém, a escritora nos trouxe uma história apaixonante com linguagem simples, clara e descomplicada. Além disso, com uma narração ágil, em terceira pessoa, você lê mais da metade do livro em um dia só – acreditem em mim, vocês ficarão surpresos com o quão rápido a leitura avança.

Bom, contar que fiquei completamente apaixonada pela autora resume bem o que achei do livro, mas vamos desenvolver melhor essa resenha, certo?

Pode-se dizer que a trama, em si, não parece muito verossímil. Afinal, quem aí se imagina ganhando uma fortuna, sob a condição de que não vá para a cama com aquele amor de infância que você desejou desde sempre? Recebendo uma herança milionária até imaginamos... Pois bem, apesar disso, você encontrará em Loucamente Sua personagens bem construídos, com qualidades e defeitos, medos, inseguranças, humor, mágoas e muita seduzência coração partido.

Depois de viver a sua vida inteira em função de agradar o padrasto controlador e a mãe extremamente crítica, Delaney deu finalmente o seu grito de liberdade ao ir embora de casa após um escândalo envolvendo Nick.
 “Ela devia saber que Henry ia impor condições para o testamento dele. E que ele tentaria fazê-la assumir seus negócios, para controlá-la e a todos de seu sepulcro. Agora tudo que ela tinha que fazer era escolher. Dinheiro ou a alma dela.” 
Voltando anos depois para a pequena cidade onde cresceu, se vendo obrigada a conviver com pessoas que não gostaria, se sentindo presa e tendo que estar perto do homem que a fascinou desde criança, Delaney acaba cedendo. Porém, a cláusula testamentária acaba por funcionar indiretamente como uma declaração de independência para ela, porque é quando Delaney põe à prova todo o aprendizado dos últimos anos.

Nick Allegreza cresceu com a mágoa de nunca ter recebido o mínimo gesto de carinho do pai, Henry Shaw, um político cínico, controlador e egoísta. Por mais que tente provar que nada disso o atingiu, é tudo mentira, porque, no fundo, ainda se sente como o garotinho rejeitado em busca de afeição e isso o fecha para as relações afetivas, dando-lhe uma sensação de humilhação. Além disso, não sabe lidar muito bem com o interesse que tem desde criança pela enteada do pai. 
“Sim, esse é o Nick. Ele diz muitas coisas. Algumas delas verdadeiras, também. (...) Olhe, como eu disse, você vai embora em menos de um ano, porém o Nick terá que ouvir as fofocas sobre vocês depois que você for. Ele terá que conviver com isso novamente.” 
Curiosamente, Nick é o único que entende de plano o verdadeiro objetivo de Henry ao estipular as cláusulas condicionais testamentárias (que eu não vou contar para vocês, obviamente). Vou falar a verdade: estou me segurando aqui para não verter todos os meus arco-íris em cima de vocês, pois o Nick é muito apaixonante! Ele é como um daqueles garotinhos do jardim de infância que demonstra afeto criticando a menina que gosta – ou puxando o cabelo dela. E acho que é isso mesmo que ele é: no fundo, apesar do homem grande e sexy, ele é um garotinho apaixonado por seu primeiro amor.

Esse passado dos dois torna tudo muito mais doce, porque é uma descoberta envolta em certa inocência. E, também, é como viver tudo o que eles deveriam ter vivido anos atrás. 
“Eu te amei minha vida inteira, Delaney. Não consigo me lembrar de um dia que eu não tenha te amado. Te amei no dia que praticamente te nocauteei com uma bola de neve. Te amei quando furei seus pneus para te acompanhar até em casa. Te amei quando vi você se escondendo atrás dos óculos de sol no Value Rite, e te amei quando você amou aquele perdedor, filho da puta, do Tommy Markham. Nunca me esqueci do cheiro do seu cabelo ou da textura da sua pele desde a noite em que te deitei no capô do meu carro na Praia Angel. Então não me diga que eu não te amo. (...) Só não me diga isso.” 
A trama se passa nos anos 90 e é interessante ver uma história no qual não se mencionam celulares, internet, computadores, e-mails e todas essas coisas que nos são tão comuns nos dias de hoje. É interessante toda a ambientação, na verdade. Quem viveu os anos 90 – e lembra o suficiente dessa década – vai acabar percebendo algumas coisas que eram moda na época e que hoje a gente morre de vergonha de ter usado, com seus típicos cortes de cabelo, roupas e sapatos. Imaginem, então, esse impacto sobre uma cidade pequena? É quase como ver um daqueles filmes clássicos da Sessão da Tarde (só que muito melhor).

Se eu pudesse bater um papo com a Rachel (olha a intimidade!), eu só pediria uma coisa: um epílogo. Senti muita falta. Gosto de epílogos por poder ver um pouco dos meus casais prediletos depois do desenrolar final do conflito principal desenvolvido pela escritora. Quando não tem epílogo, parece que a história acabou do nada, de repente. É como se eu nem pudesse me despedir da história. E quando amo mesmo a obra, me sinto quase órfã.

Rachelzinha, querida, te dou até ideias para um extra, viu? Rs. 
- Eu sei que estou horrível – ela disse, mas ele não olhava para ela como se estivesse quase morta. Talvez uma vez na vida ela tenha tido sorte e não tinha olheiras. – Não estou?
- Você quer a verdade?
- Sim.
- Certo. – Ele pegou a mão dela e beijou. – Você está mais bonita do que quando era um Smurf.
Apareceu uma ruguinha no canto do olho de Nick, e Delaney sentiu um formigamento nas pontas dos dedos e se espalhou pelos seios. Esse era o Nick que ela amava. O Nick que a provocava enquanto a beijava. O homem que a fazia rir mesmo enquanto queria chorar.
- Eu devia ter pedido para você mentir.




 
Ana Liberato