sexta-feira, 20 de março de 2015

Resenha: “Loucamente Sua” (Rachel Gibson)

Por Mary: Simplesmente A-M-O livros que me surpreendem e a Rachel Gibson, definitivamente, conseguiu isso!

Em Loucamente Sua somos introduzidos à pequena cidade de Truly, na qual Delaney é forçada a retornar após a morte de seu padrasto Henry. O seu plano é bastante simples: acompanhar o funeral do único pai que conheceu e esperar a abertura do testamento – para a qual foi notificada – e, tão logo encerradas as formalidades, voltar para Phoenix, seguir com a sua vida e curtir sua tão apreciada liberdade. Tudo muda, porém, ao descobrir que herdou grande parte dos bens do padrasto com a condição de permanecer na cidade durante um ano; caso contrário, a herança seria transferida para o filho bastardo de Henry. Nick, o filho rejeitado de Henry, também herda sua parte nos bens, com a condição de se manter longe de Delaney, sob pena de perder as propriedades para ela. Nada é tão fácil e também não tão importante quando se está diante de um amor do passado. Será a herança tão importante assim quando se tem a chance de corrigir erros antigos?

Logo na capa, diz-se que Rachel Gibson é “a autora mais amada dos EUA” e eu logo fiquei desconfiada. Tenho certo pé atrás com relação a pessoas (sejam elas autores, atores, cantores ou qualquer outro tipo de artista) muito aclamadas. Vocês sabem, nem sempre o que todo mundo gosta é realmente bom. Com Loucamente Sua, porém, a escritora nos trouxe uma história apaixonante com linguagem simples, clara e descomplicada. Além disso, com uma narração ágil, em terceira pessoa, você lê mais da metade do livro em um dia só – acreditem em mim, vocês ficarão surpresos com o quão rápido a leitura avança.

Bom, contar que fiquei completamente apaixonada pela autora resume bem o que achei do livro, mas vamos desenvolver melhor essa resenha, certo?

Pode-se dizer que a trama, em si, não parece muito verossímil. Afinal, quem aí se imagina ganhando uma fortuna, sob a condição de que não vá para a cama com aquele amor de infância que você desejou desde sempre? Recebendo uma herança milionária até imaginamos... Pois bem, apesar disso, você encontrará em Loucamente Sua personagens bem construídos, com qualidades e defeitos, medos, inseguranças, humor, mágoas e muita seduzência coração partido.

Depois de viver a sua vida inteira em função de agradar o padrasto controlador e a mãe extremamente crítica, Delaney deu finalmente o seu grito de liberdade ao ir embora de casa após um escândalo envolvendo Nick.
 “Ela devia saber que Henry ia impor condições para o testamento dele. E que ele tentaria fazê-la assumir seus negócios, para controlá-la e a todos de seu sepulcro. Agora tudo que ela tinha que fazer era escolher. Dinheiro ou a alma dela.” 
Voltando anos depois para a pequena cidade onde cresceu, se vendo obrigada a conviver com pessoas que não gostaria, se sentindo presa e tendo que estar perto do homem que a fascinou desde criança, Delaney acaba cedendo. Porém, a cláusula testamentária acaba por funcionar indiretamente como uma declaração de independência para ela, porque é quando Delaney põe à prova todo o aprendizado dos últimos anos.

Nick Allegreza cresceu com a mágoa de nunca ter recebido o mínimo gesto de carinho do pai, Henry Shaw, um político cínico, controlador e egoísta. Por mais que tente provar que nada disso o atingiu, é tudo mentira, porque, no fundo, ainda se sente como o garotinho rejeitado em busca de afeição e isso o fecha para as relações afetivas, dando-lhe uma sensação de humilhação. Além disso, não sabe lidar muito bem com o interesse que tem desde criança pela enteada do pai. 
“Sim, esse é o Nick. Ele diz muitas coisas. Algumas delas verdadeiras, também. (...) Olhe, como eu disse, você vai embora em menos de um ano, porém o Nick terá que ouvir as fofocas sobre vocês depois que você for. Ele terá que conviver com isso novamente.” 
Curiosamente, Nick é o único que entende de plano o verdadeiro objetivo de Henry ao estipular as cláusulas condicionais testamentárias (que eu não vou contar para vocês, obviamente). Vou falar a verdade: estou me segurando aqui para não verter todos os meus arco-íris em cima de vocês, pois o Nick é muito apaixonante! Ele é como um daqueles garotinhos do jardim de infância que demonstra afeto criticando a menina que gosta – ou puxando o cabelo dela. E acho que é isso mesmo que ele é: no fundo, apesar do homem grande e sexy, ele é um garotinho apaixonado por seu primeiro amor.

Esse passado dos dois torna tudo muito mais doce, porque é uma descoberta envolta em certa inocência. E, também, é como viver tudo o que eles deveriam ter vivido anos atrás. 
“Eu te amei minha vida inteira, Delaney. Não consigo me lembrar de um dia que eu não tenha te amado. Te amei no dia que praticamente te nocauteei com uma bola de neve. Te amei quando furei seus pneus para te acompanhar até em casa. Te amei quando vi você se escondendo atrás dos óculos de sol no Value Rite, e te amei quando você amou aquele perdedor, filho da puta, do Tommy Markham. Nunca me esqueci do cheiro do seu cabelo ou da textura da sua pele desde a noite em que te deitei no capô do meu carro na Praia Angel. Então não me diga que eu não te amo. (...) Só não me diga isso.” 
A trama se passa nos anos 90 e é interessante ver uma história no qual não se mencionam celulares, internet, computadores, e-mails e todas essas coisas que nos são tão comuns nos dias de hoje. É interessante toda a ambientação, na verdade. Quem viveu os anos 90 – e lembra o suficiente dessa década – vai acabar percebendo algumas coisas que eram moda na época e que hoje a gente morre de vergonha de ter usado, com seus típicos cortes de cabelo, roupas e sapatos. Imaginem, então, esse impacto sobre uma cidade pequena? É quase como ver um daqueles filmes clássicos da Sessão da Tarde (só que muito melhor).

Se eu pudesse bater um papo com a Rachel (olha a intimidade!), eu só pediria uma coisa: um epílogo. Senti muita falta. Gosto de epílogos por poder ver um pouco dos meus casais prediletos depois do desenrolar final do conflito principal desenvolvido pela escritora. Quando não tem epílogo, parece que a história acabou do nada, de repente. É como se eu nem pudesse me despedir da história. E quando amo mesmo a obra, me sinto quase órfã.

Rachelzinha, querida, te dou até ideias para um extra, viu? Rs. 
- Eu sei que estou horrível – ela disse, mas ele não olhava para ela como se estivesse quase morta. Talvez uma vez na vida ela tenha tido sorte e não tinha olheiras. – Não estou?
- Você quer a verdade?
- Sim.
- Certo. – Ele pegou a mão dela e beijou. – Você está mais bonita do que quando era um Smurf.
Apareceu uma ruguinha no canto do olho de Nick, e Delaney sentiu um formigamento nas pontas dos dedos e se espalhou pelos seios. Esse era o Nick que ela amava. O Nick que a provocava enquanto a beijava. O homem que a fazia rir mesmo enquanto queria chorar.
- Eu devia ter pedido para você mentir.




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Ana Liberato