terça-feira, 14 de abril de 2015

Littera Feelings #30 - A vitória ainda é do leitor

Olá, leitores queridos! Como estão?

Passei uns bons dias em off por conta de uma virose daquelas tensas que até pra segurar o celular era um esforço, mas foi esse mesmo smartphone com wifi que me salvou quando de repente eu tava nessa fenda da febre e precisava ter noção de mundo ~real~. 

Acompanhem-me em mais uma viagem.


Bom, todos os anos pouco a pouco a leitura tem quebrado barreiras e vencido desafios. Foi-se o tempo em que imaginávamos que éramos os únicos em alguma coisa (apesar de hora e outra a sensação querer voltar); a internet está aí pra isso, nos abrindo o leque todos os dias, todas as horas, minutos e segundos (de fato, em tempo real). Para a leitura não é diferente.

A “luta” é de todo dia, e já podemos afirmar que conquistamos coisas espetaculares. Desmitificou-se o preconceito/problema em ler; a produção nacional tem ganhado um considerável espaço diversificado em relação à produção estrangeira; e ser independente não é mais tão novidade assim. Os ebooks são outros que não são mais encarados como afronta; Amazon, Kobo, Lev, Book Tour, Book Haul, TBR (to be read) Jar, shelfie, tudo faz parte dos vocabulários cotidianos e antenados. Propagam-se brincadeiras e desafios literários pelas redes; projetos, propostas, clubes, eventos e outros estão se fazendo valer cada dia mais. 

E sabe o que tenho gostado de ver nos últimos tempos? Como a cultura da leitura tem se expandido pelo país, pipocado em vários cantos. Melhor dizendo, o livro tem deixado seu “centro cultural” e encontrado novos lugares especiais. E não só isso, tem também reunido leitores antes tão dispersos e perdidos de uma mesma região.


Isso, para algumas pessoas, pode parecer bobo de se dizer, uma vez que se respire cultura no eixo sul-sudeste. A perspectiva muda quando nos vemos em lugares que mal há uma livraria, ou um bom acesso e atendimento a sebos e bibliotecas. Os leitores podem sobreviver com livrarias online e correios, mas não é a mesma coisa. Cada desenvolvimento em seu tempo, claro, como foi no meu Maranhão.

Estendendo um pouco mais esse parêntese da conversa, recentemente tivemos a visita do Projeto Quebras (que viaja por todo o país para conhecer e registrar produções únicas de suas regiões) com Marcelino Freire, temos mais autores mostrando a face no cenário maranhense de produção, e a capital tem multiplicado os eventos literários. Vale uma super menção para o twittaço para trazer a #TurnêIntrínseca e às atividades dos clubes (Penguim e Vórtice).


Agora, deixando de lado essa minha admiração, nos voltemos para certo dado que todos os anos mexem conosco: a avaliação do cenário de leitura.

(contém vitamina: A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U V W X Y & Z)

Por toda a última semana, um texto que muito me chamou a atenção foi o do Rodrigo Casarin, lá do blog Página Cinco (matéria repostada no Mob de Leitura) sobre os dados de leitura de 2014. O título diz muito: 70% dos brasileiros não leem. E daí? O Rodrigo se mostrou preocupado por termos tão poucos leitores, e, de fato, cada vez que saem essas pesquisas, é difícil não ter em mente o quanto do Brasil ainda não atingimos.

Mas então pensei: se 30% é tudo que temos, o que mais há por trás dele para ser considerado? O que isso representa para o leitor?

Se a pesquisa mira no livro como um produto (já que o cunho é uma análise mercadológica) e um produto não só de entretenimento, mas de informação e conhecimentos diversos, então, por óbvio, há outros produtos e/ou serviços nessa concorrência. Temos aí videogames, brinquedos, tv, cinema, teatro, música, shows, aparelhos tecnológicos diversos, revistas, jornal, dvd, blueray, netflix, novela, programas, podcasts, jogos de diversos esportes, etc. É ou não é uma intensa disputa de atenção?

Não esqueçamos que temos diversas feiras, encontros, bienais, eventos, e alguns deles todos os anos. Embora o seu objetivo não seja fomentar a leitura em si, não há como negar as vendas. Independente de ser uma bienal ou uma bancada de livros com desconto na esquina de uma praça, livros estão sendo vendidos. Se nosso mercado fosse tão fraco, como as editoras se interessariam em publicar? Tem lançamento para todos os gostos quase todo mês!

Lembremos (mais uma vez) que nem todos vivemos em cidades grandes ou em centros culturais. Há cidades em que a banca de jornal está fechando, ao passo que, sei lá, uma banca de revista numa cidadezinha do interior seja aquela que faça a diferença. O fato é que há diversas realidades de leitura por esse país, e a que mais foge à memória é aquela que mais movimenta o mercado livreiro nacional: as compras governamentais para as escolas.

Mas, ok, não vou me enveredar para o lado da educação. O que importa é que nós produzimos, nós compramos, nós lemos e nós conversamos sobre livros. Nosso mercado é vivo. Eu vejo e respiro isso quase todos os dias - nós, leitores, estamos nos encontrando, tanto no real, quanto no virtual. Os 30% podem não ser os números dourados, porém essa realidade já está disponível e para muitos.

Apesar da crise apontada para o mercado, acredito que há ainda muitos livros em nossas mãos. A vitória dessa vez não foi da leitura, no entanto, cada vez que um livro é aberto por um não leitor, temos uma nova esperança. A vitória ainda é do leitor. Ele faz valer todos os nossos esforços. 

— Acredito que as pessoas têm de ler livros. Não importa se elas vão ouvir o livro, se vão ler no papel, no smartphone, num tablet, não importa. Importa é que elas leiam.
— E você acha que o brasileiro lê livro?
— O brasileiro lê livro sim. Ele infelizmente não tem acesso, em várias questões econômicas, socioculturais; ele ainda tem dificuldade em alcançar os livros. Mas se fossem mais populares, eu acho que o brasileiro ia ler mais. 
Ednei Procópio – editor especialista em livros digitais e membro da Comissão do Livro Digital na Câmara Brasileira do Livro – em entrevista sobre a era digital.

(tempo no vídeo do trecho acima – 21:15)

Até a próxima!


Kleris Ribeiro.

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Ana Liberato