*Por Mary*: Na escala de leituras atípicas dos últimos tempos, esse
aqui atingiu a Escala Richter.
Em Não Se Apega, Não
conhecemos Isabela (a própria escritora), que conta sobre uma fase de sua vida
em que se viu refletindo sobre a sua forma de agir e amar. Após dois anos de um
namoro “perfeito”, Isabela decide colocar um ponto final na relação com Gustavo
– chocando a todos os seus conhecidos por conta de tal decisão. A partir disso,
ela reflete sobre os seus relacionamentos anteriores e a maneira com que
encarou os sentimentos, levando-a a tomar um tempo apenas para si e, pela
primeira vez em muitos anos, ficar sozinha, o que a leva a muitas situações
dignas de cada uma das páginas desta obra.
Quando digo que este livro me foi
uma leitura atípica, quero dizer que o estilo não é o que costumo ler, mas isso
não significa que não gostei. Muito pelo contrário, achei interessante. Não só
a escrita, como também o método que a autora utiliza para contar os fatos.
“A vida é uma sequência de etapas, fases e conquistas. Relacionamentos não são nada mais que isto: fases seguidas de conquistas.”
Pode-se dizer que Não Se Apega, Não é um híbrido:
autobiografia feat. crônica feat. autoajuda. Não espere uma narração
linear – mesmo porque, claramente, a Isabela não tem a intenção de narrar fatos
– o que, por vezes, pode deixar o leitor confuso. Quero dizer, a autora inicia
o capítulo narrando uma determinada situação do presente, depois começa a
refletir sobre aquele momento e, logo em seguida, passa a narrar um fato do
passado. E aí, quando volta a falar sobre a situação que iniciou o capítulo,
você já esqueceu acerca do quê se referia.
“O desapego não é indiferença, covardia ou desinteresse. O desapego é se libertar de tudo aquilo que faz mal e causa sofrimento. Desapegar é sinônimo de se libertar. Soltar as algemas. Colocar asas. Se permitir voar novamente. O desapego é a aceitação, é o desprendimento.”
Não obstante, sinceramente
considero que essa falta de linearidade não é um motivo para não se ler o
livro. De verdade. No máximo, é um motivo para se ter mais atenção durante a
leitura. A falta de linearidade é mais como uma característica inerente ao seu
estilo e à categoria do livro – que eu ainda não decidi qual é, mas resumo como
“híbrido”.
“Eu fingia, e fingia bem. As pessoas me julgavam feliz e honesta comigo mesma, e apenas aqueles poucos que conseguiam fazer com que eu baixasse minha guarda sabiam quem eu era realmente. Por trás de toda a casca de garota durona, existia uma menininha com medo do amor. Eu não chorava ao terminar relacionamentos, mas chorava com comerciais de margarina. Dizia não acreditar no amor, mas assistia compulsivamente a filmes românticos. (...) O que eu não sabia é que fugir de si mesmo é uma questão de tempo. Um dia a estrada termina desembocando em uma rua sem saída, lotada de espelhos. E é chegada a hora de se encarar nos olhos e assumir diante do mundo o que realmente se é.”
Além de reflexões realmente
profundas, você encontrará em Não Se
Apega, Não uma leitura leve, direta e fácil. A escrita de Isabela Freitas é
tão coloquial quanto ouvi-la falando. E, ainda, você pode correr para o
Instagram dela e “brincar” de adivinhar quem é quem no livro, já que a
Isabela modificou os nomes dos personagens a fim de não os expor.
Não vou comentar aqui a
diagramação do livro, tendo em vista que não entendo nada dessa parte
editorial, só preciso dizer que o layout é simplesmente lindo (tão lindo, que
merece o adendo) e a revisão é impecável.
Quero elogiar também a coragem da
Isabela. Não apenas de tomar a difícil decisão de descobrir-se a si mesma, de
ter a coragem de estar apenas em sua própria companhia e descobrir que é sim
possível ser feliz sozinha – conheço muita menina por aí que precisa
urgentemente ler o seu livro, para, talvez assim, construir um pouco de amor
próprio – mas também pela coragem de transformar tal experiência em livro,
correndo o risco até mesmo de expor as pessoas ao seu redor, mas tendo o
cuidado de protegê-las.
“Eu sou apaixonada por pessoas. Por sentimentos. Por emoções. Sou apaixonada por tudo aquilo que faça o meu coração vibrar. E nisso se inclui o sofrimento. Sofrer é poesia. Inspira. Quem sofre pode se renovar.”
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