*Por Mary*: “Eu sou puro amor!” Essa é a frase que me define nesse
momento. Só vejo arco-íris!
Em A Última Carta de Amor,
Jojo Moyes faz uma dobradinha com o recurso utilizado em A Garota que Você Deixou Para Trás de traçar um paralelo entre
passado e presente, entrelaçando as duas histórias de um modo envolvente e
apaixonante.
Mas para quem pensa que, de algum
modo, o recurso pode se tornar repetitivo, não poderia estar mais enganado.
Aqui, Jojo mais uma vez inova e nos surpreende, utilizando uma narrativa
inicial não linear, personagens autênticos e uma trama tocante, que, aposto,
vai te prender do começo ao fim.
Mas vamos conhecer um pouco mais da trama?
Em meados dos Anos 60, Jennifer
Stirling acorda em um hospital de Londres após sofrer um acidente de carro. Não
consegue se lembrar de nada da sua vida anterior, mas descobre que tem um
marido chamado Laurence, mãe, amigas e uma vida financeira confortável. O
médico aconselha que não force nada, porque com o tempo a memória voltará – mas
Jenny tem a sensação de que sua família não tem muita pressa para que isso
aconteça. Quando volta para casa, os dias se passam e a sensação de que há
peças faltando em sua vida é incapaz de ser ignorada. Além disso, a completa
falta de química com o marido faz com que Jennifer se pergunte que tipo de
sentimento tinha por ele quando se casaram. É em meio a este momento de difícil
adaptação que Jenny encontra escondidas no meio de suas coisas cartas de amor
endereçadas a ela e apenas de uma coisa tem certeza sobre elas: não foram
escritas por seu marido.
Quarenta anos depois, em um
jornal londrino, Ellie Haworth vive um momento complicado. Envolvida com um
homem casado – a quem ela jura de pés juntos que a ama perdidamente e que um
dia deixará a mulher por ela –, a relação reflete negativamente em sua vida
profissional. Sua reputação, seu emprego e sua carreira estão por um fio e indo
por água abaixo, uma vez que se vê cada vez mais consumida pela relação
clandestina com John. Vasculhando os arquivos do jornal em busca de material
para uma reportagem, Ellie encontra cartas de um amor proibido que
estranhamente parecem envolvê-la de um modo inimaginável. Com a ajuda de um
arquivista gatinho, Rory, Ellie busca mais informações sobre o casal,
decidida a conhecê-los e reuni-los, o que, de alguma forma, acaba por dar-lhe
respostas à sua própria situação.
Uma das coisas que mais admiro na
Jojo Moyes – além de sua capacidade de nos transportar dentro de uma máquina do
tempo para o lugar que ela bem entende – é seu talento em se reinventar. Cada
um de seus livros, bem como cada um de seus personagens, são completamente
distintos entre si. Abordagem, trama, história. Há em comum o sentimento doce,
a narrativa bela e esse tipo de amor altruísta que somente ela sabe descrever.
Inicialmente, Jojo retrata a
readaptação de Jenny à sua antiga vida, após acordar no hospital depois de um
acidente de carro, no qual perdeu a memória. Contudo, posteriormente, passa a
narrar alternadamente com capítulos de sua antiga vida. É aí que mora o perigo:
o recurso de utilizar uma narrativa não linear é bastante válido e elogiável,
mas fica um pouco confuso. Juro. Levei mais de cem páginas para entender que os
capítulos estavam alternados. Não sei se isso aconteceu por pura lerdeza minha,
se foi realmente o fato de não haver nenhum indicativo do método adotado ou se
era justamente essa a intenção da autora. Fato é que o leitor precisa ficar
atento e, se for um pouco mais criterioso (ou chato), pode ficar bastante
incomodado com relação a isso. E eu nem
posso julgar, porque, né?!
Traça-se um paralelo temporal em A Última Carta de Amor muito
interessante. Conforme já mencionei, a primeira parte da história
contextualiza-se na Londres dos anos 60. A partir disso, cria-se uma espécie de
comparação comportamental quanto ao contexto histórico, sobretudo relativo ao
âmbito amoroso e isso meio que é abordado metalinguisticamente. Caramba, Mary, o que diabos você quer dizer
com isso, menina? Calma, que eu explico. Lembra que eu contei que a Ellie
trabalha em um jornal? Pois, então, ela fica encarregada de escrever uma
matéria comparando os amores de ontem com os de hoje. Essa comparação,
indiretamente, é realizada pela própria autora ao abordar os problemas amorosos
de Ellie, envolvida com um homem casado.
Outro tema indiretamente abordado
é o atual papel da mulher na sociedade, se comparado aos costumes de décadas
passadas. Não vou começar a falar aqui de feminismo – nem a autora faz isso –,
ainda que este seja um tema que se toca inúmeras vezes no decorrer da
narrativa. Atrelado a isso, outras questões são discutidas, tais como a
problemática comunicação atualmente entre as pessoas (apesar dos inúmeros meios
surgidos no decorrer dos anos) e as neuras surgidas em decorrência do
surgimento dessas novas tecnologias (mas disso eu falo um pouquinho mais lá na
frente, aguenta aí).
Há alguns personagens que merecem
menção, dado a que representam. Jenny, em sua coragem de sambar na cara da
sociedade e ir atrás do seu amor; Anthony, em sua entrega apaixonada; Rory, por
aquela fofura impressionante e o humor que conquista o leitor de cara; e
Melissa, que, apesar de aparecer tão pouco, corporifica muito bem o dilema
carreira/família da mulher moderna capaz de se dividir em mil. Acho que preciso
também mencionar a Ellie, por pura educação, mas, sinceramente, ela me fez
muita raiva em alguns momentos.
Falando em Ellie, preciso
comentar as neuras dela. É engraçado como isso é tão natural com o que vivemos
no dia a dia. Quem aí nunca ficou às voltas com uma mensagem de texto ou e-mail
daquele paquera, tentando interpretar a todo custo o que ele quis dizer com o
mínimo “Oi, tudo bem?”? Se visualizou a mensagem no Whatsapp e não respondeu... Ah, então, aí mesmo que a gente se
descabela (de raiva ou desespero, o que preferir). NÃO RESPONDEU POR QUÊ? O contrário também. Que atire a primeira
pedra quem nunca ficou pensando, repensando e reescreveu milhares de vezes uma
mesma pequena mensagem, só para garantir que o carinha lerá com a interpretação
certa? Apesar de compreender a Ellie, isso chega a irritar. Criticar os outros
é tão fácil...
“Ela passa as mensagens armazenadas no celular, tentando ver se houve
algum indício desse ‘esfriamento’ nos torpedos que ele lhe mandou.”
“Isso não dá uma impressão de dependência, possessão nem mesmo
desespero. Sugere que ela é uma mulher com muitos convites, coisas para fazer,
mas significa que o colocará em primeiro lugar se necessário. Ela relê a
mensagem por mais cinco minutos, para garantir que acertou perfeitamente o tom,
e a envia.”
Me compreendam, ela não é aquele
tipo de personagem insuportável – não quero passar a impressão errada a vocês –
entretanto há um detalhe ou outro que nos faz implicar um pouquinho.
Implicância saudável, garanto a vocês. Afinal, mocinha que é mocinha, tem que
ser odiada e essa nem é completamente chata como algumas que vemos por aí.
BTW, para encerrar, quero elogiar uma coisa concernente à parte
física do livro. No decorrer da leitura, percebi que os capítulos todos são
iniciados com algumas últimas cartas de amor e isso me chamou a atenção.
Algumas de pessoas conhecidas, outras não. Nos agradecimentos, a Jojo explica
que essas correspondências foram enviadas por muitos de seus leitores, mas que
contou também com a participação de correspondências literárias.
Se você quer morrer de amores e
ficar toda sentimental por alguns dias, definitivamente, A Última Carta de Amor é a escolha certa.
“Mas de repente me dei conta, no meio daquela pequena cena de loucura,
que ter alguém que nos entenda, que nos deseje, que nos veja como uma versão
melhorada de nós mesmos é o presente mais incrível (...). Não sei ao certo como
conquistei o direito. Não me sinto totalmente seguro desse direito mesmo agora.
Mas a própria chance de pensar em seu rosto lindo, seu sorriso, e saber que
alguma parte disso poderia me pertencer talvez seja a coisa mais importante que
me aconteceu na vida.”