*Por Mary e Kleris*:
Oi,
pessoal! Hoje tem resenha especial e em dupla para esse livro impressionante da Jojo
Moyes. Quem “traumatizou” ou corre de Como Eu Era Antes de Você, chega mais que em A Garota Que
Você Deixou Para Trás a autora com certeza é perdoada.
Liv é uma mulher que
ficou recentemente viúva, mas ainda não superou muito bem a perda, vivendo
solitariamente em uma bonita construção projetada pelo finado marido arquiteto.
Além da vida fria dentro da casa minimalista e impessoal, Liv precisa lidar com
os problemas financeiros e sua dificuldade em desapegar das coisas que lhe
trazem lembranças.
Inesperadamente,
entram em sua vida uma antiga colega de faculdade, Mo, e um investigador de
obras de arte desaparecidas, Paul. Em meio a isso, um quadro de passado obscuro
comprado durante sua lua de mel se vê no centro de uma disputa judicial, ao
mesmo tempo em que Liv começa a descobrir – muito além do valor monetário da
obra – a história por trás da pintura e de que modo “A Garota” viajou pela
Europa durante a Primeira Guerra Mundial, reaparecendo décadas depois nas mãos
de uma jornalista americana.
De início, já desejo
mencionar a minha admiração pela capacidade da Jojo Moyes de se reinventar.
Confesso que comprei esse livro já esperando algo que seguisse a mesma linha de
Como Eu Era Antes de Você, mas me
enganei redondamente. Até mesmo a estruturação da narrativa é distinta.
Aqui, Jojo divide a
história em duas partes, a primeira sendo como um livro independente, no qual
se conta a história de Sophie, em primeira pessoa; e, a segunda, escrita em
terceira pessoa, nos dias atuais, introduzindo o leitor ao mundo de Liv e Paul,
intercalados com capítulos continuadores da história de Sophie.
Achei estranha, no
começo, essa divisão completa das partes e posso dizer que inclusive foi
difícil me adaptar, mas isso aconteceu naturalmente. É meio chocante, porque,
ao terminar a primeira parte, você encontra a vida de Liv e ocorre uma espécie
de quebra. São duas histórias absolutamente distintas, a priori. Porém, no
decorrer da obra, a autora faz sua mágica, entrelaçando as tramas de tal
maneira, que nem mesmo a distância temporal é capaz de afastar as duas protagonistas.
Ela se parece com você.
Ela não se parece nada comigo.
É interessante como o universo brinca com os caminhos das duas. Pelas quase 400 páginas as histórias paralelas dão todo um ar de suspense, ansiedade e reservas. Moyes nos arrebata a ponto de não querermos deixar nenhum personagem para pular para outra “visão”, mesmo que muitas perguntas nos suguem para outros pontos da história.
Das diversas questões
que nos chamam atenção, uma que se destaca é a significância que ganha o quadro
A Garota Que Você Deixou Para Trás
entre essas vidas. Como poderia uma simples obra mover céus e terras?
Não é apenas um quadro
e não é apenas um conflito.
Há dois pontos
importantes a serem discutidos sobre a primeira parte.
A primeira delas diz
respeito à impressionante ambientação feita pela Jojo Moyes de uma cidade
francesa ocupada pelas tropas alemãs durante a Primeira Guerra Mundial, em
meados de 1916. A autora menciona nos agradecimentos o livro que utilizou para
tanto, mas, caramba, a descrição dela nos faz sentir como se estivéssemos
vivendo aquele momento, em que os moradores são subjugados ao poder dos
soldados alemães e obrigados a aceitar uma intrusão à cidade. E, mais que isso,
às suas vidas. Para quem aprecia História, sobretudo esse corte de estudo das
Guerras Mundiais, imagino que ficará bem satisfeito com o resultado conferido
pelo talento da Jojo.
O relógio do avô de René Grenier começara a soar. Isso, reconhecia-se, era um desastre. O relógio estava enterrado havia meses no canteiro lateral da casa, com o bule de chá de prata, quatro moedas de ouro e o relógio de bolso do avô, para evitar que sumissem nas mãos dos alemães.
O plano dera certo – de fato, quando se andava na cidade, o chão rangia por causa dos objetos de valor que haviam sido enterrados às pressas em jardins e caminhos – até Madame Poilâne entrar no bar numa fria manhã de novembro e interromper o jogo de dominó de René com a notícia de que a cada quarto de hora soavam badaladas abafadas sob o que restava das cenouras dele.
E o segundo ponto que
merece destaque nesta primeira parte da obra, julgo que seja a própria Sophie e
sua fé inabalável. Ela é o tipo de pessoa que vê tudo dando errado, o mundo
caindo na sua cabeça e tudo indica que a coisa só piora, mas ela está lá.
Firme. Confiante. Todas as pessoas ao seu redor já desistiram, sucumbiram e
acham que ela só pode ter enlouquecido por acreditar tanto no melhor do futuro
– e das pessoas, consequentemente. A sociedade, como sempre, é insana.
— Você acha mesmo que nós duas podemos ir para a nossa terra? Para St. Péronne? Depois do que fizemos?
O soldado começou a se endireitar, esfregando os olhos. Parecia irritado, como se nossa conversa o tivesse acordado.— Bem... talvez não agora – gaguejei. – Mas podemos voltar à França. Um dia. As coisas serão...
Foi por uma matéria de revista que a família de Sophie reencontrou o quadro pendurado na casa de Liv; eles vinham há tempos reunindo os trabalhos do pintor de A Garota. Por força de um processo legal de restituição de bens, crendo que o quadro fora mais um roubado pelos alemães na época da Primeira Guerra, eles querem a obra de volta. Liv entra nesse embate porque não aceita que a vida lhe tire mais um pedaço.
É estranho sair do
início do século XX para o início do XXI na segunda parte da narrativa, mas aos
poucos vemos como essa primeira ambientação se faz necessária para a história.
Moyes poderia ter omitido toda essa visão e fico feliz que não tenha feito. Me
senti na pele de Liv sempre pensando na Sophie e tendo expectativas sobre seu
destino. É bem sobre os valores que agregamos às coisas e como faz que não só
imaginemos uma história presenciada por estas, mas também sobre como nos
importemos com aqueles que também já tomaram o mesmo objeto como parte de si.
Ao nos guiar para essa
segunda trama, Jojo nos envolve numa mais que acirrada briga, que vai além
desse processo judicial. Liv conheceu Paul, um cara gentil, maravilhoso e
honesto, quem aflora sentimentos há muito esquecidos. Mas de novo o universo
brinca com o destino, pois o trabalho de Paul revela-se um real conflito, já
que ele está encarregado deste caso em específico, o retorno do quadro A Garota Que Você Deixou Para Trás às
mãos da família.
Mas essas pessoas
realmente se importam com o quadro? Quem deve ficar com a obra? Quem merece
estar com ela? Melhor: com Sophie?
O que me surpreendeu
nesse livro foi a força demonstrada pelas duas personagens, que, além de bem
construídas, nos mostram o que é a verdadeira perseverança. Dotadas de tamanha
fé, elas permanecem com seus ideais e lutam contra o mundo desolador, mesquinho
e egoísta, mesmo quando nem tudo está ao seu favor. Jojo novamente nos coloca a
prova quando o assunto é a confiança e, primordialmente, a escolha.
Apesar de todo esse
clima de guerra, dominação alemã, processo e julgamentos, a história não
pincela um drama por completo. Há momentos de tensão sim, mas há também
momentos doces, engraçados e esperançosos. Para eles existem Hélene, Herr
Kommandant, Mo, Greg, o pai de Liv, e, claro, Paul. Se você já teve seu coração
arrancado pela autora em outro livro, aqui em A Garota ela trata de costurá-lo de volta.
Eles chegam à quadra dela, e ele ri do primeiro encontro deles; de Mo e de sua aparente convicção de que ele era um ladrão de bolsas.
— Vou fazer você pagar aquela recompensa de quatro libras — diz ele, impassível. — Mo disse que eu tinha direito a ela.— Mo também acha que é absolutamente aceitável colocar detergente nas bebidas de clientes de quem a gente não gosta.[...]— Mo está sendo desperdiçada nesse trabalho. Tem lugar para essa moça no crime organizado.
Vale aqui uma nota sobre a edição. Semelhante à Como Eu Era Antes de Você, a capa é uma delicadeza só. Não pensem, por isso, que é alguma continuação (vide nota ao fim desta resenha). Assim como a editora preservou a capa original, conservaram o título, que é desses que tem uma força de presença tremenda na história. Percebemos isso cada vez mais após a leitura assentar.
Outro dia encerrei a
resenha de Louco Por Você com o trecho de um episódio da série Forever, que condizia com o
conflito debatido no livro. Curiosamente, a coincidência novamente ocorreu e,
dia desses, vendo a série, me deparei com um episódio que se relaciona
perfeitamente ao tema de A Garota Que
Você Deixou Para Trás. Achei que seria legal repetir a dose.
“A expiação pode
ocorrer de diversas formas. Um pedido sincero de desculpas, um grande gesto,
uma prece silenciosa. Ou algo mais complexo, mais obscuro, mais difícil de se
decifrar. E embora seja verdade que nenhuma expiação é capaz de mudar o
passado, ela tem o poder de nos curar, de restaurar relacionamentos e ligações
que pensávamos estarem perdidos para sempre.”
Precisamos dizer que
recomendamos muitíííííííííssimo?
P.S.: O que será
novamente de nossos corações quando After
You (Depois de Você), a
CONFIRMADA continuação de Como Eu Era Antes de Você,
chegar?
Gente, amei esse livro!! Concordo que apesar de todo o drama que permeia a trama, a história não é triste e cinzenta. Quando terminei de ler, estava com um sentimento gostoso... Feliz, sabe? Estava meio traumatizada por causa de "Como eu era..." e tão o tempo todo fiquei com medo de que o pior acontecesse. Eu já sabia do que Jojo era capaz, se é que vcs me entendem... Hehehe Mas não dar spoiller. Recentemente li também Um Mais Um e gostei muito! Super recomendo. Falta ler a Ultima Carta. E enquanto isso aguardar ansiosamente a continuaçao de Como eu era.
ResponderExcluirBjs,
Manu
manuetudomais.blogspot.com.br
Hahahaha eu tbm tinha esse medo e o suspense do livro deixa a gente bem no ar! Tô doida por Um Mais Um, que a Mary já prometeu me emprestar (né, Mary? *olhinhos de quem já tá na fila de espera* hahaha). Jojo nos conquistou de vez!
ExcluirApenas reitero que estou ansiosíssima por Um Mais Um também! Já vi alguns comentários a respeito, garantindo que o livro é ainda mais diferente dos anteriores. Vamos conferir, para trazer muito em breve a resenha.
ExcluirP. S.: Claro que você é a primeira da fila, Kleris!
Beijo!