Confesso
que fiquei relutante em trazer o assunto aqui na coluna – visto que já se disse
tanto a respeito da onda dos livros de colorir na internet – mas, diante de
leitores ou mesmo agentes da produção/comercialização de livros polemizando esse
fenômeno, acho que valem umas notas de consideração sobre o assunto, até porque
os argumentos de que livro de colorir não
é livro,
de que a culpa da moda de colorir é
da educação deficiente ou de que
a leitura sumiu das prateleiras ainda não me convenceram.
É ou não é livro?
Sou mais
da aposta de que sim, é livro, em vista do público e do ponto de venda direcionado,
as livrarias. Ele também é trabalhado em formato de livro (impresso). Você tem
capa, tem lombada, tem ISBN de publicação. Ele está sendo vendido como livro.
Não temos
almanaques com capa, lombada, mas vendidos como revista? E não temos revistas
hoje online que funcionam como blogs? E o que falar dos audiobooks? Acho que já
deu essa história do que é livro ou não desde a chegada dos ebooks.
Livro
interativo não é uma ideia de agora, e escolheram um ótimo momento para seu
retorno. Já li relatos sobre essas publicações que juram terem representado
infâncias; na minha memória, ficaram as agendas interativas e revistinhas de
pintar – e que eram vendidas, respectivamente, como agendas e revistinhas.
Os
livros de pintar para adultos poderiam ser revistinhas? Poderiam. Mas
escolheu-se o modelo de livro, destinados para as livrarias e para os adultos.
A moda
dos interativos só comprova como o livro por si pode se reinventar –
principalmente como matéria e/ou conceito. O livro como objeto,
na verdade, é de uma diversidade impressionante.
Um exemplo recente e interativo?
A série da
Keri Smith, Destrua este diário, Termine este livro, Isto não é um livro, da Editora Intrínseca (que enamoro faz um tempinho). Para conferir
a arte gráfica, veja aqui.
Um exemplo recente e não necessariamente
interativo?
Queria
Ter Ficado Mais, da Editora Lote 42 (que também estou enamorando faz um
tempinho). Para conferir o projeto gráfico, leia aqui ou assista aqui.
E quem
pinta é mesmo leitor?
Leitor
interativo, oras. Leitura não é apenas texto – pois se fosse, como explicar os
livros de ilustrações ou os fotolivros? Todo livro pressupõe algum tipo
interação, seja para estudo, informação, entretenimento, relaxamento. Alguns
interagem em pensamento, em silêncio, outros são mais ativos, sublinham,
anotam, rabiscam, pintam, rasgam, joga-se da janela e etc. Além de ceder liberdade ao leitor, o livro
oferece uma experiência fora do convencional – fora da leitura de texto.
Acostumamo-nos
com a ideia de que livro de pintar é apenas para crianças, por causa do
estímulo de cores, de tato, criatividade, coordenação motora e concentração.
Mas, como as atividades de passatempo, há níveis de estímulo. Não é isso que
também pode diferir um livro infantil de um livro para adultos?
No caso
dos livros de pintar para adultos, explora-se uma abertura no horizonte das
leituras, que, acredito eu, para uma criança poderia ser irritante (dependendo
do livro, claro). Nesses livros temos muitos detalhes e também pressupõem uma
coloração mais coordenada (ou “desvirtuada”: veja neste post) pelas
visões de mundo. Isso sem falar dos temas. Tem tema proibido para
menores de idade.
Assim,
pode-se dizer que o leitor alvo não é fielmente o costumeiro leitor de livros, de
romance, contos, ensaios, mas nem por isso ele será excluído da equação. Os livros de colorir estão aí
atendendo não a demanda da criatividade, mas uma demanda que acumulou por muito
debaixo de nossos narizes: uma população estressada com tudo e que precisa
expirar esse cansaço.
Há quem
tente os chás, o yoga, as corridas, as viagens, a música, o videogame, as
séries, os filmes, as novelas, os livros. Por que não pensar nesse (grande) alvo,
nas suas necessidades e alinhar isso no mercado de publicação? Mesmo que o
(novo) leitor, que se pretende alcançar, não é aquele que regularmente consome
livros? Já se comprovou que atividades manuais ajudam no quesito relaxamento.
E mais!
Vivemos tempos exponenciais, com as mídias sociais, internet e smartphones. Estamos hiperconectados. Então, entramos em uma era na qual os jovens começam a experimentar a desconexão. E os livros de pintar significam a pessoa parar e fazer trabalhos. Para esses jovens, a leitura virou um momento para desligar por meia hora. E não é apenas com os livros.
Gil
Giardelli, educador da CBL (Câmara Brasileira do Livro). Fonte: Tab.
O
mercado testou essa proposta e logo que tiveram ótimos resultados, a aposta
veio com tudo. Nesse sentido, foi
importante ousar.
Melhor
momento para o mercado de publicação e as inovações
Logo que
a febre foi confirmada, as editoras tiveram que se manobrar para não perder a
onda. Claro! Replanejar aqui e ali, adiar lançamentos, adiantar e recriar
projetos, por que não? Uma coisa que se ouve falar muito quando uma moda
estoura é o quanto o fenômeno pode ser aberto para as inovações temáticas.
Para os livros de colorir, isso foi essencial. Melhor, foi genial. Gostei de
ver sobre o quanto isso potencializou o alcance dos livros!
(Link da imagem acima)
Gostei de ver também o quanto isso valorizou o nosso próprio mercado livreiro. Pense no quanto de ilustradores, designers e profissionais afins estão se mobilizando. Pense no quanto isso está se expandindo. Pense em outras indústrias que, apesar de terem sido pegas de surpresa por esse bilhete premiado, correram para produzir lápis de cor, apontadores e hidrocores. Se antes as papelarias já sorriam com os materiais auxiliares de leitura, como post-its, flags (marcadores adesivados), canetinhas coloridas, agora eles estão fazendo a festa!
O
mercado todo está em festa, eu diria (embora haja quem reclame aqui e ali, né).
Além da “fortuita” valorização do trabalho nacional, colhe-se um ótimo capital
para projetos futuros. E por que não driblar também a ameaça da crise econômica
ou mesmo do dólar alto (que infere na compra de lançamentos lá de fora) que
haveriam de nos afetar?
[...] Tornou o mercado editorial mais saudável num ano de crise. E está agregando público às livrarias e ao mercado editorial.
Rafaella
Machado, editora da Galera, da Record. Fonte: O Globo.
Em outro
post desta mesma coluna, afirmei que a vitória ainda era do leitor (em relação à leitura). Hoje já digo que a vitória está aí para todos, porque
os lucros, ah, os lucros, ainda estamos para assistir a muito deles.
O “daqui
pra frente” de um fenômeno
É válido
lembrar de vez em quando que o livro é produto comercial, mesmo por todo o amor
que temos por ele. Agora que as editoras têm a atenção desse grande público, é
importante repensar os projetos e fazer mais uma ponte para que fidelizem esses
novos clientes. Porque uma hora a
onda vai passar.
Não é
que a leitura vá reaparecer nas
prateleiras – ela não sumiu, afinal; uma livraria não se vale apenas de
estouros ou de montinhos de livros nas entradas – mas é esperado que as novas
propostas (quem sabe?), as próximas ondas, sejam
tão bem-vindas quanto. E quem sabe se isso mesmo de alguma maneira não
impulsione a, citada lá em cima, “educação deficiente”?
(me confirmem se essa frase é realmente dele)
Eu, como
leitora, apoio os livros de colorir. Se o leitor quer colorir, que escolha seu livro e mande brasa!
E vocês, o que dizem a respeito dessa
polêmica? O que convence e o que não convence nessa discussão? O que esperam
desse fenômeno?
Até a
próxima,
Kleris Ribeiro.
P.S.: Obrigada aos twitteiros pelos tweets :)
P.S.: Obrigada aos twitteiros pelos tweets :)
Eu penso que se trata de um livro sim, tendo em vista que há interação com o leitor, como você mesma mencionou no texto.
ResponderExcluirNão tem nada relacionado a educação. É uma forma de distração,uma forma de "brincar" e não tem que ter idade, nem explicação pra isso (o povo já gosto de criar caso - dai-me paciência-.
Só fico pensando até quando vai durar essa "febre". rsrs Tomara que por muito tempo e já penso qual a próxima invenção.
Até hoje não comprei um livro para colorir, a vontade é grande, mas a paciência é mínima, mas sempre falo sobre eles quando ouço alguém dizer que não gosta de ler, porque tem preguiça, digo "então comece pintando ué", afinal o mercado literário tem inúmeras opções inusitadas e diferentes para instigar a ler (como foi citado acima).
Bjs ♥
Pois sim, Sheylla! Um dos dilemas da literatura infantil/infantojuvenil na escola é que ela é puxada pra educação, não para o prazer de se relacionar com um livro. Então o livro, qnd fora do ambiente escolar, é um escape. Apesar de ser um meio para um estudo, não precisa se ater somente a isso. Pra mim essa desculpa foi a mais furada de todas hahaha (e fico imaginando msm que a pessoa tá sendo obrigada a pintar e não a estudar '-')
ExcluirTbm não comprei livro pra colorir - pq não acho que esteja estressada o suficiente rs - mas achei mto bacana a desenvoltura dessa onda. Eu já leio mto, outros nem tanto, e se é para essa galera, espero que eles aproveitem muito! Além da balançada no "sistema", é outra forma de conquistar novos leitores :)) - que é sempre a intenção, afinal.
Fique atenta que em breve vai ter sorteio de marcadores para colorir. O livro? Uma surpresa :) *faz suspense*
Bjos!
👏👏👏 eu tava nessa resistência até umas amigas comprarem seu ver a Lindeza que são esses livros, entrei numa livraria e vi um de umas ilustrações lindas de animais e nao resisti. Tenho muita preguiça de quem cria preconceito bobo a toa. É bem o que a bicmuller falou, até parece que foi todo mundo trancado num calabouço sendo obrigado a colorir. Espero que a moda dure muito pra sair cada vez mais edições lindas pra gente!
ResponderExcluirYeah \o/
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