segunda-feira, 15 de junho de 2015

Resenha: "Diga aos lobos que estou em casa" (Carol Rifka Brunt)



Por Marianne: Um livro que explora com delicadeza o amor em quase todas as formas e foge dos clichês de muitos romances mocinho/mocinha que já existem por aí. Essa é frase pra descrever Diga aos lobos que estou em casa, romance de estreia da autora Carol Rifka que já mora no meu coração.

Minha mãe tinha sintonizado a KICK FM, a estação de country, e, embora eu não goste muito desse tipo de música, às vezes, se você deixar, o som de todas aquelas pessoas cantando com tanta emoção pode trazer à mente antigos churrascos em família no quintal e encostas de morros nevados com crianças em trenós e jantares de Ação de Graças. Coisas que fazem bem. Por isso minha mãe gostava de ouvir essa rádio no caminho para a casa de Finn.
June tem quatorze anos, é apaixonada por artes e tem um relacionamento intenso de carinho e amizade com seu tio e padrinho Finn. Tio Finn é irmão da mãe de June, trabalhou com artes por muito tempo e agora vive sozinho no seu apartamento e está concluindo uma obra muito especial: um retrato das irmãs Greta e June.
June e Greta, sua irmã mais velha, eram muito próximas e amigas quando eram crianças. Acabaram se afastando com o passar dos anos e a relação de amizade que existia entre as duas desapareceu e deu lugar a um abismo de distância onde Greta trata a irmã quase com hostilidade.


— Greta – eu disse –, você sabe que não vai demorar muito mais tempo. Com o Finn, quero dizer.
Precisava garantir que ela entendesse como eu entendia. Minha mãe dizia que era como uma fita cassete que você não podia rebobinar. Porém, era difícil lembrar que você não podia rebobiná-la  enquanto a estava ouvindo. E, assim, você se esquecia e caía na música e ouvia e, depois, sem nem saber, a fita de repente acabava.
A história corre no fim dos anos oitenta, quando AIDS e homossexualidade eram (eram?) um tabu gigantesco na sociedade. June acompanha de perto essa realidade. Seu tio Finn é soropositivo e homossexual, o preconceito sofrido vem de dentro da própria família. Num trecho do livro a mãe de June entra em desespero achando que a filha pode ter contraído HIV apenas por usar um brilho labial do tio.
June sabe que a saúde do tio está fragilizada, mas é quando recebe a ligação de um homem estranho lhe dando a terrível notícia é que seu mundo desaba. Seu tio Finn, seu melhor amigo, a única pessoa com quem ela se sentia confortável por perto não existe mais. E quem é esse homem estranho que ligou para dar a notícia?
A família de June se refere ao homem como “o homem que matou tio Finn”, em outras palavras, o homem que lhe passou AIDS.

Pensei em todos os tipos diferentes de amor no mundo. Consegui pensar em dez sem nem me esforçar. A maneira como os pais amam os filhos, a maneira como as pessoas amam um cachorrinho ou sorvete de chocolate ou seu lar ou livro favorito ou a irmã. Ou o tio. Há esses tipos de amor e há outro tipo. O apaixonado. O amor de marido-e-mulher, o amor de namorado-e-namorada, a maneira como você ama o ator em um filme

Após a morte do tio o tal “homem que matou tio Finn” entra em contato com June através de um bilhete pedindo para encontra-la. O homem se chama Toby, e é através dele que June entra num mundo de descobertas e surpresas relacionadas à vida do tio que ela nunca teria imaginado.

O que mais me encantou no livro foi o quanto verdadeiramente humano ele é. Você vai tentando entender o comportamento do cada personagem (todos descritos pelos olhos da observadora June) e tirando suas conclusões pra ir desconstruindo todas elas à medida que a história vai acontecendo. A forma como a autora descreve a dor de June e Toby em pela morte de Finn toca até os mais sem coração.

Os personagens não são divididos entre bonzinhos e maus, são apenas humanos, cada um com sua história e suas mágoas que refletem diretamente no comportamento de cada um.
A própria June é um poço de confusão tentando entender e decifrar seus sentimentos em relação ao tio, à irmã, a Toby.

Eu fiquei encantada por esse livro. A leitura flui muito fácil e incrivelmente cativante. Você se apega aos personagens, se identifica com suas dores e sentimentos. Está muito recomendado, na minha lista de favoritos com certeza.

Até a próxima resenha :)



2 comentários

  1. Olha só, estou com esse livro há um século na estante e ainda não peguei para ler. Mas vou falar, a primeira frase da resenha já chamou minha atenção: gostei de saber que o livro foge dos clichês tão conhecidos. Também me atraiu o aparente aspecto mais humano dos personagens; outra coisa que a princípio me deixou curiosa na época que recebi o livro foi que se passa no fim da década de 80.
    Lembro que li outras resenhas bem positivas do livro, e depois desta já estou até mais animada com a perspectiva de lê-lo em um futuro não muito distante (mais especificamente, quando conseguir abrir uma brechinha na fila de leitura).

    Beijos, Livro Lab

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    1. Aline eu me apaixonei. A delicadeza da escrita da autora é cativante, assim que achar uma brechinha na sua lista encaixa Diga aos lobos que você não vai se arrepender, garanto!

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Ana Liberato