quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Resenha: "O Gigante Enterrado" (Kazuo Ishiguro)

Tradução por Sonia Moreira
Sinopse: O Gigante Enterrado - Uma terra marcada por guerras recentes e amaldiçoada por uma misteriosa névoa do esquecimento. Uma população desnorteada diante de ameaças múltiplas. Um casal que parte numa jornada em busca do filho e no caminho terá seu amor posto à prova - será nosso sentimento forte o bastante quando já não há reminiscências da história que nos une?Épico arturiano, o primeiro romance de Kazuo Ishiguro em uma década envereda pela fantasia e se aproxima do universo de George R. R. Martin e Tolkien, comprovando a capacidade do autor de se reinventar a cada obra. Entre a aventura fantástica e o lirismo, "O gigante enterrado" fala de alguns dos temas mais caros à humanidade: o amor, a guerra e a memória.Fonte: Skoob

Por Eliel: No mínimo excêntrico. Recebi esse livro com uma carga de expectativas muito grande. Julguei o livro pela capa sim, as bordas azuis me conquistaram e a premissa me deixou babando. Me decepcionei... a princípio. Já explico.

Na contracapa, o The Guardian, o definiu como uma mistura de Game of Thrones e A Espada era a Lei. Sou um leitor arturiano e que tem um fraco por literatura medieval. Porém, achei um pouco pretensiosa essa comparação, afinal nessa fábula não há tanta ação quanto em GoT.

Ishiguro, depois de uma década sem publicar, se arriscou demais por andar por temas que não eram de seu total domínio. Isso baseado nas suas obras. Mas se ele não tivesse feito isso, nós nunca poderíamos ter tido a oportunidade de presenciar esse rompimento do comodismo literário. Muitos dos temas aqui abordados - a memória, o amor, o tempo -, também estão presentes em outras obras de Ishiguro, mas a forma com que ele coloca essas ideias nas páginas é revolucionária, mesmo para uma narrativa que se passa em uma Grã-Bretanha pós-arturiana ainda envolta em lendas e mitos.

As personagens principais, ao contrário do que se esperaria, são um casal de idosos - Axl e Beatrice. Eles viajam por belas paisagens à procura de seu filho, porém estão envoltos por uma densa névoa de esquecimento, fruto de uma antiga maldição. Nessa jornada de (re)conhecimento e (re)descoberta eles encontram Sir Gawain (vocês devem reconhecer esse nome justamente da Távola Redonda) que adota para si a missão de proteger esse frágil casal. 

Talvez não fossem exatamente esses os nomes, mas, para facilitar, é assim que vamos nos referir a eles.

A narrativa parece um pouco confusa, mas acredito que essa seja mesmo a intenção do autor. A apresentação das ideias são muito mais profundas do que aparentam ser... Essa narrativa não é mera fantasia, afinal Ishiguro é um dos maiores nomes do realismo. Apesar de estar repleto de cavaleiros de armadura e dragões, não se engane são alegorias muito bem montadas para podermos entender essa fábula com olhos de criança e sabedoria de mestres. Portanto, não pisque para não perder nada.

Eu já vi um ódio tão escuro e tão profundo quanto o mar nos rostos de velhas senhoras e de crianças pequenas e, em certos dias, senti eu mesmo esse ódio.

Ishiguro seguiu os passos de Tolkien e Martin, sem dúvida, para compor esse romance. Porém, nada do que você verá nesse livro foi visto antes em obras que se passam em cenários semelhantes. 

Confesso que cheguei a rotular esse livro como "chato" e "sem graça", mas fui obrigado a me despir dos meus pré-conceitos e me deixar levar por uma narrativa passiva onde eu era mero expectador. Me sentei a beira da estrada e acompanhei as aventuras desse improvável par de heróis. Agora que cheguei ao fim, sou obrigado a concordar com a Publishers Weekly: "Fácil de ler,difícil de esquecer"

Se nós somos mortais, que pelo menos brilhemos intensamente aos olhos de Deus enquanto vivemos nesta terra!

Status: relendo, acho que perdi algo no caminho. Não perca a oportunidade de ter esse livro em suas mãos e desenterrar esse gigante.

Mas a senhora tem mesmo certeza de que deseja ficar livre dessa névoa, boa senhora? Será que não é melhor que algumas coisas permaneçam encobertas?


comentários

  1. Eu adorei a capa do livro, já me conquistou...rsrs
    Mas nao sei, nao é a primeira resenha desse livro que leio e fico na duvida, bom na dúvida acho que o melhor é arriscar né...hahaha
    Fico na duvida pq esses livros com narrativa confusa eu nao gosto, nao consigo render com livros assim, ate leio mas demora, inclusive foi o que aconteceu na minha ultima leitura,era um livro chato que nao rendia e que demorei bastante pra terminar.

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Ana Liberato