segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Resenha: "Limbo" (Thiago d’Evecque)


Por Yuri: Quando perguntaram se eu tinha disponibilidade para resenhar “Limbo”, aceitei sem saber o que esperar do livro. Algumas histórias a gente sabe exatamente o que vai acontecer, a mocinha conhece o rapaz, ocorre algum empecilho que impede os dois de ficarem juntos e sabemos que a história só vai terminar quando os dois viverem felizes para sempre. Só para deixar claro que isso não acontece neste livro.

“Limbo” é a história de um espírito que se encontra no limbo e é acordado pelo arcanjo Gabriel para recrutar doze almas, que deverão ser enviadas de volta à Terra, para salvá-la de ser destruída pelos humanos.
“As almas no limbo preservam sua aparência verdadeira. Não a que gostariam de ter, mas a que revela quem realmente eram.”

Durante a sua jornada, o espírito é acompanhado por sua espada, na qual Azazel prendeu o demônio do medo quando forjou. Para aniquilar qualquer poder que esse demônio possa ter, o espírito nomeia sua espada como Cacá (para soar bem humilhante). Por meio dessa arma as almas são enviadas para a Terra, logo para aquelas mais reticentes em voltar, há longas cenas de lutas com o espírito.


“ – Me conta, o que houve? 
E eu não sabia como dizer que não sabia. Respondi então o que viera fazer ali. 
- A Terra está em perigo de novo. Preciso de uma arma. 
Ele (Azazel) levantou o queixo e se esticou, trocando o peso do corpo para a outra perna. Deve ter pensado que eu iria até a Terra pessoalmente, não sei. Eu ainda não tinha coragem de dizer que o enviado seria ele.”



As doze almas são heróis, lendas e mitos de quem já ouvimos falar e foram escolhidas por possuírem alguma característica que o espírito julgou necessário na Terra, seja pela coragem, pela sabedoria ou gentileza. Até mesmo a rainha Sherazade, narradora dos contos “As mil e uma noites”, é enviada de volta à Terra.
“- Agora eu quero uma alma diplomata – expliquei a ele. – Alguém que use as palavras para esfriar corações nervosos, alguém que negocie, pacifique e converta. [...] Alguém que sobreviveu por mil e uma noites usando a voz, que contou histórias até derreter um bloco de rancor para chover amor, que conquistou a liberdade usando sua imaginação. Com o discurso hipnótico ela cativou seu ouvinte e carrasco a cada palavra, tornando-se a utopia de escritores e contadores de história por toda a Terra. Ela era a sultana Sherazade.”

A medida que você lê o livro não dá pra saber como a história vai terminar, mas de repente você percebe que o livro está no final e entende que o grande mistério refere-se a quem é o espírito incumbido de escolher as almas, por que ele foi escolhido e quem é a décima segunda alma.
Repare que em nenhum momento foi citado um nome para o espírito, por que passamos o livro todo sem saber o sexo e que tipo de ser ele era antes de ir para o limbo, até por que o próprio espírito não consegue lembrar a sua jornada.

Cada personagem foi muito bem escolhido para fazer parte da história. A alma que mais atraiu a minha atenção foi Finn Mac Cumhail, por causa do dedo da sabedoria. Conta-se que Finn, ao preparar o salmão do conhecimento, queimou seu dedo acidentalmente e o levou à boca, absorvendo parte da sabedoria do peixe. E quando Finn precisava pensar, colocava o dedo da sabedoria na boca. Não sei se vocês já ouviram essa história, mas achei um gesto tão simples que nós mesmos costumamos fazer quando paramos pra pensar. Achei que esse personagem deu um toque poético ao livro.

O autor usou parte da vida desses personagens que conhecemos e preencheu alguns buracos criando a sua versão da história deles. Então as partes criadas pelo autor colaboraram para que o motivo pelo qual o espírito escolheu determinada alma fosse condizente com a vida levada por ela.

E é aí que está a mágica do livro, pois o final nada mais é uma história que já conhecemos, mas o autor conseguiu mostrar uma outra visão do mesmo fato. Quando terminei de ler o livro, minha reação inicial foi: “NOOOOOOSSA”. Eu reli o final mais algumas vezes de tão genial que achei. Desculpem-me se vocês já leram o livro ou se criaram muita expectativa, mas toda essa abordagem foi nova pra mim. Nunca li nada parecido, então o final foi surpreendente pra mim. Aquilo que começou de forma despretensiosa se tornou um quero mais.

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Até a próxima!

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Ana Liberato