quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Resenha: “O Grande Ivan” (Katherine Applegate)

Tradução de Maurício Tamboni

Ilustrações de Patrícia Castelao

Por Kleris: Caí numa onda infanto que nem percebi, de tão casual que foi. E este livro em especial nada mais é que um livro infantil premiado. Ainda assim, preferi me deixar seduzir primeiro pelo conteúdo para então reafirmar a merecida premiação. 

O Grande Ivan é um gorila adulto que vive numa jaula em um pequeno shopping de atrações. Vários animais ali estão na mesma situação, acostumados à prisão, ter que se apresentar aos humanos com truques, e viver em seus domínios sem muita perspectiva. Através de Ivan, conhecemos bem essa realidade. Os dias são muitos e não há nada muito diferente ao passar deles.

Ivan não tem contato com gorilas desde que foi capturado, ele basicamente foi “humanizado”, criado entre os costumes dos homens. Bebe refri, gosta de iogurte, assiste filmes numa Tv velha e tem que vestir o papel de um gorila assustador para os visitantes e render algum dinheiro para fazer valer sua vivência ali. 
— Estou cansado – admito. — Mas não tenho sono.
— Está cansado de quê? – pergunta Stella.
Penso por alguns instantes. É difícil colocar em palavras. Gorilas não costumam reclamar. Somos sonhadores, poetas, filósofos, dorminhocos...
— Não sei exatamente. – Bato o pé em meu balanço de pneu. — Acho que talvez eu esteja um pouco cansado do meu domínio.

Não era isso que Ivan queria para si – tampouco qualquer dos animais que foram capturados, claro – só que não é algo que ele poderia mudar. Quer dizer, como poderia? É só um gorila, que apesar de grande e forte, é um ser indefeso. Isso ele acreditava até ter que ser mais para salvar a pele de outro.


Será? Será que Ivan poderia ser o grande, o líder, o protetor, o costas prateadas que a natureza lhe destinou ser? Era hora de se mexer, mesmo com tão pouco, ser aquele quem se deixou apagar. Ser o Barro, como sua família havia o nomeado. 
Meus pais não precisaram de muito tempo para achar um nome pra mim. Ao longo de todo o dia, eu fazia desenhos. Desenhava nas rochas e nos cascos das árvores e nas costas da pobrezinha da minha mãe.
Eu usava os cabinhos das folhas. E o suco das frutas. Mas, acima de tudo, eu usava o barro.
E foi assim que eles passaram a me chamar: Barro.
Para um humano, Barro pode não se parecer com nada. Mas, para mim, era tudo.

O Grande Ivan não tem nada de bobo para um bom entendedor. Katherine fez um incrível trabalho para nos contar o lado de Ivan que, muitos podem não saber, baseia-se numa história verdadeira. Ivan ficou conhecido no mundo por ser um gorila “pintor”. As pinceladas de imaginação da autora foram, assim, suficientemente belas para compor um livro tão rico, perspicaz e “humano”.

A leitura é rápida, por conta de Ivan não ter muitas palavras, nem muitas memórias, ao contrário de Stella, a elefanta companheira. A seu modo, o gorila simplifica o que o mundo costuma complicar. Com essa pegada, o livro se assemelha a O Pequeno Príncipe, até porque é infantil, mas nem por isso deixa de atender a todos os públicos de forma tocante. O tom da história, ao mesmo tempo que guarda a inocência de um gorila no nosso mundo, que nada realmente entende os humanos e assim se assemelha às crianças, a história também trata da humanidade forçada aos animais e abusos de uma sociedade para com aqueles que às vezes tem muito pouco com que se defender. Dentre outros pormenores, fala sobre ser diminuído e dar um jeito se recuperar, se não por você mesmo, por aqueles quem se ama.


Mack, o adestrador e dono do shopping, por outro lado, não é apenas esse ser vil e miserável que maltrata animais, tampouco os outros que ali vivem e trabalham. O fato é que eles podem ter algumas visões tortas, mas o livro também trata deles como figuras frágeis. Isso quer dizer que não é uma história tradicionalmente milimetrada ao bem e ao mal, ela coloca os valores e as circunstâncias em que se embaralham. 
— Não, Bob – Ruby o interrompe. — Você está enganado. Os humanos me ajudaram. [...] eles me salvaram. – ela termina, sussurrando.
Bob pisca os olhos.
— Eles salvaram você? – ele repete. [...]— É verdade – garante Ruby. — Cada palavra do que eu disse é verdadeira.
— Já ouvi histórias como essa, de resgate, antes. – É a voz de Stella. Ela parece cansada. Lentamente, aproxima-se de Ruby. — Os humanos podem nos surpreender às vezes. Uma espécie imprevisível, esses Homos sapiens.

Para corroborar, o tratamento da edição é belíssimo. Me apaixonei por ser de capa dura, com folhas de guarda (as folhas durinhas que ficam grudadas entre a capa e as outras páginas) com pequenos desenhos dos personagens. Por outro lado, gostaria que fosse de brochura mesmo, mais flexível, pois para o manuseio ficou um pouco duro. Há ilustrações também por dentre a leitura (como figuram as fotos acima), enriquecendo mais nossas perspectivas para com a história. É, por fim, um encanto, tanto para crianças em seus 8, 9 anos, quanto para adultos, quaisquer idades tenham.

Recomendo! - e se já leram, contem aí nos comentários o que acharam ;)

(folhas de guarda) 

Até a próxima!


Para comprar, o livro é encontrado em várias plataformas. Deixo a dica da Amazon aqui.


P.S: Descobri que a Katherine já foi resenhada aqui pela Marianne. Não conhecia nada dela, mas agora vocês podem levantar perspectivas, quem sabe ^.^


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Ana Liberato