Tradução
de Maurício Tamboni
Ilustrações
de Patrícia Castelao
Por
Kleris: Caí numa onda infanto que
nem percebi, de tão casual que foi. E este livro em especial nada mais é que um
livro infantil premiado. Ainda assim, preferi me deixar seduzir primeiro pelo
conteúdo para então reafirmar a merecida premiação.
O
Grande Ivan é um gorila adulto que vive numa jaula em um pequeno shopping de
atrações. Vários animais ali estão na mesma situação, acostumados à prisão, ter
que se apresentar aos humanos com truques, e viver em seus domínios sem muita
perspectiva. Através de Ivan, conhecemos bem essa realidade. Os dias são muitos
e não há nada muito diferente ao passar deles.
Ivan
não tem contato com gorilas desde que foi capturado, ele basicamente foi
“humanizado”, criado entre os costumes dos homens. Bebe refri, gosta de iogurte, assiste filmes numa Tv velha e tem
que vestir o papel de um gorila assustador para os visitantes e render algum
dinheiro para fazer valer sua vivência ali.
— Estou cansado – admito. — Mas não tenho sono.
— Está cansado de quê? – pergunta Stella.
Penso por alguns instantes. É difícil colocar em palavras. Gorilas não costumam reclamar. Somos sonhadores, poetas, filósofos, dorminhocos...
— Não sei exatamente. – Bato o pé em meu balanço de pneu. — Acho que talvez eu esteja um pouco cansado do meu domínio.
Não
era isso que Ivan queria para si – tampouco qualquer dos animais que foram
capturados, claro – só que não é algo que ele poderia mudar. Quer dizer, como
poderia? É só um gorila, que apesar de grande e forte, é um ser indefeso. Isso
ele acreditava até ter que ser mais para salvar a pele de outro.
Será?
Será que Ivan poderia ser o grande, o líder, o protetor, o costas prateadas que
a natureza lhe destinou ser? Era hora de se mexer, mesmo com tão pouco, ser
aquele quem se deixou apagar. Ser o Barro, como sua família havia o nomeado.
Meus pais não precisaram de muito tempo para achar um nome pra mim. Ao longo de todo o dia, eu fazia desenhos. Desenhava nas rochas e nos cascos das árvores e nas costas da pobrezinha da minha mãe.
Eu usava os cabinhos das folhas. E o suco das frutas. Mas, acima de tudo, eu usava o barro.
E foi assim que eles passaram a me chamar: Barro.
Para um humano, Barro pode não se parecer com nada. Mas, para mim, era tudo.
O Grande Ivan
não tem nada de bobo para um bom entendedor. Katherine fez um incrível trabalho
para nos contar o lado de Ivan que, muitos podem não saber, baseia-se numa história
verdadeira. Ivan ficou conhecido no mundo por ser um gorila “pintor”. As pinceladas
de imaginação da autora foram, assim, suficientemente belas para compor um livro
tão rico, perspicaz e “humano”.
A
leitura é rápida, por conta de Ivan não ter muitas palavras, nem muitas
memórias, ao contrário de Stella, a elefanta companheira. A seu modo, o gorila
simplifica o que o mundo costuma complicar. Com essa pegada, o livro se
assemelha a O Pequeno Príncipe, até
porque é infantil, mas nem por isso deixa de atender a todos os públicos de
forma tocante. O tom da história, ao mesmo tempo que guarda a inocência de um
gorila no nosso mundo, que nada realmente entende os humanos e assim se
assemelha às crianças, a história também trata da humanidade forçada aos
animais e abusos de uma sociedade para com aqueles que às vezes tem muito pouco
com que se defender. Dentre outros pormenores, fala sobre ser diminuído e dar
um jeito se recuperar, se não por você mesmo, por aqueles quem se ama.
Mack,
o adestrador e dono do shopping, por outro lado, não é apenas esse ser vil e
miserável que maltrata animais, tampouco os outros que ali vivem e trabalham. O
fato é que eles podem ter algumas visões tortas, mas o livro também trata deles
como figuras frágeis. Isso quer dizer que não é uma história tradicionalmente
milimetrada ao bem e ao mal, ela coloca os valores e as circunstâncias em que
se embaralham.
— Não, Bob – Ruby o interrompe. — Você está enganado. Os humanos me ajudaram. [...] eles me salvaram. – ela termina, sussurrando.
Bob pisca os olhos.
— Eles salvaram você? – ele repete. [...]— É verdade – garante Ruby. — Cada palavra do que eu disse é verdadeira.
— Já ouvi histórias como essa, de resgate, antes. – É a voz de Stella. Ela parece cansada. Lentamente, aproxima-se de Ruby. — Os humanos podem nos surpreender às vezes. Uma espécie imprevisível, esses Homos sapiens.
Para
corroborar, o tratamento da edição é belíssimo. Me apaixonei por ser de capa
dura, com folhas de guarda (as folhas durinhas que ficam grudadas entre a capa
e as outras páginas) com pequenos desenhos dos personagens. Por outro lado,
gostaria que fosse de brochura mesmo, mais flexível, pois para o manuseio ficou
um pouco duro. Há ilustrações também por dentre a leitura (como figuram as fotos acima), enriquecendo mais
nossas perspectivas para com a história. É, por fim, um encanto, tanto para
crianças em seus 8, 9 anos, quanto para adultos, quaisquer idades tenham.
Recomendo! - e se já leram, contem aí nos comentários o que acharam ;)
Recomendo! - e se já leram, contem aí nos comentários o que acharam ;)
(folhas de guarda)
Até
a próxima!
Para comprar, o livro é encontrado em várias plataformas. Deixo a dica da Amazon aqui.
P.S: Descobri que a Katherine já foi resenhada aqui pela Marianne. Não conhecia nada dela, mas agora vocês podem levantar perspectivas, quem sabe ^.^
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