quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Resenha: “Três Dias Para Sempre” (Janda Montenegro)


Por Kleris: Três Dias Para Sempre soa como romance “água com açúcar”, daqueles que promete esbarrões de uma mocinha com um mocinho, que juntos devem ultrapassar as reviravoltas da vida para permanecerem unidos, algo com muitas enroladas, mas de conflitos simples, e tudo isso à maresia da Cidade Maravilhosa, Rio de Janeiro.

Acontece que o universo não dá muitas chances para esse mocinho (Teo) e mocinha (Eveline), já que eles se encontram justamente no período de fim de férias do rapaz brasiliense. Além disso, Eveline tem que dar um rumo a sua vida, já que está “presa” ao Rio por tempo demais – ela é uma baiana que viajou para se casar com um cidadão do Rio, só que foi deixada no altar e desde então não conseguira voltar para sua cidadezinha. Mas seria realmente o tempo o vilão dessa história? 
E daí que ele fosse skatista e estudante, e que fosse de outra cidade e fosse se formar em filosofia? Ela mesma não cursara faculdade! Se havia uma coisa que aprendera nesses meses abandonada no Rio de Janeiro, era que não deveria mais esperar conhecer um cara bacana, rico, bem-sucedido e que a amasse para sempre, porque isso era ilusão.

Três Dias Para Sempre centra sua ação em Eveline, uma “romântica incorrigível” que mergulha de vez em sentimentos sobre esse cara, Teo. Ela passa de pessoa amargurada (pelo fracasso do casamento) a apaixonada suspirante, passa de pessoa sem amigos para uma pessoa totalmente sociável, e passa de uma preguiçosa para trabalhadora, e tudo por causa desse amor súbito. Acho que já perceberam que a história não me ganhou...   
— Eu preciso falar uma coisa com você.
[...] Ele vai terminar comigo.
Vai dizer para eu não me iludir.
Vai falar que eu sou legal e tudo mais, mas que já chega. [...]
— Eu vou embora na terça-feira. [...] Eu tenho que ir, Line. Não tenho mais dinheiro pra ficar. Já estou devendo mais de duzentos reais pro Canutto e vou ter que pedir grana emprestada pra minha mãe!
[...]— Eu te empresto — disse ela.

Para contrariar minhas expectativas, Janda tomou o rumo de focar no relacionamento abusivo do casal. Clichês e estereótipos são destacados e tendem a nos deixar bastante incomodados. Em um segundo plano, outros relacionamentos, como da Line com a Raffa (boa alma que ajuda Eveline a ficar na cidade), e do Canutto com Teo, assim como toda a ambientação, foram pouco aproveitados. 
Raffa não era exatamente uma amiga, mas Eveline gostava de pensar que era, para se sentir menos solitária nessa cidade que não era a sua.

Quem espera uma boa dose de amor, encontros inesperados e todo aquele arco-íris para uma tarde, vai se perder no calçadão quente de Copacabana, sem chinelo, sem proteção, sem muita água para se hidratar. Apesar do quê de frenético, de viver intensamente esse pequeno espaço de tempo, a ação em si se arrasta. Fora que há umas falhas, pontas soltas e contradições, desde o enredo às construções de personagem. 
Talvez a culpa fosse dela mesma, afinal, se ela fosse uma garota menos certinha e mais descontraída, teria bebido muito mais e, possivelmente, teria se divertido mais, sem se importar tanto com os rapazes. Afinal, se fosse para colocar na prática, ela mal os conhecia e muito possivelmente dali uns dias jamais viria a vê-los novamente.
Então por que se importara tanto em fazer tudo certo?
Abriu os olhos.
Era porque ela era assim. Era de sua índole fazer as coisas certas, mesmo pelos desconhecidos. Simplesmente não sabia ser de outra forma, e, ainda que vez ou outra alguém se aproveitasse da sua bondade, em geral Line achava que era bom ser assim, que o mundo precisava de pessoas como ela, porque já havia coisa errada demais por aí. 

É uma história que, agora, olhando de longe, acho que entendo as intenções da escritora, só não me envolvi com a maneira com que desenrolou, e acho que se arriscou demais para uma trama que não se mostra pronta. Embora a escrita seja fluída, é um tanto confusa, contraditória e não senti segurança no desencadear dos fatos. Me incomodou a ponto de nem torcer pelo casal, mas, por incrível que pareça, a melhor coisa que lhes acontece está justamente no tal final inesperado citado pela capa.

Esse final, inclusive, me deixou com uma pulguinha atrás da orelha. Muito provavelmente estou sendo imaginativa demais, massss... tenho uma teoria sobre isso – leitores curiosos (e que aceitem spoilers caso não leram ainda) podem me procurar por DM no twitter do DB (@dear_book) para saber mais a respeito. Deixem uma leitora conspirar...

Anyway, agora quero saber das divagações de vocês sobre esse livro. Deixo aqui o link da Saraiva o/


Até a próxima!

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Ana Liberato