Por
Kleris: Acho que todo mundo que leu
algum livro da Kiera Cass já ficou curioso e desejoso sobre o livro The Siren que costumava aparecer na nota
de orelha da Série A Seleção. Após 6
anos da publicação lá fora, Kiera teve a oportunidade de retrabalhar esta
singular história e agora a Seguinte nos presenteia com sua edição (linda!). Como
segurar os FEELS depois dessa, né? Ainda mais que aqui no Dear Book recebemos a
confiança e a prova antecipada da editora. Pois bem, cá estou para contar sobre
essa leitura.
As garotas que vocês
estão prestes a conhecer aqui [...] são apenas jovens comuns que se depararam
com uma irmandade misteriosa. O que mais gosto nessas garotas é que, apesar de
serem sobrenaturais em muitos aspectos, ainda são muito vulneráveis em outros.
O coração delas é bem frágil, e a capacidade de amarem umas às outras (e
algumas pessoas que talvez não devessem) foi o que mais me comoveu quando
decidi escrever tudo isto.
Kiera Cass
Kahlen
foi a única que sobreviveu ao naufrágio do barco da família, salva pela Água,
uma espécie de ser poderoso, que a detém como serva. Kahlen, junto das outras
irmãs sereias, deve ajudá-la a saciar sua fome e faz isso cantando para
humanos, elas os atraem para que se afoguem. A sentença das sereias é servir
por cem anos e então ter sua vida de
volta – com todo um apagamento de memória. Ser sereia é, assim, parar no seu tempo e se dedicar à Água. Não pode
se envolver com humanos, tampouco falar com eles, pois o menor som de uma voz
de sereia faz com que eles entrem em transe e siga para o mar. E ninguém quer
matar mais que o necessário...
As
meninas sereias têm basicamente três vidas: a comum nossa, a vida de sereia, e
a volta à comum, totalmente desligada das anteriores. Por todos os anos de
sentença, elas sonham, fazem planos, se ocupam, cumprem suas missões, mas é difícil lidar com o fardo
de assassinar pessoas – mesmo que para o bem de outras. Dentre as irmãs, Kahlen
parece ser a que mais sofre, pois ela não consegue não se conectar às vidas
daqueles que tira. É por isso que o tom da trama é melancólico, pois é Kahlen
quem nos conta essa história.
Já
com 80 anos de sentença e tão próxima do fim, ela traz uma alma cansada e
torturada. Não que suas irmãs Miaka, Elizabeth ou Aisling não sentissem o mesmo
peso, mas Kahlen é aquela que mais transparece o quanto se deixa abater. Apesar
de tão obediente, ela não consegue abraçar essa vida. Ser imortal, ter uma
beleza mítica, viver entre os humanos (elas não tem uma cauda de fato), nada a conforta
– às vezes nem mesmo o amor das irmãs, igualmente presas. Como uma depressiva
tentando melhorar sua situação, Kahlen vivia um dia de cada vez. Em um desses
dias foi que ela experimentou baixar a guarda, se apaixonar e viver como uma
garota normal... o que mudou todo o curso de sua sentença.
Respira. Uau, Kiera, por essa eu
não esperava... Por vários momentos eu só queria poder te dar um apertado e
demorado abraço. Posso?
—
[...] Mas também se resume ao que você é.
—
Uma sereia? — perguntei, embora parecesse óbvio.
—
Não. Minha.
Em
A
Sereia, Cass traz o mítico e mergulha no sentimento humano com tamanha
delicadeza. Ao concentrar suas ações no amor, no genuíno amor, mesmo com todas
as chances contra, Kiera mostra que há sempre espaço para ele e isso é e deve
ser libertador. Embora esse ideal tenha um pé de clichê, é como ela escreve e
como descreve essa força interior que vemos que nada há de superficial nessa
história. Muito pelo contrário, é tocante. Mas também envolve todo um pesar.
É,
afinal, uma vida sem liberdade e de poucas escolhas. É como ser espiã, ter as
complicadas missões, segredos e não poder falhar nunca, sob a promessa de ser
eliminada. E ainda assim há uma centelha que sempre move os corações e não só o
de Kahlen está nesse dilema.
Aisling apontou para o
colégio interno, indicando a porta que poderíamos usar. A escola até que era
bem bonita, com paredes brancas e janelas altas. Algumas garotas de uniforme
estavam sentadas nos degraus, enfrentando o frio com copos de sidra quente, e
imaginei Aisling naquele mesmo lugar, rindo com as amigas. Esperava que ela
nunca ficasse triste por acordar sem lembranças.
— A noite está bonita.
Você não podia ter escolhido uma melhor para se perder. Quer dizer, olha só a
lua. Noite perfeita para se perder, não acha?
Há
momentos, claro, mais suaves, ingênuos, fraternais, esperançosos, descontraídos...
é com Akinli que Kahlen sorri verdadeiramente para a vida e é com as suas irmãs
que ela encontra forças para não transformar a sentença na tortura da alma.
Apesar dos pontos comuns quando se trata de romance, Kiera soube medir bem para
não ficar aquela impressão de amor bobo ou de família forçada. Me impressionou
que ela não seguiu o caminho fácil.
Me
impressionou também o encanto que é o universo da trama. Como mencionado, as
sereias não têm propriamente uma cauda, elas são garotas normais que têm suas
belezas afloradas para atrair. O toque da autora ao mito foi bem mais sutil,
pois se detém mesmo à “irmandade misteriosa”, o que conferiu à trama poucas
reviravoltas e poucos picos de ação – e nem por isso uma lentidão. Fico feliz
que a Kiera pôde retrabalhar este livro, pois além de uma extraordinária
história, vi uma autora mais amadurecida.
—
Você é muito determinada. Um dia, vai encontrar alguma coisa para investir toda
essa energia, e então ninguém vai poder te deter. Mesmo agora, numa função que
não te dá alegria nenhuma, você cumpre o seu dever com zelo, porque só consegue
agir assim. Há um quê de beleza nisso, Kahlen.
Vale
dizer ainda que Kiera tem mesmo um apego pela arte, pela comida (bolos) e
vestidos! São com certeza momentos para aquecer o coração. Por outro lado, quem
não se sente confortável com leituras melancólicas, talvez não se agrade muito
em acompanhar a história de Kahlen, pois a vulnerabilidade salta das páginas.
Não
posso deixar de mencionar o primor da Editora Seguinte nesta edição <333
Apesar de não ter a versão final em mãos, o trabalho deles tá bem show e
delicado. Traz uma cartinha da autora para nós, leitores brasileiros, e essa
capa <33333 vem direto da Bahia! E para quem não sabe, A Sereia é volume único,
com nenhuma ligação (afora os traços da autora, claro) com a Série A Seleção.
Recomendo! Já
deixo meu abraço a você, leitor, que logo for mergulhar nessa história. Não
deixe de voltar aqui e comentar suas impressões. Enquanto isso, ouça um trechinho do canto das sereias (via Epic Reads) e, por
favor, não entrem no mar!
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“Com
um livro sobre sereias, TINHA que ter uma música.
Ouça abaixo (link). Notícias logo
mais! #ASereia”
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Os livros eram um porto
seguro, um mundo separado do meu. Não importava o que acontecesse naquele dia,
naquele ano, sempre existia uma história de alguém que havia superado seu
momento mais sombrio. Eu não estava só.
Até
a próxima!