segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Resenha Especial: “A Sereia” (Kiera Cass)


Por Kleris: Acho que todo mundo que leu algum livro da Kiera Cass já ficou curioso e desejoso sobre o livro The Siren que costumava aparecer na nota de orelha da Série A Seleção. Após 6 anos da publicação lá fora, Kiera teve a oportunidade de retrabalhar esta singular história e agora a Seguinte nos presenteia com sua edição (linda!). Como segurar os FEELS depois dessa, né? Ainda mais que aqui no Dear Book recebemos a confiança e a prova antecipada da editora. Pois bem, cá estou para contar sobre essa leitura. 
As garotas que vocês estão prestes a conhecer aqui [...] são apenas jovens comuns que se depararam com uma irmandade misteriosa. O que mais gosto nessas garotas é que, apesar de serem sobrenaturais em muitos aspectos, ainda são muito vulneráveis em outros. O coração delas é bem frágil, e a capacidade de amarem umas às outras (e algumas pessoas que talvez não devessem) foi o que mais me comoveu quando decidi escrever tudo isto.
Kiera Cass

Kahlen foi a única que sobreviveu ao naufrágio do barco da família, salva pela Água, uma espécie de ser poderoso, que a detém como serva. Kahlen, junto das outras irmãs sereias, deve ajudá-la a saciar sua fome e faz isso cantando para humanos, elas os atraem para que se afoguem. A sentença das sereias é servir por cem anos e então ter sua vida de volta – com todo um apagamento de memória. Ser sereia é, assim, parar no seu tempo e se dedicar à Água. Não pode se envolver com humanos, tampouco falar com eles, pois o menor som de uma voz de sereia faz com que eles entrem em transe e siga para o mar. E ninguém quer matar mais que o necessário...

As meninas sereias têm basicamente três vidas: a comum nossa, a vida de sereia, e a volta à comum, totalmente desligada das anteriores. Por todos os anos de sentença, elas sonham, fazem planos, se ocupam, cumprem suas missões, mas é difícil lidar com o fardo de assassinar pessoas – mesmo que para o bem de outras. Dentre as irmãs, Kahlen parece ser a que mais sofre, pois ela não consegue não se conectar às vidas daqueles que tira. É por isso que o tom da trama é melancólico, pois é Kahlen quem nos conta essa história.

Já com 80 anos de sentença e tão próxima do fim, ela traz uma alma cansada e torturada. Não que suas irmãs Miaka, Elizabeth ou Aisling não sentissem o mesmo peso, mas Kahlen é aquela que mais transparece o quanto se deixa abater. Apesar de tão obediente, ela não consegue abraçar essa vida. Ser imortal, ter uma beleza mítica, viver entre os humanos (elas não tem uma cauda de fato), nada a conforta – às vezes nem mesmo o amor das irmãs, igualmente presas. Como uma depressiva tentando melhorar sua situação, Kahlen vivia um dia de cada vez. Em um desses dias foi que ela experimentou baixar a guarda, se apaixonar e viver como uma garota normal... o que mudou todo o curso de sua sentença.

Respira. Uau, Kiera, por essa eu não esperava... Por vários momentos eu só queria poder te dar um apertado e demorado abraço. Posso?
— [...] Mas também se resume ao que você é.
— Uma sereia? — perguntei, embora parecesse óbvio.
— Não. Minha. 

Em A Sereia, Cass traz o mítico e mergulha no sentimento humano com tamanha delicadeza. Ao concentrar suas ações no amor, no genuíno amor, mesmo com todas as chances contra, Kiera mostra que há sempre espaço para ele e isso é e deve ser libertador. Embora esse ideal tenha um pé de clichê, é como ela escreve e como descreve essa força interior que vemos que nada há de superficial nessa história. Muito pelo contrário, é tocante. Mas também envolve todo um pesar.

É, afinal, uma vida sem liberdade e de poucas escolhas. É como ser espiã, ter as complicadas missões, segredos e não poder falhar nunca, sob a promessa de ser eliminada. E ainda assim há uma centelha que sempre move os corações e não só o de Kahlen está nesse dilema.
Aisling apontou para o colégio interno, indicando a porta que poderíamos usar. A escola até que era bem bonita, com paredes brancas e janelas altas. Algumas garotas de uniforme estavam sentadas nos degraus, enfrentando o frio com copos de sidra quente, e imaginei Aisling naquele mesmo lugar, rindo com as amigas. Esperava que ela nunca ficasse triste por acordar sem lembranças.
— A noite está bonita. Você não podia ter escolhido uma melhor para se perder. Quer dizer, olha só a lua. Noite perfeita para se perder, não acha?

Há momentos, claro, mais suaves, ingênuos, fraternais, esperançosos, descontraídos... é com Akinli que Kahlen sorri verdadeiramente para a vida e é com as suas irmãs que ela encontra forças para não transformar a sentença na tortura da alma. Apesar dos pontos comuns quando se trata de romance, Kiera soube medir bem para não ficar aquela impressão de amor bobo ou de família forçada. Me impressionou que ela não seguiu o caminho fácil.  

Me impressionou também o encanto que é o universo da trama. Como mencionado, as sereias não têm propriamente uma cauda, elas são garotas normais que têm suas belezas afloradas para atrair. O toque da autora ao mito foi bem mais sutil, pois se detém mesmo à “irmandade misteriosa”, o que conferiu à trama poucas reviravoltas e poucos picos de ação – e nem por isso uma lentidão. Fico feliz que a Kiera pôde retrabalhar este livro, pois além de uma extraordinária história, vi uma autora mais amadurecida.
— Você é muito determinada. Um dia, vai encontrar alguma coisa para investir toda essa energia, e então ninguém vai poder te deter. Mesmo agora, numa função que não te dá alegria nenhuma, você cumpre o seu dever com zelo, porque só consegue agir assim. Há um quê de beleza nisso, Kahlen. 

Vale dizer ainda que Kiera tem mesmo um apego pela arte, pela comida (bolos) e vestidos! São com certeza momentos para aquecer o coração. Por outro lado, quem não se sente confortável com leituras melancólicas, talvez não se agrade muito em acompanhar a história de Kahlen, pois a vulnerabilidade salta das páginas.

Não posso deixar de mencionar o primor da Editora Seguinte nesta edição <333 Apesar de não ter a versão final em mãos, o trabalho deles tá bem show e delicado. Traz uma cartinha da autora para nós, leitores brasileiros, e essa capa <33333 vem direto da Bahia! E para quem não sabe, A Sereia é volume único, com nenhuma ligação (afora os traços da autora, claro) com a Série A Seleção.

Recomendo! Já deixo meu abraço a você, leitor, que logo for mergulhar nessa história. Não deixe de voltar aqui e comentar suas impressões. Enquanto isso, ouça um trechinho do canto das sereias (via Epic Reads) e, por favor, não entrem no mar! 

“Com um livro sobre sereias, TINHA que ter uma música. 
Ouça abaixo (link). Notícias logo mais! #ASereia” 
Os livros eram um porto seguro, um mundo separado do meu. Não importava o que acontecesse naquele dia, naquele ano, sempre existia uma história de alguém que havia superado seu momento mais sombrio. Eu não estava só. 

O livro está em pré-venda: na Cultura, na Saraiva e na Submarino. O lançamento oficial é dia 26/jan.


Até a próxima!

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3 comentários

  1. Acredito que o livro seja nostálgico, até pela situação da personagem, que tem essa carga pesada, quase entrando em colapso pelas mortes. Quando eu vi esse livro, eu não fiquei interessada nele, apesar do encantamento de ser uma obra da Kiera e pela temática, entretanto, não gosto de livros tão emocionais, por isso a não leitura, mas confesso que sua resenha foi tão delicada, que fez com que eu tivesse interesse na leitura.

    Fernanda Araújo.
    Caçadora de Livros ®
    Desde 2011 achando aventuras pelo mundo literário.
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    1. Missão cumprida! Brincadeira. A Sereia foi mesmo um projeto paralelo fantástico da Kiera, mas demanda muito das emoções. Se para o leitor fica essa impressão, imagina o que não deve ter sido pra ela enquanto escrevia. Por outro lado, agora que a leitura já assentou mais, demonstra mais claro o quanto ela amadureceu.

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  2. Obrigada pelo fave <3 A sereia é por certo um livro que vai dividir um pouco os leitores da Kiera por esse caráter "pesado". É uma leitura que pede para ir com calma e ter mta compreensão. Vi outras resenhas e as negativas sempre tocam em algo relativo à lentidão da trama. É um tipo de pesar que não é pra agradar, mas vale muito pra história. Sem ele, nada ali estaria bem sustentado. Kiera foi fundo e ela teve de estar preparada pra isso :)

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Ana Liberato