sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Resenha: “Esposa 22” (Melanie Gideon)


Por Kleris: Home, sweet home! Nada como voltar a um chick-lit depois de tantas outras andanças pelo meio literário. Acho que fazia mais de ano que eu não lia um e a sensação foi essa, de volta em casa. E mais, Melanie, que estava na minha estante fazia uns dois anos à espera de uma viagem, com certeza me deixou com essa pulga atrás da orelha: POR QUE EU NÃO LI ANTES? Me lembrou Cecelia Ahern nesse sentido (aqui).

Alice Buckle é uma mulher bem casada com William e tem dois filhos. A vida parece ir muito bem, muito cotidiana, até que uma e outra crise querem fisgar a família. Nessa rotina de preocupações usuais surge uma pesquisa aleatória, um spam, no e-mail dela, uma pesquisa sobre casamento e ela decide ser uma correspondente. É assim que conhecemos verdadeiramente a vida de Alice (com perfil anônimo de Esposa 22), nas respostas que ela cede ao Pesquisador 101. 
1. Quarenta e três, não, quarenta e quatro.
2. Tédio.
3. Uma vez por semana.
4. De satisfatório a melhor que a maioria.
5. Ostras.
6. Há três anos.
7. Às vezes digo a ele que está roncando quando não está para ele ir dormir no quarto de hóspedes e eu ter a cama inteira só pra mim. 

O engraçado é que não temos acesso às perguntas, só às respostas, então você entra na história tentando adivinhar do que ela tá falando, ao mesmo tempo em que acompanha as altas descrições de Alice. Ela é professora de artes cênicas em uma escola e já esteve por trás da escrita de outras peças, então escrever cenas é com ela, mesmo que seja para um completo estranho. Assim como captura o Pesquisador 101, Alice nos prende em sua história de vida, seus hábitos e dramas pessoais e familiares.


(preferível mostrar a página que copiar uma cena inteira e, de quebra, mostrar como são os capítulos - clique em cima para melhor visualização)

Mas o livro não coloca só conversações diretas entre e-mails. Nessa comédia de costumes, Melanie une rotina e hábitos das redes sociais de um modo muito natural que fica impossível de largar o livro, pois ela consegue se equilibrar bem na narrativa. É, assim, multimídia, como diz a capa com citação de The Washington Post.


(clique em cima para melhor visualização)

Há muitos rolos e desenroladas nessa trama e achei bem impressionante como Melanie consegue concatenar e conciliar tudo em deliciosas e misteriosas 400 páginas. Isso porque Alice pode ser um pouco transloucada, ela tenta resolver os problemas antes que fiquem bem maiores, mas sua família e amigos têm outra ideia sobre o que são reais problemas.

Às vezes pode ser muito para uma matriarca, às vezes muita coisa pode passar por debaixo de seus narizes e aí que mora o perigo. Melanie mostra que até o mais perfeito-imperfeito-perfeito casal pode ter suas dúvidas e crises e às suas maneiras tentam dar um jeito nisso. Mistérios então, não faltam para embaralhar a cabeça dessa Esposa 22, que, por vez, pode estar se envolvendo demais com um tal Pesquisador 101. 
O que eu posso fazer?
Pode me dizer seu nome.
Não posso.
Imagino que você tenha um tipo de nome antiquado. Como Charles ou James. Ou talvez algo mais moderno, como Walker.
Você percebe que tudo muda quando sabemos os nomes uns dos outros. É fácil revelar o nosso eu verdadeiro a estranhos. Muito mais difícil é revelar essas verdades para quem a gente conhece.

Gostei bastante como a autora partiu de um momento tão crucial da história e trouxe mais quinhentos nesses entrelaces de cotidiano real e cotidiano virtual. Essa ideia de como ambas as esferas podem coexistir, e às vezes prejudicar nossa convivência e comunicação, é uma boa jogada nesse romance. Com uma escrita bem leve, clean e simples, a autora mostra que nem sempre é preciso absurdos ou tramas extraordinárias para apresentar uma boa história interessante e engraçada. Bateu até feelings de Martha Medeiros.
Isso é fácil. Muito fácil. Quem diria que a confissão poderia poderia trazer tamanha descarga de dopamina?

Entre mistérios, loucuras e costumes, Esposa 22 mostra ser uma verdadeira pegadinha para os leitores. Mais que mera comédia e mais que mera história de família, há ganchos e há grandes reviravoltas à espreita para surpreender. Quando você acha que vai ser clichê, a Melanie vai lá e te arrasa, simples assim. Já quero conhecer outros trabalhos dessa moça! 

Adorei a capa, guarda bem os mistérios que envolvem a trama. Quanto à edição e os momentos virtuais, ficaram todos bem apresentados dentre os curtos capítulos. Tem surpresinha também ao final, uma que vai fazer você praticamente voltar ao início e começar tudo de novo.

Preparem as etiquetas adesivas e o coração, porque esse, ah, esse é pra se encher de amor <3
Você está em guerra?  Possivelmente.
Como alguém pode estar em guerra “possivelmente”? Não seria óbvio?
A guerra nem sempre é óbvia, ainda mais quando a pessoa está em guerra consigo mesma.
Que tipo de guerra a pessoa normalmente trava consigo mesma?
Uma guerra em que um lado da pessoa acha que ela está cruzando uma linha e o outro acha que essa linha está pedindo para ser cruzada.
Pesquisador 101? Está me chamando de pedinte?
De jeito nenhum, Esposa 22.
Bem, então está me chamando de linha?
Talvez.
Uma linha que você está pisando?
Basta me mandar parar.
Esposa 22? 


Até a próxima!

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Ana Liberato