quarta-feira, 27 de abril de 2016

Resenha: “No sufoco” (Chuck Palahniuk)

Tradução de Érico Assis

Por Yuri: No sufoco narra a história de Victor Mancini, jovem e trabalhador, que pagava uma alta quantia em dinheiro para um centro de idosos que cuidava de sua mãe com Alzheimer. Por conta da doença da mãe, Victor largou a faculdade de medicina e conseguiu um emprego em um museu interativo.

Para conseguir pagar todos os gastos que tinha com a mãe, o jovem frequentava restaurantes chiques e caros e fazia a sua cena preferida: engasgava com um pedaço de comida e esperava alguém salvá-lo. Esse herói se sentia tão responsável pela vida de Victor que ocasionalmente enviava cheques para ajudá-lo.
“Você ganha poder quando finge que é fraco. Por outro lado, faz o outro se sentir forte. Você se salva deixando os outros te salvarem. Todo mundo precisa se sentir superior em relação a alguém. Por isso você fica oprimido. Você é a prova da coragem que eles têm. A prova de que eles foram heróis. A evidência do sucesso deles. Eu faço isso porque toda pessoa quer salvar uma vida humana com outras cem assistindo.”

Victor, também um viciado em sexo, participava de grupos de sexólatras apenas para se aproveitar da fragilidade das mulheres na mesma situação.

Ao longo do livro entendemos como a infância do personagem foi sofrida, pulando de lar em lar, uma vez que sua mãe sempre fugia e voltava para buscá-lo.

O livro mistura as memórias do passado, quando Victor era uma criança e vivia essa relação desgastante e conturbada com a mãe, com o tempo presente, no qual a mãe de Victor não encontra paz para viver devido ao segredo sobre a concepção do filho. Ao mesmo tempo que ela deseja contar a verdade, não consegue reconhecer o próprio filho quando ele vai visitá-la.

Para ajudar o personagem a descobrir o grande segredo, surge a Dra. Paige Marshall, médica da mãe de Victor, que propõe ao jovem revelar a verdade em troca de favores sexuais. Parece fácil para um viciado em sexo, mas isso se torna difícil para o personagem uma vez que ele se apaixona pela médica.

Antes de começar a ler “No sufoco”, li o resumo na orelha do livro e logo me interessei. A história parecia totalmente louca e nova para mim. Assim que iniciei a leitura, veio a frustração, parecia mais um daqueles livros de sexo vulgar e achei que a história seria focada no interesse do personagem em frequentar os grupos de viciados em sexo.

Então logo percebi que a questão não era só colocar cenas obscenas, mas em como isso foi utilizado para compor o perfil do personagem e como isso seria importante para desenvolver o resto da história.

Esse é possivelmente e por falta de uma definição melhor, o livro mais distorcido que eu li nos últimos anos. Eu jamais daria atenção se o encontrasse no estande da livraria, mas foi um achado muito interessante, pois foi um prazer ser apresentada ao humor negro e sarcasmo de Chuck Palahniuk.

Eu indico este livro para quem quer fugir da leitura de sempre, das histórias repetidas e dos clichês. Como eu disse anteriormente, tudo nessa história é distorcida: o amor, o sexo, o herói e o vilão. Para apreciar esse livro é preciso quebrar todos os pré-conceitos da moral e avaliar o personagem principal sem julgamentos.

Fica um trecho de lição de moral que eu aprendi com o livro:
“O caso era o seguinte: não era o sexo que fisgava o garotinho imbecil pra pornografia. Era a autoconfiança. A coragem. A falta de pudor total. O conforto e a honestidade genuína. A franqueza de conseguir ficar ali, parado, e dizer pro mundo: “Arrã, foi assim que quis passar meu dia de folga. Vim posar com um macaco que enfia castanhas no meu cu”. [...] Então, depois daquilo, toda vez que ele ficava com medo ou triste ou sozinho, toda vez que ele acordava em pânico num novo lar adotivo, o coração acelerado, a cama molhada, todo dia que ele começava no colégio novo num bairro novo, toda vez que a Mamãe vinha buscá-lo, mais uma vez, em todo quarto de motel nojento, em todo carro alugado, o menino pensaria nessas doze fotos do gordão se curvando. No macaco e nas castanhas. E aí o garotinho imbecil se acalmaria na mesma hora. Aquilo mostrava pra ele como uma pessoa podia ser valente e forte e feliz.
Mostrava que tortura é tortura e que humilhação é humilhação somente quando você quer sofrer.”
Espero que vocês curtam a leitura.
Até a próxima!

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Ana Liberato