segunda-feira, 9 de maio de 2016

Resenha: "Só por hoje e para sempre" (Renato Russo)



No fundo achava muito romântico e até heroico estar me destruindo assim.

Por Marianne: Muita gente tem preguiça de Legião Urbana e Renato Russo por achar over e tal. Eu gosto do cara, gosto das composições, da banda... Foi aos pulinhos de alegria que li o curtinho, mas devastador, relato escrito por Renato Russo nos dias em que ficou internado em uma clinica de reabilitação no Rio de Janeiro.
   O livro alterna entre trechos do diário mantido por Renato durante a internação e trecho das atividades escritas desenvolvidas por ele na clínica para autoavaliação e autoconhecimento, como parte do plano de tratamento.
   A desenvoltura e coesão da escrita de Renato, mesmos quando narra alguns dos momentos mais difíceis de sua vida por consequência de seus vícios, deixam claro o porquê do músico ser tão celebrado até hoje por suas composições.


Na verdade, para mim, o Poder Superior não se explica por palavras. Sua existência é percebida não pelo intelecto, mas sim pelo coração. É como o vento, não se vê o vento, mas vemos as árvores em movimento, ouvimos o som e sentimos o vento no corpo. Só que o vento se explica, e o Poder Superior não. É importante para mim porque minha vida agora depende disso.

   O livro é difícil por ser uma leitura muito forte e em alguns momentos perturbador. Renato era uma pessoa de alma extremamente sensível, que foi dominado por sua dependência química e quase o chegou ao fundo do poço. E ele não faz questão de esconder isso no seu texto. O trecho onde o autor conta que era viciado em ler jornal apenas para acompanhar as tragédias ocorridas e, para logo em seguida, se drogar – heroína e cocaína eram suas preferidas – demonstra a fragilidade consequente de sua sensibilidade e delicadeza na percepção dos eventos da época.
   Acompanhamos as reações e desenvolvimentos físicos e emocionais do músico no decorrer do tratamento e toda a complexidade por trás das etapas de um tratamento para dependentes químicos.
   Nos relatos Renato cita brevemente sua relação com alguns nomes conhecidos do rock nacional da época e, claro, sua relação com os outros membros do Legião Urbana.
   Percebemos todo o impacto que o vício causou não apenas em sua vida pessoal, como também no desenvolvimento do Legião Urbana e sua relação com os músicos.

O comentário típico é: “Mas logo ele, tão talentoso e inteligente, se destruindo desse jeito...” 

   Eu fiquei bastante chocada e emocionada porque vemos a situação de um ângulo completamente diferente do que estamos acostumados, através de noticiários sensacionalistas. Renato cita alguns famosos da época que também sofriam com problemas de dependência química e eram tratados como os “bobos da corte” pela mídia. Todo alvoroço que causavam em suas polêmicas aparições públicas eram mais que bem vindos para um jornalismo cruel e despreparado que não sabia – e ainda não sabe – lidar com a situação.

De dois meses pra cá, qdo. cheguei ao “fundo do poço”, a imprensa começou a acompanhar meu caso com interesse mórbido e sensacionalista próprio dos meios de comunicação de massa, e me dói muito ver meu rosto, nome e vida estampados nos jornais, junto com toda a vergonha e insanidade dos meus atos.

   É triste pensar que mesmo anos depois a situação não tenha mudado. Artistas com problemas de dependência química ainda são um prato cheio na mão de jornalistas, temos a talentosa Amy Winehouse como recente exemplo disso.
   O livro é uma viagem a mente genial de Renato e em determinado momento me serviu quase como auto ajuda. A honestidade nas autoanálises do músico muitas vezes tem a capacidade de nos fazer refletir sobre as nossas formas de encarar a vida.
   O que eu mais gosto em diários e biografias é o paradigma quebrado da imagem montada que temos de alguns famosos, que tem sua vida tão exposta que é quase como se os conhecêssemos intimamente.
   O livro é curtinho, são menos de 200 páginas, e é o primeiro de alguns dos diários de Renato Russo que serão publicados. Recomendo muito, não só por ser uma oportunidade de conhecer melhor um pouquinho do músico, mas por ser um livro tocante que faz o leitor pensar enxergar fora da caixa de conforto um pouquinho.



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Ana Liberato