Por
Kleris: Sabe quando
o celular começa a travar tudo e você é obrigado a fazer uma limpeza, senão
reiniciar o aparelho? Ou mesmo com um computador ou notebook, em que você se vê
na necessidade de parar um minuto e otimizar sua máquina? Se for esperto, vai
saber evitar novos acúmulos, senão, evitar encher a máquina tão rápido quanto
da última vez.
A cabeça do ser humano funciona de maneira bem
semelhante: ela acumula “lixo”, e, como as máquinas, nos notifica com sintomas,
manda alertas, e, se preciso, vai te bloquear a ponto de você não conseguir
acompanhar mais nada – até mesmo paralisar. Só que, diferentemente de máquinas
e aparelhos, o ser humano não pode eliminar esse lixo – a não ser em casos especiais
de acidentes bruscos – pois nada se perde. Então
como otimizar nosso próprio cérebro pra não nos detonar?
A ansiedade vital torna-se uma ansiedade doentia quando contrai o prazer de viver, a criatividade, a generosidade, a afetividade, a capacidade de pensar antes de reagir, a habilidade de se reinventar, o raciocínio multifocal, entre outros. Um dos mecanismos psíquicos que mais transformam essa ansiedade vital numa ansiedade asfixiante é a hiperconstrução de pensamentos.
Em Ansiedade – como enfrentar o mal do século,
Cury é esse guia nos caminhos “desconhecidos” da nossa mente. A partir do
estudo psiquiátrico e psicoterápico, de sua Teoria da Inteligência Multifocal
(TIM), ele nos apresenta ao quadro contemporâneo da saúde mental e nos inteira
sobre o funcionamento da mente humana. Mais que isso, ele demonstra como nossas
mentes têm entrado em pane e como a sociedade tem respondido – com níveis e
mais níveis de ansiedade generalizada sem a devida atenção.
As pessoas que têm SPA (Síndrome do Pensamento Acelerado) são frágeis? De modo algum! São elas desinteligentes? Em hipótese alguma! Elas têm habilidades como qualquer Homo sapiens, mas lhes falta a capacidade de proteger sua emoção e gerenciar seus pensamentos.
Não é difícil encontrar pessoas que sofram desse
mal. Elas estão por todos os lados, cada uma com suas angústias, escondendo do
mundo, escondendo, inclusive, de si mesmas. Você pode neste minuto fazer uma
busca rápida numa rede social e assistir em tempo real pessoas comentando sobre
a claustrofobia que é esse tipo de sofrimento (veja aqui um exemplo).
Acho que tranquiliza
saber que há outros milhões sendo atacados no mesmo segundo que a gente, dá uma
sensação de “não é só comigo” misturado ao “eu não pirando não”. A da bem
verdade é que há (ainda) muito preconceito por trás dos problemas de saúde
mental, e por conta dessa pressão, casos e mais casos estão aí trilhando
caminhos cada vez mais difíceis. Não há loucura, apenas incompreensão.
Nesse meio tempo, nossa paz de espírito é, assim,
roubada. Entre taquicardias, queda considerável de cabelos, fortes pesos de
consciência, insônias, déficit de memória, sensações incompreensíveis, pânicos
e outros tanto sintomas... todos são pedidos de socorro! É o seu corpo pedindo
um stop de algo excessivo.
É ser asfixiado por dentro e não reagir. É ser aterrorizado em sua própria mente e ficar calado.
Nesse sentido, a abordagem do autor é de uma
natureza informativa ao mesmo tempo que de autoajuda, pois nada melhor que
estar esclarecido sobre o que está acontecendo, como acontece, por quê acontece
ou o que podemos enfim fazer a respeito. Não sei vocês, mas se tratando de algo
que pode nos sufocar assim, de uma hora para outra, “aparentemente sem razão”, eu
não gostaria de ficar no escuro. Além disso, Cury nos traz técnicas embasadas e
de fácil aplicação. Em um primeiro momento, elas podem parecer muito simples e algo
que qualquer pessoa pensaria em realizar, porém, não é que costumamos fazer
totalmente o contrário?
É surpreendente a enorme facilidade que o ser humano tem para criar fantasmas e fazer o velório antes do tempo.
O que Augusto Cury propõe no livro é que há
maneiras de burlar esse sistema, até então descontrolado, que é a nossa cabeça.
Embora não possamos apagar todas as situações ruins, que nos levam aos ciclos
de ansiedade, tampouco eliminar todo o lixo que se acumula na nossa cabeça,
podemos reeditar tudo que é registrado. Podemos gerenciar toda essa
configuração!
É na verdade uma questão de hábito... de otimização
até. Vez que dominamos o controle de volta para gerenciar e balancear nossa
mente, seremos nós que ditaremos a nossa história. Talvez soe como “conversa
pra boi dormir”, como espalham uns ditos populares, mas... quando algo faz
tanto sentido assim e possui mais cases de acertos do que de erros, não é algo
para se deixar pra lá.
A linguagem do livro é de fácil compreensão se você
tem certo costume com pesquisas e teorias. Toca-se em questões de memória,
personalidade, comportamento, gatilhos e controle emocional. Por mais que o
assunto seja um tanto complicado, ele procura diferentes abordagens e modos
para explicar o conteúdo, com exemplos da sua vida privada, social e profissional,
a fim de melhor se fazer entendido (como fiz ao equiparar a mente humana com o
celular lotado). Cury, assim, equilibra os tópicos sem mergulhar tanto na
psiquiatria, nem pretende ser leigo demais.
É direcionado desde os profissionais de saúde mental
a qualquer interessado em conhecer mais da Síndrome do Pensamento Acelerado
(Ansiedade). É esclarecedor tanto para quem sofre quanto para sente que não tem
maneiras de lidar com uma pessoa neste estado. Aliás, pode ser o primeiro passo
de um tratamento – por uma busca pela informação certa – e/ou de aceitar que se
precisa de um, afinal, o livro não dispensa o acompanhamento de um
profissional.
Recomendo!
P.S.: Em função desse livro, o escritor lançou o
livro Gestão da Emoção, no qual explora mais das técnicas, coaching (treinamento) e aplicabilidades.
Ter coragem para velejar para dentro de nós mesmos, reconhecer nossas fragilidades, admitir nossas loucuras, corrigir rotas e nos educar para sermos autores de nossa própria história é, acima de tudo, ter um caso de amor com a vida.
E ninguém pode fazer essa tarefa por você – nem filhos, parceiro(a), amigos, neurologista, psiquiatra, psicólogo ou livros. Só você mesmo... Não traia o que você tem de melhor!
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