quarta-feira, 29 de junho de 2016

Resenha: "O Pálido Olho Azul" (Louis Bayard)

Tradução por: Lea Zylberlicht

“E agora, Leitor, uma história!”


Por Marii: E que história! Terminei o livro surpresíssima, mas, principalmente, e certamente, satisfeita.

Eu já nem mais esperava terminá-lo, já que estava na minha estante há um tempão e devo ter tentado terminar por duas ou três vezes. Entretanto, meu desinteresse pela leitura, em geral, não me permitiu passar nem das primeiras páginas. Abri o livro por esses dias e ali estava a marca do tempo em que havia abandonado o prazer ávido e visceral que eu tinha por livros, três anos. Determinada a  lê-lo ate a ultima página tomasse o tempo que fosse, os três anos foram esquecidos em três dias.

Um bom leitor sabe o quanto é prazeroso entrar pelas madrugadas acompanhado de uma boa história. E O pálido olho azul que me tomou algumas noites, pois tinha essa história extremamente intrigante. Além, de personagens extremamente envolventes.

Mas vamos por parte, o livro se passa mais ou menos no século XVI em uma academia militar americana para cadetes. E um dos pontos positivos do livro foi o quanto o autor foi cuidadoso com a linguagem rebuscada remetendo ao tempo da história. E mesmo assim, essa linguagem ainda permitiu um tom mais intimista dos personagens com o Leitor (com quem Gus Landor dialoga por toda historia). Os capítulos são em primeira pessoa, e há alternância de personagens entre os capítulos, e eu percebi que essa alternância servia para nos lembrar, como leitores, que não se tratava de um narrador onisciente e também que poderíamos pensar e julgar cada ponto de vista. 
“Fico embaraçado em dizer que, naquele momento, fui tomado por uma conjetura – do tipo que, normalmente, Leitor, eu não o aborreceria com ela. Parecia-me que a única coisa que sobrara de Leroy Fry era uma pergunta. Uma simples questão, colocada pelo enrijecimento dos membros, pelo tom esverdeado da sua pele pálida e sem pelo...
Quem?
E pela palpitação que experimentava, eu soube que era uma questão que eu devia responder. Não importava se fosse perigoso para mim, eu tinha que saber quem havia tirado o coração de Leroy Fry.”
O personagem principal é o Gus Landor, quem descreve a maior parte do livro em uma quantidade de detalhes impressionantes, ate mesmo os anatômicos.  Ele é o detetive chamado para resolver o caso de um cadete que havia se suicidado e teve o seu coração, literalmente, roubado na mesma noite. 

Na Academia ele conhece Edgar A. Por, ou cadete Poe, o mesmo famoso poeta e escritor americano, quem mais tarde vai ajudar o detetive na resolução do caso. A referência ao famoso poeta também é perceptível pela esfera de poesia, misticismo e mistério. A personagem feminina Lea também deve ser destacada, pois além de ser responsável pelo romance no livro, demonstra sua posição como mulher na sociedade e auxilia na ambientação militar e antiga. 
“Não gritei. Duvido que tenha me mexido. O púnico sentimento que me lembro de ter tido era o de uma mera curiosidade, do tipo, suponho, que um homem da infantaria deve sentir quando contempla abala de um canhão que está prestes a encontrar sua cabeça. Fiquei parado no meio do quarto e olhei outra mão – a gêmea da primeira – agarrar o parapeito. (...). Seguido por uma franja suada de cabelo preto e dois grandes olhos cinzentos, fixos e tensos, e duas narinas dilatadas pelo esforço. E  oh, sim, duas encantadoras fileiras de dentes, rangendo fortemente.
Cadete Poe, do primeiro ano, ao meu dispor.”
Praticamente todos os personagens são bens construídos e tem sua relevância. Não existe um para apenas preencher espaço. Aliás, as informações que são dadas tem sua importância e vão se entrelaçando na historia. No decorrer do livro, não muito tarde, o autor para de nos apresentar personagens, ou suspeitos, e na gama que ele nos deu, imaginar o "quem, como e porquê".

E, apesar de tudo, o final não é tão previsível e se apresentou como uma excelente saída para a trama.
O narrador é bem comparativo e detalhista sobre os acontecimentos ou ambientes. E, para mim, acabou deixando o inicio um pouco lento e, em alguns momentos a investigação também. Porém todos os fatos são bem amarrados e justificados, já que praticamente não ocorrem sem propósitos. 
“Quão repentina chega, essa benção do amor! E como nos desconcerta até no momento de seu nascimento! Embora possamos isolar o próprio céu para alcança-lo, não podemos envolvê-lo. Não, não, ele deve sempre nos escapar. Precisamos fracassar – CAIR.”
Por fim, achei a obra pra lá de inteligente por todos os seus detalhes; o início lento, a consciência de um Leitor e até a consciência da manipulação da mente de um Leitor.  Recomendo esse livro, principalmente para quem hosta de um bom romance investigativo e não esteja procurando algo que fuja das resoluções óbvias. Adverto só um pouco de força de vontade no início. De resto, como diria minha professora de literatura, deleitem-se.
Você pode encontrar o livro aqui na Folha.



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Ana Liberato