Tradução: Alexandre Callari
A verdade é que os fatos não contam a história completa, porque não estou escrevendo uma história de sangue frio. Estou escrevendo uma memória do meu coração. É esta a verdade que busco — seguir meus sentimentos, não importando para onde me levem. Eu quero me entender na esperança de que você — minha família, amigos e fãs— também me entendam.
Por Marianne: Entrei de vez na minha fase de biografias e autobiografias
e dela não saio mais. Escolhi a autobiografia de B. B. King, lançada pela
Editora Generale aqui no Brasil, atendendo minha curiosidade de conhecer melhor a trajetória do
músico que faleceu ano passado. E vou dizer pra vocês, que escolha, meus amigos
♥.
Os chefes eram governantes absolutos dentro dos seus reinos. Xerifes não gostavam de violar as fronteiras deles, mesmo que isso significasse abrir mão de um criminoso. Isso dava uma sensação dúbia — você se sentia protegido, mas também se sentia pequeno, como se não pudesse cuidar de si próprio no mundo. Eu conseguia sentir o velho elo com a escravidão, sabia que aquele sistema era mil vezes melhor — afinal éramos cidadãos livres — mas também sabia que de certa forma, o cultivo dos campos dava sequencia à mentalidade escravagista.
Riley Ben King cresceu trabalhando num fazendo de algodão no Mississippi.
Após perder a mãe repentinamente, Riley precisou aprender a se virar sozinho na
fazenda ainda muito jovem. A vida na colheita de algodão era estável e proporcionava
conforto e um salário. Até o dia que, inesperadamente, seu pai, que Riley não
via há muito tempo, apareceu e decidiu levá-lo para viver com ele e sua
família.
A inadequação de Riley ao novo ambiente foi evidente, e cansado de se
sentir um intruso na família do pai, Riley fugiu de bicicleta.
A fuga marca a retomada de Riley sobre as decisões de sua vida. De
volta ao trabalho na fazenda, dessa vez em Indianola, onde Riley deu seus
primeiros passos em direção a o que ele sonhava que seria sua carreira musical.
De músico de rua a cantor de jingles,
as famosas músicas de propagandas americanas, Riley fez de tudo para alcançar o
sucesso e ver sua música reconhecida pelo público que apreciava o blues.
O livro, que é narrado pelo próprio B.B King, nos conta detalhes de
sua vida pessoal, seu relacionamento distante, porém de muito respeito, com seu
pai e seus relacionamentos amorosos — esses
últimos, quase todos fadados ao fracasso devido a sua obsessão por trabalho.
O que mais me chamou a atenção
na narrativa foram os relatos de racismo sofridos por B.B. King na época. Vejam
bem, o blues era um sucesso e estava deixando de ser música exclusiva de
negros e as casas de shows de blues lotavam nas noites de apresentações, mas os
Estados Unidos vivia sua época whites
only — onde a segregação racial era mais
escancarada e restaurantes, hotéis e bares baniam os negros de frequentá-los colocando avisos dizendo "whites only" (apenas brancos) em suas entradas.
Eu não fiquei rico e famoso, mas no mundo da black music, me tornei um nome nacional. De uma hora para outra, meu território se espalhou para além do Tenesse, Missisipi, Arkansas e Alabama. É importante lembrar que eu era um artista num mundo exclusivo de negros. Não vendia para os brancos e não tocava para eles. Isso só aconteceria dali a 20 anos.
O livro conta minuciosamente toda a trajetória e as pessoas envolvidas
no caminho para o sucesso de Riley King até se tornar B.B. King. É também um
retrato fascinante da propagação do blues na mídia e no mundo e como B.B. King
acompanhou e participou ativamente dessa evolução. De músico banido de hotéis
e restaurantes por causa de sua cor, B. B. King passou a ser convidado
especial para jantares com o presidente dos Estados Unidos na Casa Branca.
O livro também tem fotografias raras das primeiras apresentações de
B.B King. Fotos com sua família, com sua banda em turnê e de suas apresentações
com outros também celebrados músicos como Eric Clapton e Stevie Wonder.
Na minha mais que humilde opinião o livro pode ser considerado
quase um documento histórico da ascensão do blues. B.B. King cita todos os seus
maiores influenciadores — e também
os primeiros propagadores do estilo musical, que nos mostram a difusão do blues através dos tempos.
Recomendo a
leitura pra todos. A narrativa do músico foi bem conduzida e a leitura flui
fácil. O livro é comovente, forte e cheio de referências musicais que me fizeram me apaixonar pela história e pelo
trabalho de B. B. King. E se você precisa de mais uma ajudinha pra iniciar essa
leitura, pode começar por essa playlist que eu preparei aqui embaixo com alguns dos sucessos de B.B. King e de alguns de seus grandes influenciadores. Espero que vocês também se derretam e queiram conhecer mais da vida e do trabalho desse grande músico ♫.
Até a próxima resenha e aperta o play!
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