sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Resenha (com participação): “Tá Todo Mundo Mal” (Jout Jout)


*Por Mary*: Vocês devem estar aí se perguntando o que significa “resenha com participação”, não é? Pois eu explico!

A resenha com participação traz alguns comentários de um ou mais colunistas do blog, que também leram o livro, e gostariam de enriquecer este nosso momento de conversa sobre a leitura. Não é a mesma coisa de resenha dupla, porque há uma resenha principal com “pitacos” de outro colunista.

Convenhamos que a gente sempre quer dar uma opiniãozinha sobre alguma coisa, né?

A nossa convidada nesta estreia de “Resenha (com participação)” é a Kleris e todos os comentários dela virão no corpo do texto com a fonte colorida em azul.

Então, vamos lá? 
Fiquei imaginando uma vida sem paixão; coisa mais sem graça e difícil de manter. A gente busca isso o tempo todo sem nem notar – quem não quer uma história linda de amor, ou várias histórias lindas de amor, cheias de tensão, frio na barriga, brincadeirinhas idiotas que só fazem sentido para o casal apaixonado? É claro que há momentos de pânico e agonia em que tudo que você quer é chorar para sempre e acha que vai morrer. Mas, no geral, é um sentimento gostoso.
Há alguns meses, confessei a vocês na resenha de Prometo Falhar que costumo ter um pouco de dificuldade em ler livros compostos por coletâneas de crônicas, porque, em geral, este tipo de obra traz uma espécie de quebra intrínseca à sua própria natureza literária.

E aí vocês me perguntam: “Por que você insiste, Mary?”

E eu vos respondo: para ter o prazer de encontrar livros que contrariam à sua natureza. 
Ele disse que eu tinha que correr o risco de ser quem eu era, e que, ao não querer sentir sentimentos que eu reprovava, estava apenas com a exigência de ser perfeita, e que talvez fosse menos presunçoso se permitir ser um pouco invejosa e ciumenta.
E também porque gosto muito da Jout Jout. Compartilho das suas ideias e ela nem sabe o quanto me ajudou a entender umas coisas que eu nunca tinha problematizado na minha cabeça – ou até já tinha – e ficava apenas ruminando determinada situação de uma maneira nada construtiva.

Inclusive, em uma dessas situações, compartilhei com vocês um vídeo dela no fim de uma crônica minha, que vocês podem conferir aqui.

Bem, vocês devem já ter visto pelo menos um vídeo dessa menina e, se não viram, deveriam.

Tá Todo Mundo Mal reúne uma coleção de crises de uma das mais influentes youtubers brasileiras, a Julia Tolezano, famosa pelo canal Jout Jout Prazer, e apesar de não haver um tema específico, todos os seus textos têm um elemento comum: suas mais variadas crises.

Falar de algo tão pessoal como as crises que nos assaltam é puxar de vez as cortinas que escondem nossas pequenas grandes batalhas interiores. E Julia faz isso sem quebrar a magia que é seu espírito livre visto nos vídeos. Ela mostra que, ao contrário do que muitos pensam, ser uma pessoa maravilhosa não nos impede de sermos vulneráveis – e vice-versa. Todo mundo no fundo coleciona crises, uns mais que outros, e é interessante ter consciência deles. 
Nada mais reconfortante para quem está numa crise do que saber das crises dos outros e ficar medindo em silêncio sobre se a deles é pior ou mais branda que a nossa própria. Então aqui estou. Enumerando gentilmente meus piores momentos. Para você avaliar se os seus foram um pouquinho melhores e ter um sono mais tranquilo.
Quem nunca teve lá suas crisezinhas, não é mesmo, meus caros?

Aliás, depois deste livro, descobri que talvez eu nem tenha tido tantas. E, com ele, descobri também que algumas das minhas crises não foram muito diferentes da nossa autora, o que me faz pensar: às vezes a gente encara umas coisas achando que é o diferentão, quando, na verdade, elas são mais comuns do que esperávamos.

Quanto mais penso sobre isso, mais vejo que estamos realmente mal, como que nos afogando no mesmo mar sem saber quem está ali logo do lado. Como mencionei na resenha de Ansiedade (aqui), muitos de nós não só esconde dos outros as angústias, como de si, por conta de preconceito e incompreensão. Assim, Jout Jout entra nesse cenário nos chamando pra sentar e ter uma conversa aberta, sincera e bem humorada.

Em Tá Todo Mundo Mal, vocês encontrarão um livro que tem a marca da sua escritora: diversão, coloquialidade e reflexão. Ler este livro foi praticamente ouvir a voz da Jout Jout da primeira à última página. 
Eu me sentia péssima, mas era tão bom... Série tem disso. É um mix do melhor sentimento do mundo com um pensamento autodestrutivo constante martelando sua cabeça “você é uma inútil, isso não está acrescentando nada a sua vida. Vai ler um livro. Já estudou hoje? Isso de ‘só mais um episodiozinho’ já dura quatro horas e você ainda não fez um santo dever de casa”.
Com uma retórica fluida, textos fáceis e linguagem ágil, Jout Jout permeia por temas nem sempre tão leves. Em alguns momentos, soltamos umas risadas sem perceber; e, em outros, queremos apenas abraçá-la e dizer: você não está sozinha nessa, moça.

Para quem acompanha seu canal, poderá facilmente identificar algumas crônicas em temas já abordados nos vídeos; mas se acalme, querido leitor, que não tem nada de copia e cola aqui. Os textos, além de muito originais, acabam por analisar outro prisma da situação.

Tá Todo Mundo Mal é um livro que corresponde muito àquele desejo de colocar uma pessoa num potinho e guardar com todo amor. Nele você entende que não importa quantas crises você já teve ou terá (e é possível que tenha um redemoinho delas após a leitura – por estarem de repente tão claras), as bads estão aí para serem sentidas e repensadas, e delas podemos tirar preciosas lições, basta que estejamos abertas a estas.

Sendo assim, se você está interessado em um livro de leitura fácil, rápida e fluida, ou quer uma literatura que te trará uma reflexão interessante sem ser exatamente este o objetivo, Tá Todo Mundo Mal é um livro para se ler de uma “sentada” só e você vai adorar. 
Então tudo bem fazer as coisas porque é romântico ou porque é prático, porque no final nada disso importa de verdade, já que o que tiver de ser prático, e o que tiver de ser romântico, assim será, e todos irão desempenhar seu papel muito bem.

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Ana Liberato