sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Resenha: Moda Intuitiva (Cris Guerra)

Por Kleris: Moda Intuitiva é um título que resume tão bem o que deveria ser a nossa relação com a moda que acho que não há título melhor para estampar na capa. Desde o primeiro momento o livro me chamou atenção e, mesmo não sendo muito ligada em moda, decidi me arriscar, dar uma oportunidade para um mundo que, aparentemente, eu era avulsa.

Foi a melhor decisão de todas, pois QUE LIVRO MARAVILHOSO, gente! Cris abre nossos olhos para além das impressões egoístas e mesquinhas que vemos por aí. Moda não é apenas roupas, combinação destas, assessórios, tampouco status ou perfeição. Quem leva isso pra frente, que sim, já começa muito errado.

Em Moda Intuitiva, Cris planta a semente da ousadia – não de extravagâncias, mas de criatividade. Ao passar a olhar a moda com olhos inventivos, imaginativos e até engenhosos, Cris valorizou a moda pelo que é: uma relação pessoal que deve aflorar e manifestar o melhor de nós mesmos. Tal qual para os poetas, que se expressam e brincam em versos e rimas, a vestimenta apresenta mil e umas possibilidades de revelação.
Ali, comecei a entender que a moda pode ser bem mais que veículo de expressão social, de valores ou ideias. Ela pode nos ajudar nos nossos dilemas mais íntimos. Como um meio terapêutico a nos guiar, incentivar, consolar e sublimar. Assim, a Cris me ganhou. [...] Essa busca é o que nos conduz ao nosso estilo individual. É isso. Estilo é uma conquista pessoal dos que se dispõem ao maravilhoso exercício do autoconhecimento e a aceitação. André Carvalhal, autor do livro A moda imita a vida – como construir uma marca de moda. 
Mas uma roupa tem a obrigação de valorizar quem a usa. Caso contrário, você não veste uma roupa, veste uma caricatura.


Cris toca na estima, na intuição, na percepção e até mesmo na adaptação, vez que moda não é algo para nós nos adequarmos, a moda é algo que deve se adequar a nós. Aliás, o que funciona para um, não deve necessariamente valer para outro. A gente pega emprestado, testa, reinventa se preciso, pois uma cópia por simples cópia nunca respeitará propriamente o corpo e a mentalidade de um para outro. A moda está aí para ressaltar o eu de cada um. 
É muito mais frequente ver a moda frustrando pessoas do que fazendo-as felizes. É hora de se rebelar contra isso. 
Ter estilo não é se vestir igual todo dia: é ser fiel à sua essência, entendendo que em um dia você pode acordar diferente do outro, sem deixar de ser você 
Estilo é sua verdade, sua marca, o que é só seu. É se colocar em tudo o que você faz. E quando você se coloca, a imperfeição aparece. Pronto. É você a perfeita imperfeição que garante o tempero que faltava.



Bom senso é outro ponto apresentado, ele é quem deve ser nosso norte pra tudo. Ás vezes nos apegamos tanto a regras, a modelos, a modinhas, que nos perdemos no processo de identificação. Estou usando isso por que gosto ou por que tá na onda? Esta SOU eu? Essa peça fica bem em mim, mas me sinto bem com ela? Vale mesmo levar essa roupa? Ela combina comigo? Vou usá-la noutra oportunidade? 
Aprendi que a moda não deve ser mais uma maneira de nos fazer infelizes, e sim um caminho para nos libertar. Não deve ser tratada de forma superficial, pois tem uma importância muito maior na nossa vida do que admitidos.

Bom senso é escolha, é pensar se vale a pena, tanto de custo-benefício, quanto de estima e conforto. Por que nos esprememos numa calça que tá gritando que não é para nós? Por que nos torturamos em nos modelar pelo que é imposto? Como não conseguimos ver o absurdo que acompanha essas lógicas? Cris mostra que um pouco mais de ponderação nos ajuda a não cair nessas ciladas, até mesmo para frear o consumismo ou se desapegar das impressões de terceiros. Ficar bonita(o) para outros é coisa do passado. 
O chato da moda é essa tentativa de se tornar uniforme. 
Verdade, na moda, é escolher por afinidade, e não por regra ou tendência. É entrar numa roupa e se deixar levar por suas sensações. Verdade é usar a roupa para reforçar sua identidade, e não para ser igual a ninguém. Sentir, e não calcular. Ser, e não pretender ser. Na hora de se vestir, pense nisso. Tire do armário a sua verdade. 
A consultora Glória Kalil diz sabiamente que “moda é oferta, estilo é escolha”. A descoberta do seu estilo passa por aprender a se encontrar no que está sendo ofertado e, assim, saber escolher – e não estou falando de fazer opções “certas” ou “erradas”. Aprender a se conhecer para tomar caminhos que o definam. Mulheres com estilo mostram-se a cada escolha. Seus guarda-roupas são retratos de suas almas.

O que achei super bacana nesse livro é que a autora traz, além de uma abordagem bem diferenciada, um pouco da sua história para nossa inspiração. Como a moda, não é nada para ser copiado fielmente, mas compreendido, experimentado, repensado. A moda foi algo de extrema importância para ela se reinventar, para entender a si mesma, para cuidar, para investir – tanto é que Hoje Vou Assim, seu blog, é um sucesso. Sempre partindo da ideia de apostar em nós mesmas, em um tom próximo do autoajuda, Cris afirma e reafirma várias vezes para encontrarmos aquilo que é nosso cerne; o resto vem por si só. Ouse ser você. Isso é ter estilo. 


Mais que poder de compra, moda é capacidade de observação, sensibilidade e sutileza. E isso não se compra. Elegância não tem nada a ver com ostentação. Repetir roupa é um jeito inteligente e diferenciado de fazer moda, principalmente se você souber variar pequenos detalhes que fazem toda a diferença. Ruim é repetir atitudes que trazem culpa, apego e dívidas, como encher o armário de roupas novas sem o menor critério.
Cris também faz um tour pelo mundo da moda, independente de você ser entendido ou não. Mostra influências, origens, costumes, grandes referências, ícones. E dá dicas, valiosas dicas, procura novas vertentes, sai do senso comum, pensa fora da caixa, que valem desde nossa decisão numa compra à descoberta do que te faz feliz. E se você descobriu, que tal uns exercícios para brincar e recriar? Os exercícios estão aí para nos levar a grandes e boas revelações. Basta, claro, que estejamos dispostos a ir atrás. 



É bom cuidar da sua autoestima para iniciar a experiência de descoberta do seu estilo. Será necessário tentar muitas vezes e se permitir tomar caminhos incertos. Com o tempo você aprenderá a ter segurança para não se levar tão a sério e se permitir tentar de novo. Mas é importante não parar de caminhar. 
Se você acordou a fim de vestir um jeans com camiseta branca, não gaste horas pensando numa forma de transformar o look em alguma coisa mais original. Há dias que você quer ser invisível e pronto. Está feliz ao se olhar no espelho? É isso que importa. 
Não acredito que existam pessoas desprovidas de estilo, e sim as que ainda não descobriram qual é o seu. Quem se veste normalmente de um jeito básico pode sim, ter um estilo básico. Mas também pode viver outra realidade: a preguiça de procurar novos looks, de sair de sua zona de conforto. 
Combinam-se peças, cores e texturas como as letras se fundem nos versos e delas fazemos poesia. O trabalho na frente do espelho é fazer uma rima rica. E isso não tem nada a ver com dinheiro.

Se pudesse, faria umas mil citações desse livro porque ele é maravilhoso assim <3

Moda Intuitiva é um guia, não um manual; é para inspirar, emponderar, desmistificar. Cris Guerra nos leva nesse tour de um modo tão leve, fluído e envolvente, que damos conta que moda (como é vista) é o de menos, intuição é que deve ser (sempre) mais. Mas essa foi/é a expressão de Cris Guerra; qual será a sua?



Pra fechar essa resenha, vale falar do projeto gráfico maravilindo com todo o primor da Planeta <333 A edição se assemelha a uma revista, com texto dando de encontro com fotos e imagens diversas da maneira mais sacada possível, muito bem imersa e elegante no espaço da moda. 

Recomendadíííííííííííííííííííííssimo! 


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Ana Liberato