Tradução: Henrique de Breia e
Szolnoky
Por Marianne: John Boyne é
meu queridinho de outros carnavais. Acolhido e adorado pelos leitores pelo seu
sucesso O menino do pijama listrado,
Boyne já nos mostrou que essa foi apenas a porta de entrada pra sua imaginação
incrível e sua criatividade que vem conquistando cada vez mais leitores. Dessa
vez John Boyne volta a abordar temas polêmicos e toca sem medo na ferida da
igreja católica falando sobre a pedofilia dentro da igreja no seu mais recente
romance Uma história de solidão.
Na Irlanda dos anos setenta somos apresentados a Odran Yates.
Conhecemos a história de Odran desde a sua infância que foi marcada por um
acontecimento trágico na sua família e que fez com que a mãe de Odran se
transformasse numa fanática religiosa. Ainda quando era criança, sua mãe
determinou que seu destino era ser padre e ele entrou no seminário assim que
alcançou a idade adequada.
‘Você é um homem mau, não é, Odran?’, ele perguntou baixinho. ‘Esse seu rosto’, ele acrescentou com um suspiro e sua mão se levantou para me tocar, os dedos acariciando minha bochecha com delicadeza. ‘Eu sei que você sofre. Todos nós sofremos. Mas estou aqui para ajuda-lo com seu sofrimento, menino adorável.
Apesar de a escolha pelo seminário ter sido algo imposto pela mãe, o
rapaz aceitou com naturalidade a vida de sacerdócio e encarnou a ideia de que
sua vocação era mesmo ser padre. Dentro do seminário Odran fez seu primeiro amigo, Tom Cardle. Tom
também entrou para o seminário por uma imposição do pai, mas ao contrário de
Odran, Tom vivia totalmente infeliz com a perspectiva de dedicar sua vida a
igreja e não escondia a insatisfação de ninguém. Mesmo com suas diferenças os dois se tornaram grandes amigos e mesmo
após o seminário — cada um seguiu seu caminho para cumprir suas obrigações com
a igreja — eles mantiveram a amizade.
O personagem não é representado nem como herói ou mocinho da história.
Odran é apenas um bom rapaz que faz o seu trabalho sem olhar pros lados. E
talvez seja esse seu maior problema. A quietude por parte dos envolvidos
—diretos ou não— resultou nos milhares de casos de pedofilia envolvendo membros
da igreja e numa desmoralização geral dos padres com a população.
O protagonista vive essa oscilação no comportamento das pessoas e
sofre as consequências da desconfiança que paira sobre a Irlanda em relação aos
padres. O livro critica fortemente a vista grossa que a igreja católica fez/faz
pros casos de pedofilia e Odran é a personificação da negligencia cometida pela
igreja.
’É um monte de asneira’, ele disse, reclinando-se na poltrona e jogando as mãos para cima. ‘Um moleque falando umas coisas, inventando umas histórias. Quer aparecer nos jornais, só isso’.‘Do que ele foi acusado?’‘Eu não preciso soletrar pra você, Odra, preciso? Pelo amor de Deus, você é um homem inteligente.’
É incômodo, e acho que essa foi a intenção do autor, a quantidade de
situações que acontecem bem na cara do Odran e que ele percebe e ignora de uma
maneira bem sutil, alegando pra si mesmo que nada aconteceu. E como Odran
poderia levantar suspeitas de uma situação tão grave baseado apenas nos seus
achismos?
Há uma crítica forte também, ainda que não tão descarada, em relação
ao endeusamento que os fiéis da igreja católica atribuem? atribuíam aos
padres. Como se estes fossem criaturas divinas enviadas diretamente dos céus.
Aos olhos de John Boyne fica clara a intenção de mostrar que padres são pessoas
comuns como todos nós, podendo ser criminosos ou não, o fato de serem pessoas
que dedicam sua vida a igreja não os isenta das falhas que atormentam a todos
os seres humanos.
Espero que tenham gostado da resenha e até a próxima!
Curta o Dear Book no Facebook
0 comentários
Postar um comentário
Sua opinião é muito importante para nós! Pode parecer clichê, mas não é. Queremos muito saber o que achou do post, por isso deixe um comentário!
Além de nos dar um feedback sobre o conteúdo, contribui para melhorarmos sempre! ;D
Quer entrar em contato conosco? Nosso email é dear.book@hotmail.com