Com Mary Leite, resenhista da casa
Interrogação é uma coluna do Dear Book que recebe convidados para refletir o nosso momento enquanto ideias, hábitos, panoramas e manifestos culturais. A cada post, uma pergunta e uma opinião. Todo o conteúdo de resposta é de responsabilidade dos convidados. Sem periodicidade fixa, a coluna é organizada pela dear boss, Kleris Ribeiro.
O
que você acha sobre o papel do blogueiro literário de auxiliar na bibliodiversidade?
M:
A primeira vez que chorei por um livro, foi lendo um conto de Oscar Wilde,
chamado O Rouxinol e a Rosa. Sabe
aquele choro soluçado, que te arranca o fôlego? Nunca me esqueci das caras
assustadas dos meus pais, que vieram correndo do quarto ao lado, desesperados,
acreditando que houvesse acontecido algo de muito sério comigo. Eu tinha uns
dez ou onze anos e, naquela época, não tinha ideia de como isso voltaria a se
repetir muitas e muitas outras vezes.
Em
pouco tempo, zerei o acervo da pequena biblioteca da minha escola. Minha sede
por leitura era insaciável e, percebendo isso, meus professores começaram a me
emprestar livros. Por causa deles, conheci José de Alencar, Joaquim Manuel de
Macedo e Machado de Assis. Aos doze, li O
Morro dos Ventos Uivantes, sem jamais imaginar que se tratava de um
clássico.
Descobri
um tempo depois que a biblioteca municipal da minha cidade possuía um setor de
literatura infantil, onde era possível tirar uma carteira para pegar livros
emprestados. Não pensei duas vezes. Ali, tive a oportunidade de ler obras que
marcaram minha infância, como A
Princesinha, O Jardim Secreto e a
coleção do Sítio do Pica-pau Amarelo.
Tudo isso antes de terminar o ensino fundamental.
E
neste momento, você que teve a paciência de chegar até aqui, deve estar se
perguntando: qual é o ponto, Mary? Calma,
gafanhoto. Eu chego lá. Como boa
beletrista, não sei ser sucinta.
De
certo modo, meus professores exerceram o papel de blogueiro literário para mim,
dizendo: “Lê esse aqui, acho que você vai gostar”. Mais de uma década atrás não
existia essa pessoa que lê e conta suas experiências literárias para pessoas
desconhecidas, de certo modo influenciando em suas escolhas.
E
talvez seja por isso que tenho tanto receio da responsabilidade com o público
leitor. Pensar que a minha opinião pode influenciar na decisão de centenas de
pessoas, é assustador. Pensar que você, ou um colega seu, pode desistir de ler
um livro, porque eu, em minha humilde opinião, o classifiquei como ruim, é
aterrador.
Dificilmente
direi que não indico um livro. O fato de eu não gostar de uma ou outra obra não
significa que você também não irá gostar. Em vez disso, especificarei a quem
indico determinado livro, a partir do que você busca para ler no momento.
Fico
pensando: E se alguém deixar de ler um
livro que eu não gostei, quando, na verdade, ela teria gostado? No geral,
quando não gosto de uma leitura, tento fazer uma reflexão sobre ela. Por que
motivo eu não gostei? Até que ponto a razão de não ter gostado é realmente um
defeito ou resultado de um gosto pessoal? E sempre – SEMPRE – tentarei explicar
para o meu leitor o que me incomodou na trama, ressaltando as preferências
pessoais que podem ter influenciado na minha opinião.
Se
como influenciador, o blogueiro carrega certa responsabilidade para com seu
leitor; como intermediário na relação escritor/leitor, esse contato nos
proporciona conhecer novos autores e obras que, de outra maneira, não teríamos
interesse de buscar.
Quando
entrei no Dear Book, por convite da Kleris, recebi dois livros que me foram
desafiadores: P.S.
Eu te amo e Loucamente
sua.
O
primeiro, conforme expliquei na resenha, eu já conhecia e, inclusive, havia
tentado ler anos antes. Por imaturidade, bloqueio ou o que for, não consegui
finalizar a leitura. Mesmo hoje, não saberia sugerir uma razão para tanto. Não
obstante, se não fosse pelo blog, talvez eu nunca tivesse me proposto uma nova
tentativa.
Com
o segundo, a experiência foi um tanto diferente. Quando recebi aquele pacote e
li a sinopse do livro, torci o nariz. Preconceito literário? Talvez. Como
mantenho certas reservas com relação a livros eróticos – acredito que também
tenha mencionado isso na resenha – por conta não só da construção de algumas
tramas, mas também pela forma como são vendidos; iniciei a leitura com dois pés
atrás. E descobri que estava bastante enganada. Hoje, Rachel Gibson é uma das
minhas escritoras prediletas.
No
ano passado, tive a oportunidade de representar o blog Dear Book no Planeta
de Leitores, integrando a mesa ao lado de uma
autora que admiro muitíssimo e que, por sinal, só conheci por causa do blog.
Além de uma imensa honra, sentar ao lado de Mary Del Priore e poder conversar
sobre uma obra tão fascinante quanto Beije-me
onde o sol não alcança foi uma experiência inspiradora.
Inesquecível.
Foram
muitas e muitas surpresas.
Acredito
que essa bibliodiversidade reflita
diretamente sobre meus leitores, porque, quando acompanhamos uma determinada
página, acabamos por nos identificar literariamente com certo resenhista. E
vislumbrar a chance de ampliar o leque – e os horizontes, talvez – de uma
quantidade indeterminável de pessoas é impressionante.
Mary Leite é
advogada, especialista em Direito Previdenciário e beletrista por amor. Fisgada
desde cedo pela literatura, aventura-se pelo mundo literário, desde o lado da
leitura ao lado de quem rabisca uma e outra história. Séries, novelas e
resenhas são, dentre outros incisos, seus pequenos e grandes vícios. Intuitiva,
deixa-se guiar por onde a curiosidade levar.
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