terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

[Novidades] Release: “As Invernas” (Cristina Sánchez-Andrade)

Tradução: Fátima Couto 

Cristina Sánchez-Andrade, autora considerada uma das vozes femininas mais poderosas da literatura espanhola, chega ao Brasil pela casa Tordesilhas, selo da Editora Alaúde. Opressões, busca pela independência, sonhos românticos, hierarquias definidas pela beleza, dentre outros, são temas explorados por Cristina em “As Invernas”. Trata-se de uma literatura de alta qualidade bastante acessível ao público geral.

Conheça mais sobre o livro!  
Dolores e Saladina, irmãs apelidadas “As Invernas”, voltam à sua aldeia galega depois de um penoso exílio na Inglaterra, trazendo consigo lembranças que todos ali queriam esquecer. Uma linda, outra feia e desdentada, vivem uma relação típica de irmãs. De seu cotidiano comum, entremeado de flashbacks, vai se descobrindo os segredos macabros e grotescos que permeiam Tierra de Chá.
É do paradoxo do estranho e cotidiano, do cômico e dramático e do terno e perverso que se descobre a riqueza deste romance, seguindo pegadas de narradores cuja obra nunca acabamos de decifrar, porque, ao revelar um sentido, abre outros, e sobretudo abre a vida, sempre vertiginosa e desproporcionada.

As irmãs Saladina e Dolores são enviadas pelo avô (dom Reinaldo) para fora do país quando ele se vê perseguido pelas forças nacionalistas (do general Franco) no início da Guerra Civil Espanhola (1936). Espécie de sábio da aldeia, pode-se dizer que era comunista. Interessado em ciência, comprou o cérebro de todos os habitantes da aldeia para estudá-los depois da morte deles. Para isso fez um contrato e pagou todo mundo. Como era tido por bolchevique, estava no radar das autoridades. Com a escassez de alimentos provocada pelo conflito, dom Reinaldo resolveu organizar a partilha dos víveres (tirando principalmente do padre e dando aos outros) e o plantio da terra. O padre, que era um glutão, começou a ficar nervoso com aquilo.

Com o avanço da guerra, a aldeia era cada vez mais controlada pelas tropas nacionalistas. Dom Reinaldo se esconde.

Enquanto isso, as irmãs, achando que iam para Cuba, acabaram na Inglaterra. Lá fizeram a sua vida. Voltaram anos depois para a Espanha e foram morar na cidade de La Coruña. Mais tarde Dolores se casa com Tomás, um pescador de polvos e fanecas da cidade de Santa Eugenia de Ribeira.

Dolores era linda. Saladina era feia e desdentada. A relação entre as duas é aquela típica das irmãs: amor, inveja, raiva, mais amor. Saladina nunca teve um namorado. As duas adoravam o cinema e sonhavam em ser atrizes, embora fossem costureiras.

Mas Dolores se casou com um bronco. Um dia, cansada daquela vida, fez as malas e disse que ia visitar a irmã. O marido disse que se ela não voltasse em um mês iria buscá-la. Junto com Saladina, Dolores acaba matando o marido. As duas decidem então voltar à aldeia natal carregando o defunto e o enterram no estábulo da velha casa da família. Junto com elas veio também a vaca Greta.

A chegada das duas à cidade traz de volta lembranças que todos ali queriam esquecer.

A escritora tem um tom pessoal inconfundível: a obra apresenta a mescla entre a tradição oral galega – as histórias contadas ao pé do fogo – e a fluida construção dos diferentes círculos narrativos. Estes vão se misturando docemente e envolvendo o leitor até que ele se torne próximo das figuras criadas. É também da difícil simbiose do poético e do narrativo que resulta o tom final da obra, sempre o mais difícil de enquadrar em uma fria definição, e por sua vez o mais definidor de um escritor de raça – e Cristina Sánchez-Andrade o é.

Trata-se de uma história que engloba o cômico e o dramático, o estranho e o cotidiano, o terno e o perverso. Nesses paradoxos se descobre a indiscutível riqueza do romance que se singulariza na combinação prodigiosa e equilibrada de níveis tão variados. Nesse sentido, a escritora segue as pegadas desses narradores cuja obra nunca acabamos de decifrar, porque, ao revelar um sentido, abrem outros, e sobretudo abrem a vida, sempre vertiginosa e desproporcionada.

A crítica espanhola não deixou de exaltar

Uma escrita que trabalha com os sentidos, uma lenda rude, selvagem e feroz... algo radicalmente novo na literatura em espanhol, original e insólito (Manuel Rivas).

Guardem este nome: Cristina Sánchez-Andrade. É nada menos que uma das vozes femininas mais poderosas que a literatura espanhola nos deu (Nuria Martínez Deaño, La Razón) .

No caso de Cristina Sánchez-Andrade, pode-se falar, é claro, em uma escritora com um mundo próprio e insólito e um estilo que surpreende (Luis García Jambrina, ABC).

O ordenamento dos elementos da história é impecável, e a mescla de ternura e ferocidade é completamente equilibrada. Algo semelhante tem que ser dito sobre a elocução, as expressões verbais, que é onde, mais brilhantemente, a intuição da autora se destaca – ela espalha as páginas com emparelhamentos inesperados e surpreendente sinestesia (Ricardo Senabre, EL MUNDO).

Sánchez-Andrade reúne uma história em que combina um suspense medido com grande habilidade, com um sutil retrato psicológico das “inviernas”, duas pessoas que provocam sentimentos mistos (Íñigo Urrutia, EL DIARIO VASCO).

Uma prosa elegante, clara e direta, que suavemente agarra a sensibilidade do leitor também conseguindo ser franca e ácida. Nestes tempos em que alguns, com grandes argumentos, falam de “autores que só narram, mas não escrevem”, temos que elogiar a prosa de Sánchez-Andrade: ela narra e, é claro, escreve. E é absolutamente maravilhosa nisso (Antoni Gual, QUÉ LEER).

Encantador como um feitiço, As Invernas mistura a tradição oral espanhola, o realismo mágico latino-americano e a ficção gótica americana, de Flannery O'Connor e Shirley Jackson, em uma intoxicante história de romance, história violenta e as forças misteriosas que nos movem (Fantastic Fiction).

Leia os primeiros capítulos aqui

A autora

Cristina Sánchez-Andrade (Santiago de Compostela, 1968) é escritora, crítica literária, tradutora e coordenadora de vários seminários de narração. Formada em ciências da informação e em direito, é autora dos romances Las lagartijas huelen a hierba (1999), Bueyes y rosas dormían (2001), Ya no pisa la tierra tu rey (Anagrama, Prêmio Sor Juana Inés de la Cruz (2004), Alas (2005), Coco (2007), Los escarpines de Kristina de Noruega (finalista do Prêmio Espartaco de Novela Histórica 2011) e El Libro de Julieta (2011). Sua obra foi traduzida para o inglês, português, italiano, polonês e russo. 


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Ana Liberato