sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Resenha: “Younger” (Pamela Redmond Satran)

Tradução de Ana Paula Costa
Por Kleris: Desde que soube que Younger, a série, era baseada em um livro, fiquei enamorando-o para ler. Mas fiz um acordo comigo mesma: iria separar impressões da série e livro, para uma melhor experiência. Imaginei que em algum tempo da leitura isso viria por água abaixo, pois já tinha assistido duas temporadas da série, e me veio à mente a lembrança da experiência de leitura de Pretty Little Liars (que não engatei mesmo por tantos conflitos de referências, entre o livro e a série). Colocando a carroça na frente dos bois, digo logo: deu certo.

Em Younger, Alice é uma quarentona recém-divorciada que nasceu virada pra lua – não que ela acredite muito nisso, embora tenha uma quedinha por misticismos: ela chegou na casa dos 4.0 aparentando ter menos de 3.0. Após o divórcio, a morte da mãe e a distância da filha (que está em um intercâmbio na África), ela quer reaver sua vida, recomeçar. Em clima de ano novo, ela sai da sua zona de conforto, que é o subúrbio de Nova Jersey, para a badalada e instigante Nova York.

Vez que Alice tem esse presente da natureza de parecer mais nova do que é, ela e sua bestie Maggie inventam, de brincadeira, um extreme makeover para rejuvenescer. A brincadeira dá tão certo que Alice adota para recomeçar a vida. Além de um trabalho na editora de que é super fã, ela arruma um namorado para balançar suas estruturas. Mas o peso das experiências lhe assombram e as mentiras, que não são poucas, arriscam lhe sufocar. Alice tem apenas um desejo: ser jovem e viver o que há para ser vivido, sem ter sua idade como empecilho. 
— Isso é ultrajante.
— Por que é ultrajante? Foi você mesma quem disse que desejava ser mais jovem. Você tem que arrumar um emprego, queira você ou não.
— Eu quero – assegurei a ela.  — Ok, então. Será mais fácil achar um sendo uma mulher de 28 do que uma de 44 anos.
— Não gosto de mentir – confessei. — Posso estar usando roupas apertadas e quilos de maquiagem, mas sou eu mesma. Por que tenho que ter uma idade específica?
— Exatamente – disse Maggie. — Por que você tem que dizer que tem 44 ou 28 ou sei lá que idade? Você não precisa dizer a verdade nem mentir.
 

Younger é um chick-lit que explora um pouco de tudo do gênero: independência da mulher, questões de imagem e idade, malabarismos femininos, jornada de trabalho, exigências sociais, problemas amorosos, sexo, feminismo, etc. Em termos mais específicos, acho que seria um Single City Girl Lit misturado com General Mom Lit:
Single city girl lit, ou literatura das garotas solteiras na cidade grande, é um gênero que envolve: encontros, paqueras, amigos, trabalho, drinks e apartamentos apertados divididos com pessoas legais-estranhas-bizzaras-divertidas. A principal característica é se passar numa grande cidade, geralmente Nova York ou Londres.  
Ex: Sex and the City, Temporada de Caça: aberta, Confissões de uma Ex, Delírios de Consumo de Becky Bloom, A Rainha da Fofoca.

Mom Lit, algo como literatura da mamãe, é um subgênero do chicklit cujas histórias têm a temática voltada para a maternidade, gravidez ou sobre a criação dos pequenos. Normalmente, estes livros tratam desta temática de forma bem humorada, revelando a loucura que pode ser a maternidade. Mom Lit pode ser subdividido em três outras categorias, determinadas pelo período que a mãe está passando durante a narrativa – pregnancy lit, baby lit e general mom lit. (Fonte: Blog Lost in Chick-lit) 

Apesar de intrigante, Pamela nos entrega uma história bem sóbria – sem grandes reviravoltas, sem melodramas, deslumbramentos ou mesmo um forte humor trágico (clássico do gênero). As coisas apenas... acontecem. Experiências, maternidade, descobertas, encontro de gerações. 
— Só acho que deve ser mais agressiva e fazer o que você quer, desde o início – disse ela, olhando para o teto. — Como você vai se transformar em uma pessoa inteiramente nova se continua agindo como a antiga você?

Nessa pegada realista, achei bacana que a autora se manteve centrada, não se detendo a explorar mais que o necessário de algumas questões – como o trabalho ou resgatar questões do passado. Por outro lado, pensando bem, seus personagens caem fácil no maniqueísmo, em que ou temos pessoas ótemas ou pessoas saco, e basicamente isso. Senti falta de um algo mais em cena. Talvez por ser um livro pensado para ser único, não haveria como explorar tanto entre um agito e outro.

É uma leitura razoável e rápida com uma trama interessante de se acompanhar, ideal para aqueles momentos em que só se quer uma leiturinha para passar o tempo; você sai com um sorrisinho de canto pelo crescimento da história. De escrita ágil e serena, a história é fechadinha. Pontua bem sobre a juventude ser um estado de espírito e como nós mulheres podemos mais que dobrar nossas jornadas de vida.



Quanto à série, vejo que de fato o livro só deu o pontapé, pois no seriado há bastante espaço para desenvolver os conflitos e personas (e muitos causos do mercado editorial!). As inserções, inclusive, dão um ar mais magnífico pra história. Não houve mudanças drásticas, nem ficou um ar de fanfic do original. É uma excelente adaptação!

Enquanto que no livro a protagonista é uma personagem mais maternal que sugere empatia e compaixão, gosta de pratos limpos e poucos agitos, na série, ela é muito mais ousada, sagaz e de espírito aprendiz. Acho que só o Thad foi feito para ser odiado nas duas versões.

Se você, como eu, fez o caminho inverso de começar pela série, com certeza esse fator do algo muito conhecido vai te guiar por diversas cenas, tornando tudo mais cinematográfico, mas nada que resulte em um conflito de referências entre as mídias da história. 
— A propósito, me chamo Lindsey.
— Alice.
— Ah – disse ela. — Como a Munro. Ou a Walker.
Eu poderia ter dado um beijo nela.
— Todo mundo diz como a de No País das Maravilhas – falei para ela.
— Eu não sou todo mundo – concluiu ela. — Mas ainda serei seu Coelho Branco.

Até a próxima!

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Ana Liberato