Com Melissa de Sá, autora
parceira convidada
Interrogação é uma coluna do Dear Book que recebe convidados para refletir o nosso momento enquanto ideias, hábitos, panoramas e manifestos culturais. A cada post, uma pergunta e uma opinião. Todo o conteúdo de resposta é de responsabilidade dos convidados. Sem periodicidade fixa, a coluna é organizada pela dear boss, Kleris Ribeiro.
O
que é o caminho fácil e o caminho difícil pra você na escrita?
M:
Vixe, bem que me avisaram que as
perguntas por aqui não eram fáceis, hein?
Para
mim, o caminho fácil na escrita é continuar na zona de conforto. Todo escritor
tem aquele gênero que tem mais afinidade, aquele tipo de cena que “flui do nada”.
É fácil seguir escrevendo só isso, um caminho muito menos doloroso. Sair da
zona de conforto é entrar no caminho difícil, pois nos força a expandir nossos
horizontes, procurar coisas onde não imaginamos. É escrever algo que nunca
imaginamos escrever. E às vezes isso é complicado, nos faz bater cabeça,
reescrever mil vezes. Mas também é um processo que nos faz escritores melhores.
Seguir
“modinhas” pode parecer um caminho fácil, inicialmente, mas é preciso lembrar que a literatura segue em ondas: aquilo que é o ápice durante alguns
anos, depois já não é mais tão interessante. Os livros que permanecem são
aqueles que conseguiram transitar entre velho e o novo, que conseguiram atingir
seu público, mas que trouxeram algo que ficará para além de sua época. Eles
podem até ter feito parte de uma certa modinha, mas tinham algo a mais.
Obviamente
os leitores são importantes, mas atender às expectativas do público sempre e a
qualquer custo faz com que surja uma leva de livros completamente iguais. É
muito fácil cair em velhas fórmulas literárias e clichés e usá-los de forma
pouco problematizada. Encher um livro com triângulos amorosos, sacrifícios de
herói e protagonistas ruivas muito especiais pode parecer inicialmente uma
solução fácil que vai agradar a todos, mas sem dosagem nenhuma faz com que
aquele texto só seja mais um na multidão.
Trilhar
esse caminho difícil também pode colocar público e escritor em rota de colisão. Quando
um escritor ou escritora é associado a um determinado gênero, pode parecer
loucura para os leitores quando uma publicação diferente aparece. Mas
precisamos lembrar que Stephen King escreveu uma fantasia clássica em Os Olhos do Dragão e um drama
emocionante em A Espera de um Milagre.
Margaret Atwood escreveu a distopia O
Conto da Aia, mas também tem um livro de poemas maravilhoso chamado Os Diários de Susanna Moodie.
Em
relação à minha escrita, tive que sair da minha zona de conforto algumas vezes
e foram desafios dolorosos, mas que me ensinaram muito. O mais notável foi o
conto “Erva Daninha”, para a antologia Medieval
da Editora Draco. Foram várias e várias reescritas, vários comentários de “não
tá bom ainda” e eu tive que trabalhar no texto de forma muito intensa fazendo
pesquisas sobre a Veneza medieval, como as pessoas viviam na época e figuras
históricas. Foi um parto, foi difícil, não era nada daquilo que eu estava
acostumada a escrever, mas aprendi muito no processo.
Outro
caso meu foi com Metrópole: Despertar,
minha distopia também publicada pela Draco, em que tive que mexer em metade do
livro porque a história não estava fluindo tão bem quanto eu esperava. Foi
difícil ouvir e perceber isso, sentar na cadeira e repensar tudo, mas hoje vejo
que o livro ficou bem melhor.
É
sempre mais fácil viver dentro da nossa bolha, mas a bolha é sempre o caminho
fácil. Na vida e na escrita temos que sair dela.
Melissa de Sá
tem medo do escuro, mas escreve sobre ele mesmo assim. Desde 2012 traz suas
ideias da gaveta para o mundo. Publicou Metrópole: Despertar, uma distopia
Young Adult pela editora Draco em 2016. Esteve presente em diversas antologias,
dentre elas Excalibur (2013), Boy’s Love (2014), Piratas
(2015) e Medieval (2016), além de possuir vários trabalhos
independentes. Seu e-book infantil, A Última Tourada, teve mais de 51
mil downloads no site, o que levou à publicação da versão impressa. É de Belo
Horizonte e mestre em Literaturas de Língua Inglesa pela UFMG. Gosta de doce de
leite, música e verões preguiçosos.
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Até
a próxima interrogação!
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P.S.:
Tem Metrópole – O Despertar no Buscapé. Veja os melhores preços ;)
Gente, que texto BOM! Tinha que ser da Melissa e pergunta cabeluda da Kleris mesmo! hahahaha
ResponderExcluirEssa coluna é ótima! ;)
HAHAHAHAHAHAHAHA adoro!
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