quinta-feira, 2 de março de 2017

Interrogação #11 – O caminho fácil e o caminho difícil na escrita


Com Melissa de Sá, autora parceira convidada


Interrogação é uma coluna do Dear Book que recebe convidados para refletir o nosso momento enquanto ideias, hábitos, panoramas e manifestos culturais. A cada post, uma pergunta e uma opinião. Todo o conteúdo de resposta é de responsabilidade dos convidados. Sem periodicidade fixa, a coluna é organizada pela dear boss, Kleris Ribeiro.


O que é o caminho fácil e o caminho difícil pra você na escrita?

M: Vixe, bem que me avisaram que as perguntas por aqui não eram fáceis, hein?

Para mim, o caminho fácil na escrita é continuar na zona de conforto. Todo escritor tem aquele gênero que tem mais afinidade, aquele tipo de cena que “flui do nada”. É fácil seguir escrevendo só isso, um caminho muito menos doloroso. Sair da zona de conforto é entrar no caminho difícil, pois nos força a expandir nossos horizontes, procurar coisas onde não imaginamos. É escrever algo que nunca imaginamos escrever. E às vezes isso é complicado, nos faz bater cabeça, reescrever mil vezes. Mas também é um processo que nos faz escritores melhores.

Seguir “modinhas” pode parecer um caminho fácil, inicialmente, mas é preciso lembrar que a literatura segue em ondas: aquilo que é o ápice durante alguns anos, depois já não é mais tão interessante. Os livros que permanecem são aqueles que conseguiram transitar entre velho e o novo, que conseguiram atingir seu público, mas que trouxeram algo que ficará para além de sua época. Eles podem até ter feito parte de uma certa modinha, mas tinham algo a mais.

Obviamente os leitores são importantes, mas atender às expectativas do público sempre e a qualquer custo faz com que surja uma leva de livros completamente iguais. É muito fácil cair em velhas fórmulas literárias e clichés e usá-los de forma pouco problematizada. Encher um livro com triângulos amorosos, sacrifícios de herói e protagonistas ruivas muito especiais pode parecer inicialmente uma solução fácil que vai agradar a todos, mas sem dosagem nenhuma faz com que aquele texto só seja mais um na multidão.

Trilhar esse caminho difícil também pode colocar público e escritor em rota de colisão. Quando um escritor ou escritora é associado a um determinado gênero, pode parecer loucura para os leitores quando uma publicação diferente aparece. Mas precisamos lembrar que Stephen King escreveu uma fantasia clássica em Os Olhos do Dragão e um drama emocionante em A Espera de um Milagre. Margaret Atwood escreveu a distopia O Conto da Aia, mas também tem um livro de poemas maravilhoso chamado Os Diários de Susanna Moodie.

Em relação à minha escrita, tive que sair da minha zona de conforto algumas vezes e foram desafios dolorosos, mas que me ensinaram muito. O mais notável foi o conto “Erva Daninha”, para a antologia Medieval da Editora Draco. Foram várias e várias reescritas, vários comentários de “não tá bom ainda” e eu tive que trabalhar no texto de forma muito intensa fazendo pesquisas sobre a Veneza medieval, como as pessoas viviam na época e figuras históricas. Foi um parto, foi difícil, não era nada daquilo que eu estava acostumada a escrever, mas aprendi muito no processo.

Outro caso meu foi com Metrópole: Despertar, minha distopia também publicada pela Draco, em que tive que mexer em metade do livro porque a história não estava fluindo tão bem quanto eu esperava. Foi difícil ouvir e perceber isso, sentar na cadeira e repensar tudo, mas hoje vejo que o livro ficou bem melhor.

  

É sempre mais fácil viver dentro da nossa bolha, mas a bolha é sempre o caminho fácil. Na vida e na escrita temos que sair dela.


Melissa de Sá tem medo do escuro, mas escreve sobre ele mesmo assim. Desde 2012 traz suas ideias da gaveta para o mundo. Publicou Metrópole: Despertar, uma distopia Young Adult pela editora Draco em 2016. Esteve presente em diversas antologias, dentre elas Excalibur (2013), Boy’s Love (2014), Piratas (2015) e Medieval (2016), além de possuir vários trabalhos independentes. Seu e-book infantil, A Última Tourada, teve mais de 51 mil downloads no site, o que levou à publicação da versão impressa. É de Belo Horizonte e mestre em Literaturas de Língua Inglesa pela UFMG. Gosta de doce de leite, música e verões preguiçosos.


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2 comentários

  1. Gente, que texto BOM! Tinha que ser da Melissa e pergunta cabeluda da Kleris mesmo! hahahaha

    Essa coluna é ótima! ;)

    ResponderExcluir

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Ana Liberato