O Eliel
também já resenhou este livro! (veja aqui)
Tradução por Fernanda Abreu |
Por Kleris: Costumo dizer que não gosto de
ir a casamentos, mas gosto das histórias; não gosto de aventuras, mas sim das
histórias de aventuras. Acho que seria como o Hobbit quando o Gandalf oferece
uma jornada: teria uma admiração, mas não a pré-disposição de embarcar de fato
em uma. Escola de Sabores não é um livro de receitas e nem propõe que
você vá se aventurar na cozinha. Talvez seja por isso que eu tenha gostado
tanto dele. Foi um doce achado.
Escola
de Sabores é como um ponto de encontro de histórias e pequenas glórias. Não
há muito enredo e nem muita ação, então não
esperem isso da Erica. É mais para aquele livro sutil, de humor bonito e delicado,
como observar um pôr-do-sol e se deixar levar pelo efeito poético. Nuança,
doçura e delicadeza são então as palavras certas para o romance.
Quando estava com ela, ele via que mesmo as experiências cotidianas eram mais profundas, mais cheias de nuances, descobria que a satisfação e a atenção permeavam as camadas da vida como bilhetes de amor escondidos entre as páginas de um livro.
Lilian
recebe os alunos toda primeira segunda-feira do mês para lições de culinária.
Mais que apenas aguçar o paladar deles ou abrir seus horizontes quando se trata
de comida, Lilian quer dar seu toque para fazer a diferença, ela quer transpor
isso para o momento do preparo gastronômico. Aqui encontramos o fascínio, a
paixão, a dedicação.
Acho
engraçado como às vezes, como leitora, eu admiro esse prazer em ler, e admiro
mais quando ouço/leio sobre esses pequenos prazeres que a mim são
desconhecidos, como o de simplesmente apreciar uma refeição ou descobrir como
funciona um motor de... sei lá, um ventilador (quem sabe?). Quer dizer, a
harmonia que isso pode oferecer a uma pessoa e como isso a deslumbra tão fácil.
Isso é
visto nas passagens que relatam a relação de Lilian com a mãe, uma compulsiva
leitora, que não soube passar sua paixão à filha. Lilian acabou descobrindo por
si mesma (e pela força da situação em que a mãe se encontrava) que cozinhar era
o clic dava sentido à sua vida. Na
verdade, foi uma tentativa dela, ainda menina, em trazer sua mãe de volta: cozinhar
era sua esperança.
As pessoas sorriam ao ver aquela mãe estimulando a imaginação literária da filha, mas Lilian sabia que não se tratava disso. Em sua mente, a mãe era um museu de palavras, e ela, um anexo, necessário quando o espaço no prédio principal estava acabando. [...] Talvez, pensava Lilian, os aromas fossem para ela o que as palavras impressas eram para as outras pessoas – algo vivo que crescia e se modificava.
Para o
curso da vez, estavam inscritos oito pessoas: Claire, Cloe, Tom, Antonia, Ian,
Carl, Helen e Isabelle, cada um procurando um sentido das coisas sem ao menos
estarem mais conscientes disso. Gostei muito sobre com a autora segurou cada
persona, apresentando-os conforme seus núcleos. Cada capítulo trata sobre um
personagem e a maneira como a Erica fez isso me lembrou muito a Lisa Jewell, em
Tempo
de Mudanças (resenha aqui). A autora foi muito engenhosa nesse sentido,
pois os capítulos amarram, em conjunto ao enredo de aulas, recortes das
histórias pessoais, fazendo as aulas mexerem nos cotidianos e isso com uma
narração muuuito segura.
A
escrita é assim carregada de suaves descrições, comparações e vez e outra se
utiliza de umas metáforas que envolvem a vida e o próprio ato de cozinhar. Mexe
muito com as sensações, as lembranças, as essências... a magia da coisa toda. E
não é forçado, é bem fluente.
Sovar a massa é como nadar ou caminhar: parte da sua mente se mantém ocupada, enquanto o restante fica livre para ir aonde quiser ou precisar.
A edição
traz também umas imagens a cada entrada de capítulo, sempre muito a ver ou com
a personagem apresentada, com sua história de vida ou como um ingrediente fazia
tanta diferença nesse recorte. Como a capa, fica tudo muito fofo. As orelhas
são beeeeem confiáveis e se eu pudesse, copiaria o texto da contracapa, porque
é tudo verdade hahaha.
Como a
própria sinestesia que reviva nas páginas, o livro é um sussurro de noz-moscada com raspas de chocolate que fazem poeira
aveludada. Não a toa essa aura me lembrou bastante os filmes Simplesmente
Irresistível e Julie & Julia e... ah,
the joy <3
Recomendado
àqueles que querem desacelerar o tempo e se perder no fitar de uma gota de
chuva que desliza no vidro da janela.
Nem sempre é fácil diminuir o ritmo de nossas vidas. Mas, se precisarmos de ajuda, temos uma oportunidade natural de reaprender a lição três vezes ao dia.
Até a próxima!
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