quarta-feira, 31 de maio de 2017

Resenha: “Escola de Sabores” (Erica Bauermestier)


O Eliel também já resenhou este livro! (veja aqui)

Tradução por Fernanda Abreu
Por Kleris: Costumo dizer que não gosto de ir a casamentos, mas gosto das histórias; não gosto de aventuras, mas sim das histórias de aventuras. Acho que seria como o Hobbit quando o Gandalf oferece uma jornada: teria uma admiração, mas não a pré-disposição de embarcar de fato em uma. Escola de Sabores não é um livro de receitas e nem propõe que você vá se aventurar na cozinha. Talvez seja por isso que eu tenha gostado tanto dele. Foi um doce achado.

Escola de Sabores é como um ponto de encontro de histórias e pequenas glórias. Não há muito enredo e nem muita ação, então não esperem isso da Erica. É mais para aquele livro sutil, de humor bonito e delicado, como observar um pôr-do-sol e se deixar levar pelo efeito poético. Nuança, doçura e delicadeza são então as palavras certas para o romance. 
Quando estava com ela, ele via que mesmo as experiências cotidianas eram mais profundas, mais cheias de nuances, descobria que a satisfação e a atenção permeavam as camadas da vida como bilhetes de amor escondidos entre as páginas de um livro.

Lilian recebe os alunos toda primeira segunda-feira do mês para lições de culinária. Mais que apenas aguçar o paladar deles ou abrir seus horizontes quando se trata de comida, Lilian quer dar seu toque para fazer a diferença, ela quer transpor isso para o momento do preparo gastronômico. Aqui encontramos o fascínio, a paixão, a dedicação.

Acho engraçado como às vezes, como leitora, eu admiro esse prazer em ler, e admiro mais quando ouço/leio sobre esses pequenos prazeres que a mim são desconhecidos, como o de simplesmente apreciar uma refeição ou descobrir como funciona um motor de... sei lá, um ventilador (quem sabe?). Quer dizer, a harmonia que isso pode oferecer a uma pessoa e como isso a deslumbra tão fácil.

Isso é visto nas passagens que relatam a relação de Lilian com a mãe, uma compulsiva leitora, que não soube passar sua paixão à filha. Lilian acabou descobrindo por si mesma (e pela força da situação em que a mãe se encontrava) que cozinhar era o clic dava sentido à sua vida. Na verdade, foi uma tentativa dela, ainda menina, em trazer sua mãe de volta: cozinhar era sua esperança. 
As pessoas sorriam ao ver aquela mãe estimulando a imaginação literária da filha, mas Lilian sabia que não se tratava disso. Em sua mente, a mãe era um museu de palavras, e ela, um anexo, necessário quando o espaço no prédio principal estava acabando. [...] Talvez, pensava Lilian, os aromas fossem para ela o que as palavras impressas eram para as outras pessoas – algo vivo que crescia e se modificava.

Para o curso da vez, estavam inscritos oito pessoas: Claire, Cloe, Tom, Antonia, Ian, Carl, Helen e Isabelle, cada um procurando um sentido das coisas sem ao menos estarem mais conscientes disso. Gostei muito sobre com a autora segurou cada persona, apresentando-os conforme seus núcleos. Cada capítulo trata sobre um personagem e a maneira como a Erica fez isso me lembrou muito a Lisa Jewell, em Tempo de Mudanças (resenha aqui). A autora foi muito engenhosa nesse sentido, pois os capítulos amarram, em conjunto ao enredo de aulas, recortes das histórias pessoais, fazendo as aulas mexerem nos cotidianos e isso com uma narração muuuito segura.

A escrita é assim carregada de suaves descrições, comparações e vez e outra se utiliza de umas metáforas que envolvem a vida e o próprio ato de cozinhar. Mexe muito com as sensações, as lembranças, as essências... a magia da coisa toda. E não é forçado, é bem fluente. 
Sovar a massa é como nadar ou caminhar: parte da sua mente se mantém ocupada, enquanto o restante fica livre para ir aonde quiser ou precisar.

A edição traz também umas imagens a cada entrada de capítulo, sempre muito a ver ou com a personagem apresentada, com sua história de vida ou como um ingrediente fazia tanta diferença nesse recorte. Como a capa, fica tudo muito fofo. As orelhas são beeeeem confiáveis e se eu pudesse, copiaria o texto da contracapa, porque é tudo verdade hahaha.

Como a própria sinestesia que reviva nas páginas, o livro é um sussurro de noz-moscada com raspas de chocolate que fazem poeira aveludada. Não a toa essa aura me lembrou bastante os filmes Simplesmente Irresistível e Julie & Julia e... ah, the joy <3

Recomendado àqueles que querem desacelerar o tempo e se perder no fitar de uma gota de chuva que desliza no vidro da janela. 
Nem sempre é fácil diminuir o ritmo de nossas vidas. Mas, se precisarmos de ajuda, temos uma oportunidade natural de reaprender a lição três vezes ao dia.

Até a próxima!

Curta o Dear Book no Facebook
Siga @dear_book no Twitter e @dearbookbr no Instagram


Confira os melhores preços no buscapé:



0 comentários

Postar um comentário

Sua opinião é muito importante para nós! Pode parecer clichê, mas não é. Queremos muito saber o que achou do post, por isso deixe um comentário!

Além de nos dar um feedback sobre o conteúdo, contribui para melhorarmos sempre! ;D

Quer entrar em contato conosco? Nosso email é dear.book@hotmail.com

 
Ana Liberato