sexta-feira, 19 de maio de 2017

Resenha: “O Mundo pelos Olhos de Bob” (James Bowen)

Tradução de Falchetti Peixoto
Por Kleris: Lembro-me da primeira vez que vi o ~Bob. Desci as escadas rolantes do shopping e caminhei para a feirinha de livros que estava rolando (a famosa Feira de Livros do Shopping da Ilha). Era 2013 e a feira era bem acanhada, com espaço reduzido, mas aconchegante pelas boas promos de livros. 

Tenho a leve impressão de que fiquei de bobeira ao adentrar, vez que iria esperar as migas, para conferirmos juntas os livros da vez. Então vi ~Bob, aquela coisinha alaranjada empoleirado numa prateleira  e eu soube que tinha que levá-lo pra casa. Ainda rondei bastante por algum tempo e parece que ~ele estava me chamando. 

Não sei bem se comprei no mesmo dia ou logo no dia seguinte, porque, como eu disse, precisava “adotar” Um gato de rua chamado Bob. Já havia visto resenha aqui no blog sobre, mas ~vê-lo ali despertou todo um feeling.


Bob é aquela estrela que nos chama atenção, e é quando nos aproximamos para um carinho e um dedo de prosa, que descobrimos James. Em Um gato de rua chamado Bob, nos conectamos a essas duas criaturas que não tinham muita expectativa de vida, mas ao se encontrarem, fizeram mais que salvar um ao outro; juntos, eles construíram uma história de humildade, compaixão e esperança. Ao adotar James, Bob, por mais que chame atenção das pessoas, dá vez e voz ao seu dono, uma pessoa já esquecida e ignorada pela sociedade. Se seu histórico de vícios e homem sem-teto o apagara das ruas, Bob, em todo seu carinho, zelo e travessuras, deu cor de volta a James.

O primeiro livro conta justamente os percalços da vida, o encontro de almas das duas figuras e como o brilho de Bob os tornou famosos. Já em O mundo pelos olhos de Bob, continuação da saga de vida, James tenta cada vez mais se restabelecer, tornar-se limpo. Com o tempo, vender a revista The Big Issue não é o bastante e ainda há muita violência ao redor dele. A droga já não é uma tentação, mas um assombro daquele passado; James tenta aos poucos reconstituir o que essas drogas lhe tomaram. Bob ali é mais uma vez sua luz ao fim do túnel. James, por certo, gostaria de entender o que é o mundo pelos olhos de seu gato, sempre tão sensível aos perigos, mudanças e brincadeiras. A dinâmica deles é incrível. Melhor, sincronia. 
Quando comecei a sentar no balde, fiquei com medo de que simplesmente não me vissem ali. Entretanto eu devia ter imaginado: Bob cuidou disso.  Talvez fosse porque eu estivesse sentado com ele a maior parte do tempo, mas durante esse período ele se tornou um verdadeiro showman. No passado, geralmente era eu quem instigava as rotinas divertidas. Porém agora ele começava a tomar iniciativa. [...]
Algumas vezes eu ficava convencido de que ele sabia exatamente o que estava acontecendo. Eu tinha certeza de que sacara que, quanto mais cedo ganhássemos uma quantidade satisfatória de dinheiro, mais cedo poderíamos chegar em casa e eu, descansar minha perna. Era assustadora a maneira como ele entendia.

As questões que mais pesam nesse livro são os valores e vínculos pessoais. James está mais próximo do pai, de Belle, das pessoas. Mas, ao mesmo tempo que ele volta a ser visto, nem todas as pessoas o aceitam. Alguns invejam, outros apenas querem escorraçar, ameaçar e denunciar por pura maldade. Muitas vezes James é chamado ou investigado por denúncias malcriadas. Todas as vezes que alguma autoridade averiguava, não encontrava nada de concreto para prendê-lo. Até Bob vira alvo, infelizmente. A ~fama tem seu preço. 
Então me tornei muito cauteloso com as pessoas. Era triste, porém eu ainda me sentia assim em bastante. Os acontecimentos das duas últimas semanas enfatizaram isso. Alguém tinha feito uma acusação fictícia contra mim. Por tudo que eu sabia, poderia ter sido alguém que eu via todos os dias da semana. Poderia ter sido alguém que eu considerava como “amigo”. 
Mais uma vez, comecei a me perguntar se a fama que Bob e eu estávamos ganhando era uma faca de dois gumes. Mas eu sabia o que tinha que fazer. [...] Estava trazendo à tona o pior das pessoas – e, mais preocupante, estava trazendo à tona o pior de mim.

James também descreve como e quando surgiu a ideia de escrever um livro sobre a história dos dois. Achei interessante como ele, apesar de toda vergonha e culpa pelo seu passado, começa a refletir mais sobre o que aconteceu de verdade, o que lhe dá alguma redenção. A partir de seu relato também se põe em questão como ajudar de verdade outras pessoas, o que está ou não funcionando. Por mais que seja difícil encarar esse darkside de sua história, é o que eles precisam para seguir em frente. 
Eu realmente não queria entrar no lado negro da minha vida. Mas, enquanto conversávamos, ele disse algo que me falou ao coração: podia ver que Bob e eu já fomos almas perdidas, que nos unimos quando estávamos no fundo do poço e havíamos ajudado a consertar a vida um do outro.  — Essa é a sua história, que você tem que contar – sugeriu-me.

O ghost foi bem sensível de capturar a essência da história, só algumas vezes que ele soou muito ghost, sabe? Muitas frases de efeito, como no outro livro. Pra mim, parecia forçar um pouco a barra, mas nada possa incomodar tanto. Afinal, James merece um olhar bem generoso para sua história.

Gostei bastante também de como o livro foi uma maneira de James se comunicar melhor. Principalmente nas relações pessoais, onde as mágoas costumam barrar nossa comunicação. Foi um meio pelo qual ele pôde atingir pessoas como nunca.

O mundo pelos olhos de Bob é, assim, um livro para encantar e emocionar; um presente. É uma leitura agridoce: as duras partes estão entremeadas à bondade, amizade e fidelidade de várias figuras. Torcemos, urramos, enternecemos. Para todos aqueles que dedicam sua vida a ajudar os necessitados e os animais abandonados. Recomendado não ler tudo numa sentada só, pois essa é daquelas histórias para ser sentida, daí lida pouco a pouco. Um toque de fofura são as pegadas de Bob no alto das páginas, seguindo o estilo do livro anterior. O volume 3 já é um pouco diferente – veja resenha aqui. 
Assim, enquanto olhava para Bob interagindo com Gillian, uma parte de mim desejava que minha vida pudesse ser tão simples e sincera como a dele. Ele a conhecera em circunstâncias estranhas, mas imediatamente sentiu que poderia confiar nela. Ele pressentia que ela era uma pessoa decente e então a abraçara como amiga. Eu sabia que não ia ser fácil, e eu precisava fazer isso. Eu precisava ter esse mesmo ato de fé. 
Eis a alegria e a frustração de ter um gato. “Os gatos são um tipo misterioso de camarada – há mais passando na mente deles do que podemos imaginar”, escreveu Sir. Walter Scott. Bob era mais misterioso que a maioria. Sob vários aspectos, era parte de sua magia o que fazia dele um companheiro extraordinário.

Recentemente a história foi adaptada em um filme <3 
Confira o trailer (legendado) abaixo:




Até a próxima!

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Ana Liberato