Tradução de Falchetti Peixoto |
Por
Kleris: Lembro-me da primeira vez
que vi o ~Bob. Desci as escadas rolantes do shopping e caminhei para a feirinha
de livros que estava rolando (a famosa Feira
de Livros do Shopping da Ilha). Era 2013 e a feira era bem acanhada, com
espaço reduzido, mas aconchegante pelas boas promos de livros.
Tenho a leve impressão de que fiquei de bobeira
ao adentrar, vez que iria esperar as migas, para conferirmos juntas os livros
da vez. Então vi ~Bob, aquela coisinha alaranjada empoleirado numa prateleira e eu soube que tinha que levá-lo pra casa.
Ainda rondei bastante por algum tempo e parece que ~ele estava me chamando.
Não
sei bem se comprei no mesmo dia ou logo no dia seguinte, porque, como eu disse,
precisava “adotar” Um gato de rua chamado
Bob. Já havia visto resenha aqui
no blog sobre, mas ~vê-lo ali despertou todo um feeling.
Bob
é aquela estrela que nos chama
atenção, e é quando nos aproximamos para um carinho e um dedo de prosa, que descobrimos
James. Em Um gato de rua chamado Bob,
nos conectamos a essas duas criaturas que não tinham muita expectativa de vida,
mas ao se encontrarem, fizeram mais que salvar um ao outro; juntos, eles construíram
uma história de humildade, compaixão e esperança. Ao adotar James, Bob, por mais que chame atenção das pessoas, dá vez e
voz ao seu dono, uma pessoa já esquecida e ignorada pela sociedade. Se seu
histórico de vícios e homem sem-teto o apagara das ruas, Bob, em todo seu
carinho, zelo e travessuras, deu cor de volta a James.
O
primeiro livro conta justamente os percalços da vida, o encontro de almas das
duas figuras e como o brilho de Bob os tornou famosos. Já em O mundo pelos olhos de Bob, continuação
da saga de vida, James tenta cada vez
mais se restabelecer, tornar-se limpo. Com o tempo, vender a revista The Big Issue não é o bastante e ainda
há muita violência ao redor dele. A droga já não é uma tentação, mas um
assombro daquele passado; James tenta aos poucos reconstituir o que essas
drogas lhe tomaram. Bob ali é mais uma vez sua luz ao fim do túnel. James, por
certo, gostaria de entender o que é o mundo pelos olhos de seu gato, sempre tão
sensível aos perigos, mudanças e brincadeiras. A dinâmica deles é incrível. Melhor,
sincronia.
Quando comecei a sentar no balde, fiquei com medo de que simplesmente não me vissem ali. Entretanto eu devia ter imaginado: Bob cuidou disso. Talvez fosse porque eu estivesse sentado com ele a maior parte do tempo, mas durante esse período ele se tornou um verdadeiro showman. No passado, geralmente era eu quem instigava as rotinas divertidas. Porém agora ele começava a tomar iniciativa. [...]
Algumas vezes eu ficava convencido de que ele sabia exatamente o que estava acontecendo. Eu tinha certeza de que sacara que, quanto mais cedo ganhássemos uma quantidade satisfatória de dinheiro, mais cedo poderíamos chegar em casa e eu, descansar minha perna. Era assustadora a maneira como ele entendia.
As
questões que mais pesam nesse livro são os valores e vínculos pessoais. James
está mais próximo do pai, de Belle, das pessoas. Mas, ao mesmo tempo que ele
volta a ser visto, nem todas as
pessoas o aceitam. Alguns invejam, outros apenas querem escorraçar, ameaçar e
denunciar por pura maldade. Muitas vezes James é chamado ou investigado por denúncias
malcriadas. Todas as vezes que alguma autoridade averiguava, não encontrava
nada de concreto para prendê-lo. Até Bob vira alvo, infelizmente. A ~fama tem
seu preço.
Então me tornei muito cauteloso com as pessoas. Era triste, porém eu ainda me sentia assim em bastante. Os acontecimentos das duas últimas semanas enfatizaram isso. Alguém tinha feito uma acusação fictícia contra mim. Por tudo que eu sabia, poderia ter sido alguém que eu via todos os dias da semana. Poderia ter sido alguém que eu considerava como “amigo”.
Mais uma vez, comecei a me perguntar se a fama que Bob e eu estávamos ganhando era uma faca de dois gumes. Mas eu sabia o que tinha que fazer. [...] Estava trazendo à tona o pior das pessoas – e, mais preocupante, estava trazendo à tona o pior de mim.
James
também descreve como e quando surgiu a ideia de escrever um livro sobre a
história dos dois. Achei interessante como ele, apesar de toda vergonha e culpa
pelo seu passado, começa a refletir mais sobre o que aconteceu de verdade, o
que lhe dá alguma redenção. A partir de seu relato também se põe em questão
como ajudar de verdade outras pessoas, o que está ou não funcionando. Por mais
que seja difícil encarar esse darkside
de sua história, é o que eles precisam para seguir em frente.
Eu realmente não queria entrar no lado negro da minha vida. Mas, enquanto conversávamos, ele disse algo que me falou ao coração: podia ver que Bob e eu já fomos almas perdidas, que nos unimos quando estávamos no fundo do poço e havíamos ajudado a consertar a vida um do outro. — Essa é a sua história, que você tem que contar – sugeriu-me.
O
ghost foi bem sensível de capturar a
essência da história, só algumas vezes que ele soou muito ghost, sabe? Muitas frases de efeito, como no outro livro. Pra mim,
parecia forçar um pouco a barra, mas nada possa incomodar tanto. Afinal, James
merece um olhar bem generoso para sua história.
Gostei
bastante também de como o livro foi uma maneira de James se comunicar melhor. Principalmente
nas relações pessoais, onde as mágoas costumam barrar nossa comunicação. Foi um
meio pelo qual ele pôde atingir pessoas como nunca.
O mundo pelos olhos de Bob
é, assim, um livro para encantar e emocionar; um presente. É uma leitura
agridoce: as duras partes estão entremeadas à bondade, amizade e fidelidade de
várias figuras. Torcemos, urramos, enternecemos. Para todos aqueles que dedicam sua vida a ajudar os necessitados e os
animais abandonados. Recomendado não ler tudo numa sentada só, pois essa é
daquelas histórias para ser sentida, daí lida pouco a pouco. Um toque de fofura
são as pegadas de Bob no alto das páginas, seguindo o estilo do livro anterior.
O volume 3 já é um pouco diferente – veja resenha aqui.
Assim, enquanto olhava para Bob interagindo com Gillian, uma parte de mim desejava que minha vida pudesse ser tão simples e sincera como a dele. Ele a conhecera em circunstâncias estranhas, mas imediatamente sentiu que poderia confiar nela. Ele pressentia que ela era uma pessoa decente e então a abraçara como amiga. Eu sabia que não ia ser fácil, e eu precisava fazer isso. Eu precisava ter esse mesmo ato de fé.
Eis a alegria e a frustração de ter um gato. “Os gatos são um tipo misterioso de camarada – há mais passando na mente deles do que podemos imaginar”, escreveu Sir. Walter Scott. Bob era mais misterioso que a maioria. Sob vários aspectos, era parte de sua magia o que fazia dele um companheiro extraordinário.
Recentemente
a história foi adaptada em um filme <3
Confira o trailer (legendado) abaixo:
Até a próxima!
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