"Minha sorte é que eu escrevo crônicas. Não preciso fingir que sei alguma coisa. Muito pelo contrario: preciso de um exercício diário de ignorância pra nunca deixar de ser leigo. Afinal, o mundo está o tempo todo tentando te empurrar certezas goela abaixo"(Dúvidas de um ignorante)
Por Mari Diniz.
Crônicas não
requerem uma linearidade de leitura, não requerem verdades universais, não
requerem um tempo para serem lidas e não esquecidas. Para as crônicas tudo que
basta é o seu interesse em ler. Caviar é uma ova traz a abordagem de uma
diversidade de temas, em que abre espaço até para o Chaves. Possui um humor
crítico, mas, principalmente, temas políticos.
O foco político do
livro poderia até não agradar alguns. Entretanto, no decorrer da leitura, ele
me fez pensar no porque não pensamos em política. O intitulado Esquerdista
Caviar, Gregorio Duvivier, diferente do que se pode imaginar, não exibe uma
argumentação a fim de convencer o leitor de uma certa posição política. Ele não
busca provar e deixar a certeza de algum ponto de vista, embora explique com
clareza sua opinião. Talvez, Gregorio Duvivier seja um indeciso, cuja sua única
certeza seja que algo precisa mudar.
“Pra começar, caviar não me representa – nunca vi nem comi, só ouço falar. Caviar é uma ova – literalmente. Entendo a metáfora, mas acho que não se aplica a essa nova esquerda hipster que vocês tanto odeiam. Melhor seria Esquerda Maionese Trufada. Esquerda Cerveja Artesanal. Esquerda Bicicleta de Bambu. Aí sim: esse cara sou eu. Ou, pra ser sincero, nem assim. (Serhumaninade)”
Entre os contos, Serhumanidade, seja um dos melhores a
fim de entender a mensagem do livro como um todo. Principalmente, por se tratar
de uma coleção de crônicas. Serhumanidade
busca abordar em uma única crônica temas defendidos por Gregorio contra os
absurdos da desigualdade.
Política se torna
o tema-estrela do livro e rende boas crônicas e bons sorrisos. A ironia de Gregorio
representa aquele Como assim? Ou É isso mesmo? Plantados na nossa cabeça.
A sua ironia ajuda um tanto quanto a pensar, a prestar atenção no que está
acontecendo. Além de se utilizar de metáforas bem desenvolvidas e argumentadas.
Porém, como já mencionado,
a diversidade de temas presente no livro, enriquece ainda mais a coleção. Aliás,
crônica é dia a dia. É cotidiano. O humor encontrado em mínimos detalhes que
nos parece que apenas cronistas conseguem perceber.
“Odeio os carros quando tô a pé. Odeio os pedestres quando tô de bicicleta. Odeio os ônibus quando tô de carro. Odeio os ônibus quando tô de ônibus. Odeio todo mundo quando eu acordo. Odeio cigarro. E odeio quem se incomoda com cigarro quando eu tô fumando. Odeio acordar cedo e odeio acordar tarde. Odeio o Brasil, e odeio, ao mesmo tempo as pessoas que odeiam o Brasil.Tem ódio que não faz o menor sentido. Mas tem ódio que faz. (Que ódio)”
Entre essas
crônicas, algumas das minhas preferidas Sábado
e O céu fica aqui pertinho, tem uma diferente
modalidade de escrita, com uma crônica corrida que tenta seguir ou fluxo de
pensamento, ou melhor, seguir as divagações da mente humana. O que, obviamente,
diverte o leitor e dá um toque especial a crônica.
Além do simples
cotidiano, Gregorio Duvivier ainda dá espaço para permear entre outros assuntos,
principalmente quando se fala da própria linguagem, no qual inclusive aborda o
tema Palavras. Formação, significados e usos.
A leitura de
Caviar é uma ova é sortida e super agradável. As crônicas muito bem escritas
encantam por sua simplicidade e por seu humor inteligente. Mas, como diria
minha vó, principalmente por sua personalidade opiniosa. Livro recomendadíssimo.
“Imagine duas vidas paralelas. Numa delas você gosta da Anitta – ou, pelo menos, a existência dela não te incomoda. Na outra, toda vez que você vê a cara da Anitta você tem engulhos, quando ouve a voz da Anitta o estomago revira, você evita ir a festas porque sabe que vai tocar Anitta. O objeto não gostado acaba ocupando um espaço gigantesco de seu tempo – muito maior que os objetos gostados. Aprender a gostar é, sobretudo, perceber que não vale a pena perder tempo com o que você não pode mudar (Haters gonna hate)”
Aproveitem a
leitura!
Até a próxima,
Mariana Diniz
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Eu amo crônicas, por este simples detalhe de não precisar de nada rebuscado ou repleto de regrinhas.
ResponderExcluirCrônicas são apenas crônicas e devem ser lidas como tal.
Um relato simples e verdadeiro do que se acredita!
Como não conhecia este livro, já quero, é claro!!!
Beijo