sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Resenha: "Caviar é uma ova" (Gregorio Duvivier)


"Minha sorte é que eu escrevo crônicas. Não preciso fingir que sei alguma coisa. Muito pelo contrario: preciso de um exercício diário de ignorância pra nunca deixar de ser leigo. Afinal, o mundo está o tempo todo tentando te empurrar certezas goela abaixo"(Dúvidas de um ignorante)





Por Mari Diniz.   Crônicas não requerem uma linearidade de leitura, não requerem verdades universais, não requerem um tempo para serem lidas e não esquecidas. Para as crônicas tudo que basta é o seu interesse em ler. Caviar é uma ova traz a abordagem de uma diversidade de temas, em que abre espaço até para o Chaves. Possui um humor crítico, mas, principalmente, temas políticos.


O foco político do livro poderia até não agradar alguns. Entretanto, no decorrer da leitura, ele me fez pensar no porque não pensamos em política. O intitulado Esquerdista Caviar, Gregorio Duvivier, diferente do que se pode imaginar, não exibe uma argumentação a fim de convencer o leitor de uma certa posição política. Ele não busca provar e deixar a certeza de algum ponto de vista, embora explique com clareza sua opinião. Talvez, Gregorio Duvivier seja um indeciso, cuja sua única certeza seja que algo precisa mudar.  
“Pra começar, caviar não me representa – nunca vi nem comi, só ouço falar. Caviar é uma ova – literalmente. Entendo a metáfora, mas acho que não se aplica a essa nova esquerda hipster que vocês tanto odeiam. Melhor seria Esquerda Maionese Trufada. Esquerda Cerveja Artesanal. Esquerda Bicicleta de Bambu. Aí sim: esse cara sou eu. Ou, pra ser sincero, nem assim. (Serhumaninade)”
Entre os contos, Serhumanidade, seja um dos melhores a fim de entender a mensagem do livro como um todo. Principalmente, por se tratar de uma coleção de crônicas. Serhumanidade busca abordar em uma única crônica temas defendidos por Gregorio contra os absurdos da desigualdade.

Política se torna o tema-estrela do livro e rende boas crônicas e bons sorrisos. A ironia de Gregorio representa aquele Como assim? Ou É isso mesmo? Plantados na nossa cabeça. A sua ironia ajuda um tanto quanto a pensar, a prestar atenção no que está acontecendo. Além de se utilizar de metáforas bem desenvolvidas e argumentadas.

Porém, como já mencionado, a diversidade de temas presente no livro, enriquece ainda mais a coleção. Aliás, crônica é dia a dia. É cotidiano. O humor encontrado em mínimos detalhes que nos parece que apenas cronistas conseguem perceber. 
“Odeio os carros quando tô a pé. Odeio os pedestres quando tô de bicicleta. Odeio os ônibus quando tô de carro. Odeio os ônibus quando tô de ônibus. Odeio todo mundo quando eu acordo. Odeio cigarro. E odeio quem se incomoda com cigarro quando eu tô fumando. Odeio acordar cedo e odeio acordar tarde. Odeio o Brasil, e odeio, ao mesmo tempo as pessoas que odeiam o Brasil.
Tem ódio que não faz o menor sentido. Mas tem ódio que faz. (Que ódio)”
Entre essas crônicas, algumas das minhas preferidas Sábado e O céu fica aqui pertinho, tem uma diferente modalidade de escrita, com uma crônica corrida que tenta seguir ou fluxo de pensamento, ou melhor, seguir as divagações da mente humana. O que, obviamente, diverte o leitor e dá um toque especial a crônica.

Além do simples cotidiano, Gregorio Duvivier ainda dá espaço para permear entre outros assuntos, principalmente quando se fala da própria linguagem, no qual inclusive aborda o tema Palavras. Formação, significados e usos.  

A leitura de Caviar é uma ova é sortida e super agradável. As crônicas muito bem escritas encantam por sua simplicidade e por seu humor inteligente. Mas, como diria minha vó, principalmente por sua personalidade opiniosa. Livro recomendadíssimo.
“Imagine duas vidas paralelas. Numa delas você gosta da Anitta – ou, pelo menos, a existência dela não te incomoda. Na outra, toda vez que você vê a cara da Anitta você tem engulhos, quando ouve a voz da Anitta o estomago revira, você evita ir a festas porque sabe que vai tocar Anitta. O objeto não gostado acaba ocupando um espaço gigantesco de seu tempo – muito maior que os objetos gostados. Aprender a gostar é, sobretudo, perceber que não vale a pena perder tempo com o que você não pode mudar (Haters gonna hate)”
Aproveitem a leitura!
Até a próxima, 
Mariana Diniz 
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comentários

  1. Eu amo crônicas, por este simples detalhe de não precisar de nada rebuscado ou repleto de regrinhas.
    Crônicas são apenas crônicas e devem ser lidas como tal.
    Um relato simples e verdadeiro do que se acredita!
    Como não conhecia este livro, já quero, é claro!!!
    Beijo

    ResponderExcluir

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Ana Liberato